Homem que cortou genitália da companheira filmou a ação em Pirenópolis

Elisomar Pereira da Silva foi indiciado por tortura mediante cárcere privado, estupro de vulnerável e oferta de droga para consumo

Postado em: 02-08-2017 às 10h30
Por: Thais Tomás
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Elisomar Pereira da Silva foi indiciado por tortura mediante cárcere privado, estupro de vulnerável e oferta de droga para consumo

A Polícia Civil de Pirenópolis concluiu o inquérito que
apura o caso de tortura e cárcere privado no qual Elisomar Pereira da Silva
agride a então companheira, de 39 anos. O crime chocou o município, e teve
repercussão no Distrito Federal. De acordo com o delegado titular da distrital
e responsável pelo caso, Ariel Martins, a análise mais detida do celular do
autor revelou novos detalhes a respeito da prática de tortura, e mais um
participante do crime foi descoberto.

Constatou-se que antes de o próprio Elisomar fotografar a
vítima em situação na qual colocara pimenta em suas partes íntimas, ele teria
cortado um pedaço de tecido de sua genitália. O agressor filmou a ação. Com a
vítima na garupa de uma moto, lesionada, o autor fugiu para Anápolis através de
uma estrada de terra.

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A investigação apontou também que Múrcio Afonso Pereira, 34
anos, também de Pirenópolis e colega de Elisomar, além de ter tido conhecimento
do que vítima sofrera (recebeu as imagens dos golpes de facão, foto da vítima
com pimenta nas partes íntimas), não apenas deixou de prestar socorro a ela
e/ou comunicar o fato às autoridades, como auxiliou o autor a subtrair-se à
ação da Polícia, além de ter tentado atrapalhar as investigações ao repassar
informações falsas aos policiais que o procuraram.

Elisomar Pereira da Silva foi indiciado por tortura mediante
cárcere privado, estupro de vulnerável e oferta de droga para consumo. Múrcio
Afonso Pereira também foi indiciado por ter prestado auxílio a esses crimes.O
inquérito foi remetido à Justiça, que deverá analisar o caso. As penas dos
crimes praticados por Elisomar, se condenado na máxima cominação prevista, pode
chegar a 28 anos de prisão em regime fechado.

Entenda o caso

Na quarta-feira, 19 de julho, as polícias civil e militar receberam denúncia
anônima de que uma mulher de 39 anos do sexo feminino era torturada por seu
então companheiro de 31 anos e mantida em cárcere privado na Vila Cintra,
Pirenópolis. Logo em seguida, enquanto os policiais civis lotados na Delegacia
de Polícia de Pirenópolis verificavam a procedência daquelas informações, a
Polícia Civil do Distrito Federal encaminhou a mesma denúncia para o e-mail da
Delegacia de Polícia de Pirenópolis, porém, com fotos da vítima lesionada e o
endereço de onde o crime ocorria. Então, aconteceu que os policiais se
deslocaram até o local onde a vítima se encontrava, mas o autor fugiu antes,
levando-a com ele.

O delegado de Polícia, Ariel Martins, solicitou peritos do
Núcleo Regional da Polícia Técnico-Científica de Anápolis no local. O laudo
apontou que havia sangue pelo local e cocaína. “Ainda na quarta-feira por volta
de 20 horas, mesmo encerrado o expediente da delegacia, recebemos uma ligação
da própria vítima. Ela dizia que tudo estava bem e ainda questionava por que a
polícia havia entrado em sua casa. Eu não a conhecia e não sabia se aquela voz
era dela mesma. Cogitei se ela não teria sido obrigada a dizer aquilo. Enfim,
eu apenas respondi que, se tudo tivesse bem, ela comparecesse então à delegacia
para esclarecermos a situação e que nada mais seria tratado por telefone”,
informa o delegado.

A autoridade policial também endereçou pedido ao Facebook
Law Enforcement Reponse Team, na Irlanda, no qual se solicitou fornecimento de
dados às investigações, uma vez que se atentou para o fato de que, na denúncia
recebida, constavam os perfis da vítima e autor. A referida empresa analisou o
pedido e, pela gravidade dos fatos, encaminhou informações relevantes da conta
de ambos ao delegado.

Na quinta-feira (20), a equipe de investigadores, de posse
dos elementos que havia colhido, passou a monitorar os passos do autor e
descobriu que ele e a vítima se encontravam nas redondezas da Vila Jaiara, em
Anápolis, porém, sem a localização exata. Após a Polícia Civil informar aquela
situação ao Poder Judiciário local, com parecer favorável do Ministério
Público, decretou-se rapidamente a prisão preventiva do autor.

“Fui até Anápolis. Tendo em vista que o número de
investigadores em Pirenópolis é pequeno, deixei-os coletando mais informações
nessa cidade. Solicitei ao delegado responsável pelo Grupo de Investigação de
Homicídios (GIH) de Anápolis que me cedesse um investigador, no que fui
atendido prontamente. Também repassei informações a policiais militares do 28º
Batalhão da Polícia Militar, que fica na Jaiara, a fim de que eles tivessem
ciência do caso e ajudassem a prender o autor, caso estivessem em patrulhamento
e o vissem circulando por lá”, relata Ariel.

Descobriu-se também que o autor possuía um irmão e que ele
morava na Jaiara. Os investigadores passaram a monitorá-lo. Àquela altura, o
autor continuava a enviar áudios e fotos da vítima para conhecidos desta. Na
madrugada de sexta para sábado, obteve-se a confirmação de que o autor teria
levado a vítima para a casa de seu irmão. Então, uma equipe composta pelo
delegado Ariel e o investigador Fabiano. Do GIH de Anápolis, em conjunto com
uma equipe de policiais lotados no 37º Batalhão de Pirenópolis, reuniram-se em
Anápolis. Ariel também acionou o Grupo Tático 3 (GT-3), que chegou a Anápolis
em menos de uma hora, prendeu o autor e resgatou a vítima, que foi removida do
local e encaminhada para o hospital pelo Corpo de Bombeiros.

Posteriormente, a vítima passou por exames periciais das
lesões no Instituto Médico Legal de Anápolis. Ao que tudo indica, ela sofreu
uma perfuração nas nádegas aparentemente ocasionada por uma faca (ou objeto
semelhante) e apresentava diversos hematomas que teriam sido provocados por
golpes com a lateral da lâmina de um facão. Ela relatou tudo que sofreu em suas
declarações.

Na Delegacia, o irmão do autor e sua companheira disseram
que não desconfiavam das agressões, pois trabalham muito e não ficavam muito
tempo em casa. O delegado decidiu colher o depoimento deles e liberá-los. Pelo
que foi apurado, o autor pediu ao irmão para que se ficasse lá uns dias. Ele
ligava o som e mantinha a vítima dentro do quarto, a fim de que ninguém
percebesse nada.

Áudios

Em um dos áudios supostamente enviados pelo autor por meio do aplicativo
WhatsApp, ele dizia: “Ela já tomou banho… tá quietinha… só quebrei um facão nas
costas dela… pus pimenta [nas partes íntimas dela] e tudo. Dei uma sossegada
boa nela, mas assim já tá de boa, tomou banho, nós já tamos conversando já, tá
de boa”. De acordo com declarações da vítima, o autor resolveu agredi-la para
que ela confessasse uma suposta traição. Em razão das agressões que sofria,
acabou confessando algo que não fez. Foi por conta disso que ele gravou áudios
e tirou fotos das lesões da vítima, encaminhando esse conteúdo para conhecidos
dela em Brasília, referindo-se à mesma com palavras de baixo calão.

“Uma emissora de TV de Brasília entrou em contato comigo.
Cheguei a enviar um vídeo meu para eles transmitirem, dizendo que tudo estava
sendo averiguado sem poder revelar maiores detalhes. Pedi que levassem aquilo
tudo com cuidado e que não divulgassem em Goiás, pois temia que o autor
soubesse que a Polícia continua em seu encalço e fugisse novamente”, afirmou o
delegado. Segundo a vítima, os planos do autor eram de comparecer na segunda-feira
(24) com ela à delegacia e dizer que estava tudo bem, a fim de evitar qualquer
consequência penal.

A vítima também afirmou que teve oportunidade e pensou em
matá-lo, mas desistiu. Ela já havia registrado em 2016 uma ocorrência na
Polícia Civil do Distrito Federal, por conta de ameaça e agressões leves do
autor, ocorridas em Pirenópolis. Contudo, ele teria feito a vítima desistir de
prosseguir com aquela denúncia. 

Goiás Agora

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