Moradores de Senador Canedo reclamam da coleta de lixo

População alega que prefeitura não consegue garantir prestação de serviços básicos

Postado em: 29-05-2017 às 08h30
Por: Sheyla Sousa
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População alega que prefeitura não consegue garantir prestação de serviços básicos

Marcus Vinícius Beck

Calçadas cheias de entulho, cachorros revirando sacos de lixo, sensação total de abandono. Esta é a rotina dos moradores nos setores Prado e Alvorada, na periferia de Senador Canedo, na Grande Goiânia. O Hoje esteve nestes locais na última semana e constatou a falta de regularidade da coleta de lixo e o acúmulo de sujeiras de vários tipos, como sofás, televisores e compensados de madeira.

Apesar da indignação, a população que vive nestes bairros prefere o silêncio, por medo de possíveis represálias. “Com sinceridade, dá nojo de passar pelas ruas daqui. É como viver num chiqueiro”, relata José Paulo Silva, proprietário de uma loja de materiais de construção no Setor Prado e morador do local, há quatro anos. “A coleta era razoável até o ano passado. Agora, nos últimos 20 dias, não passa um caminhão [de lixo] sequer”, protesta.

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A mesma opinião é comungada pela comerciante Maria da Conceição. “Não há coleta de lixo de jeito nenhum por aqui. Estamos abandonados”, assegura. “O lixo aqui é um absurdo”, desabafa o autônomo Pedro Lima. Morador do Setor Alvorada, o aposentado Vando Cardoso Teixeira, por sua vez, não se queixa sobre a periodicidade da coleta do lixo doméstico, porém reclama a falta de recolhimento dos demais resíduos que são irregularmente descartados pela população. “Os objetos ficam ao léu, e podem trazer riscos, como a dengue”, pontua.

Apesar das queixas dos moradores, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Senador Canedo alega que a coleta de lixo na cidade está normal.

O ocaso não é novidade. Em dezembro do ano passado, no apagar das luzes do então prefeito Misael Oliveira (PDT), vários bairros da cidade chegaram a ficar com sacos acumulados nas lixeiras, irritando a população. A resposta da prefeitura à época foi um tanto inusitada: a coleta foi suspensa por falta de recursos financeiros para quitar os salários dos servidores públicos. Ao mesmo tempo, outros serviços, como a iluminação pública, ficaram comprometidos.

Ao assumir a prefeitura pela terceira vez, Divino Lemes (PSD) determinou a organização de um mutirão de limpeza. À época, um efetivo de mais de 150 homens atuou para normalizar a zeladoria urbana. 

Desigualdade

Emancipada politicamente de Goiânia em 1989, Senador Canedo é um retrato da precariedade das chamadas cidade-dormitório. Apesar de um surto de industrialização nos últimos anos, o município ainda depende umbilicalmente da capital goiana e não é incomum ouvir queixas dos moradores sobre a ausência de serviços básicos.

Para atenuar a desigualdade, o sociólogo Dijaci David de Oliveira, diretor do Núcleo de Violência e Criminalidade da Universidade Federal de Goiás (Necrivi-UFG), sugere a criação e funcionamento regulares dos Conselhos Municipais. “Mesmo com poucos recursos, o município precisa saber gastar bem, pois cada centavo tem que ser bem aplicado de modo a trazer retornos céleres à sociedade”, assevera.

O espraiamento urbano, na visão da urbanista Isabel Barêa Pastore, gerente-geral do Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo (CAU-GO), encarece e dificulta a prestação de serviços públicos básicos. “A expansão esparramada impede que o Poder Público possa atuar com eficiência e possui um elevado custo para a cidade no longo prazo”, avalia.

Para ela, os municípios deveriam adotar o modelo de “cidade compacta”, concentrando moradia e serviços em uma mesma região, de modo a reduzir a necessidade de grandes deslocamentos. Isabel também sugere a efetiva aplicação do Estatuto das Cidades e a adoção de medidas polêmicas, como a cobrança progressiva dos Impostos Territorial Urbano (ITU) e Predial Territorial Urbano (IPTU). 

Nova eleição para prefeito não está descartada na cidade 

Os moradores de Senador Canedo podem ser obrigados a voltar às urnas neste ano para eleger um novo prefeito caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acolha os argumentos do vice-procurador-geral eleitoral, Nicolao Dino e casse Divino Lemes, em definitivo.

O pessedista, que governou a cidade de 1997 a 2004, teve o registro cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) a pedido da coligação liderada pelo ex-prefeito Misael Oliveira (PDT) por ter sido condenado por improbidade administrativa.

Terreno doado

Lemes, durante o segundo mandato como gestor municipal, doou uma área pública ao então vereador Vilmar Lima da Silva. À época, o terreno foi avaliado em mais de R$ 3 milhões. O Ministério Público de Goiás (MPGO) protocolou ação civil pública contra Divino Lemes, Vilmar e ouras duas pessoas, posteriormente absolvidas. O ex-prefeito foi condenado em segunda instância à suspensão dos seus direitos políticos, tornando-se, assim, ficha suja.

Dino recorreu da decisão monocrática do Napoleão Nunes Maia Filho, que permitiu ao pessedista tomar posse em janeiro. O Hoje apurou que o processo está na pauta do TSE para ser apreciado nos próximos dias.  O prefeito, através da assessoria de imprensa, informa estar tranquilo e que será considerado inocente. (Mardem Costa Jr.) 

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