Não deixe as bancas morrerem

Donos de bancas de jornais e revistas driblam a crise do impresso buscando produtos alternativos para vender

Postado em: 05-03-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Donos de bancas de jornais e revistas driblam a crise do impresso buscando produtos alternativos para vender

ELISAMA XIMENES

Werlen Robson Brandão começa cedo a labuta, afinal, às 7h da manhã tem que estar com a Banca 136 aberta. O estabelecimento roxo em uma das calçadas da Avenida 136, no setor Marista, em Goiânia, tem como atividade principal a venda de jornais e revistas – objetivo para qual elas foram criadas, ainda no século 19, na transição dos jornaleiros, ou ‘gazeteiros’, para lugares fixos. No século 21 e, mais especificamente, nos anos 2010 elas ganham novos significados, e até novas funções, na tentativa de não cair da corda bamba que faz gente duvidar da existência delas em um futuro próximo.

Brandão é um dos que resistem equilibrando-se na corda. Ele, que trabalhava há 12 anos entregando revistas em bancas, resolveu abrir a sua própria há três, quando o antigo dono a colocou à venda. Já Edson dos Santos ostenta 37 anos de gestão da Banca de Revista do Mercado, que fica no Setor Campinas. “Mas essa banca já tem mais de 60 anos de existência”, destaca. No auge dos seus 64 anos, Santos orgulha-se em dizer que trabalha vendendo jornais e revistas desde os 15 anos de idade. Ainda na escola, passou a ajudar o amigo, que vendia revista usada para forrar o chão da feira do bairro, que abria às quintas-feiras e aos domingos. Juntou, então, o útil ao agradável, porque tanto gostava de ler as publicações como precisava de dinheiro.

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Hoje, ele confessa que as coisas mudaram muito. “Eu acho que a renda aqui caiu uns 60 ou 70%”, ressalta. Por esse motivo, teme pelo fim das bancas em Goiânia e a culpa, para ele, é da internet. “As pessoas não lêem mais como antes, e se querem saber de algo procuram na internet, elas vêem aqui comprar os impressos quando tem alguma reportagem muito importante”, afirma. A banca de Werlen, por exemplo, encontrou algumas saídas alternativas para driblar isso. O que mais chama atenção em seu estabelecimento, hoje, além das revistas, são as miniaturas de carros. “Vem gente do interior do Estado comprar aqui, chegam a fazer encomendas”, relata Werlen, que já recebeu gente de Silvânia, Senador Canedo e Morrinhos. As miniaturas correspondem a 40% das vendas.

Na Banca 136, 25% da renda vem com a venda de revistas, outros 11% com a recarga de Sitpass e nos outros 24% ficam os demais itens, como jornais, alimentos, gibis, entre outros. No caso de Santos, seu carro chefe ainda são as revistas de moda, afinal, sua banca fica no meio do pólo de malhas de Goiânia. “Eu já fui considerado o maior vendedor de revista de moda do Estado, vem gente até de outros estados, porque eles vêm comprar tecidos e aproveitam e compram minhas revistas”, relata. Mas, mesmo sendo as revistas de moda as responsáveis pela maior parte de seu lucro na banca, suas vendas também caíram e ele estima que essa queda gire em torno de 70%. 

Além dos colecionadores de carrinhos, a banca de Brandão recebe um público variado, devido à localidade do estabelecimento, porque, além dos moradores, passa gente indo para a escola, faculdade ou para o trabalho, devido à concentração de empresas na região. “Aqui vem crianças para comprar gibi para a escola, adolescentes, quando a escola pede para levar alguma revista, até pessoas idosas”, conta. No caso de Santos, a coisa muda um pouco. Quando tinha 18 anos e abriu sua primeira banca, recebia, também, um público variado. As crianças comparavam gibi por gosto mesmo e os adultos chegavam cedo para comprar o jornal assim que era publicado. “Hoje em dia, o cidadão toma seu café da manhã e abre algum dispositivo eletrônico para ver as notícias na internet, dificilmente compra com a gente”, relata.

A maior parte da clientela de Santos é idosa  –  seja de mulheres costureiras, que compram as revistas de moda, ou de homens e mulheres que preferem sentir a textura da notícia em mãos. Mas, fora as revistas de moda e os jornais, ainda tem quem pare em sua banca para recarregar o celular, o cartão do sitpass, o cartão de estacionamento na área azul e, também, passou a oferecer serviços de chaveiro. Além daqueles que passam por lá para levar uma revista Coquetel, a fim de resolver as cruzadas e caça-palavras. Mas, mesmo que não esteja nos melhores anos de jornaleiro, Santos não se vê fazendo outra coisa. “Sou apaixonado por isso aqui, acho que vou morrer trabalhando em banca de revista”, finaliza.  

Há regulamentação para as bancas de jornais e revistas em Goiânia 

A prefeitura de Goiânia regulamenta as bancas de jornais e revistas por meio da Lei Complementar Nº 014, de 29 de dezembro de 1992. De acordo com o Art. 1º, o código “institui as normas disciplinadoras da higiene pública, do bem-estar público, da localização e do funcionamento de estabelecimentos comerciais, industriais e prestadores de serviços”, entre outros. É por meio dessa LC, que se proíbe a instalação de “bancas comerciais em passeios públicos fronteiriços a estabelecimentos de ensino público e particulares, repartições públicas, hospitais, maternidades e centros de saúde”. 

Além disso, de acordo com Edson dos Santos, dono da Banca do Mercado de Campinas, as bancas de calçadas têm que deixar um espaço considerável para a passagem de transeuntes. Também é proibido colocar qualquer tipo de anúncio ou publicidade nas bancas. Se alguém quiser montar uma, deve, primeiramente, pedir uma autorização de uso do local, expedida pelo órgão responsável na Prefeitura de Goiânia. Conforme Santos mencionou, a lei determina que as unidades devem se localizar a menos de oito metros das esquinas e não ocupar mais da metade da largura do passeio público.

As bancas não podem ter uma altura superior a quatro metros e nem ultrapassar a largura de dois metros. Santos se queixa dessa regulamentação. “Eu queria ter uma banca maior, mais bonita, mas com essas medidas fica difícil, mas o jeito é obedecer”, afirma. Elas também devem estar a um raio de, no mínimo, 100 metros de distância uma da outra se estiverem na primeira zona fiscal, 250 metros, na segunda e 500 metros, na terceira. A lei veta, também, a instalação em rótulas ou áreas remanejadas. As de praça, ainda, podem ter uma largura maior em um metro, ou seja, podem ter três metros de largura. Os donos das bancas devem estar atentos, ainda, à conservação do estabelecimento, higiene, tratamento dos clientes e, inclusive, à sua própria vestimenta. Se houver qualquer quebra da LC, a prefeitura pode retirar a banca do local.

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