Mais crianças com acesso à escola

Aumenta frequência de crianças nas salas de aulas, em contrapartida, números mostram redução na participação de professores na rede pública de ensino básico

Postado em: 11-10-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Mais crianças com acesso à escola
Aumenta frequência de crianças nas salas de aulas, em contrapartida, números mostram redução na participação de professores na rede pública de ensino básico

Marcus Vinícius Beck* 

Continua após a publicidade

Entre 2005 e 2015, a taxa de frequência escolar dos brasileiros entre 4 e 5 anos, saltou de 62,8% para 84,3%. O número de escolas acompanhou o crescimento, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Goiânia teve um aumento de 6,4% na quantidade de unidades escolares nesse período. Especialistas afirmam que o cenário indica avanço no processo de universalização do acesso à educação, mas muito ainda precisa ser feito. 

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em pesquisa realizada em 2015, estimam que Goiânia tenha 166 escolas. O último censo, que foi lançado em 2005, informou que a capital possuía 156 escolas. Ao todo, 67.993 alunos estão matriculados em instituições de ensino na Capital.

No levantamento, também foi apresentado redução na quantidade de professores, com 3.289. Já em 2005, as salas de aula tinham mais docentes, contabilizando 4.617. Para a pedagoga Rosene Almeida, que trabalha numa escola na zona norte de Goiânia, os números evidenciam a crise educacional pela qual o país vem passando. Segundo ela, o professor não possui nenhuma autonomia em sala de aula. “Passamos por uma crise de valor, e o resultado disso se vê na política, por exemplo”, lamenta.

O estudante José Augusto, 9, estava sentado no chão esperando sua vez para jogar futebol em seu momento recreativo. “Gosto de estudar aqui”, ele. O menino, assim como vários alunos de uma escola da região, integra parte da nova busca dos pais por ensino integral. Porém, essa forma educacional ainda gera discussão entre especialistas sobre sua eficiência. “Mesmo que eu dê o máximo de amor para os meus alunos, não vai substituir o dos pais”, afirma Almeida. 

Com isso, a pedagoga salienta que os pais, temerosos pela inversão de valores, optam por matricular seus filhos em escolas militarizadas. “Não sou crítico à polícia, mas eles não são pedagogos”, esclarece.  “Atualmente, estamos vendo os pais correrem atrás do ensino militar para os seus filhos. Porém, deve-se ter em mente que o aluno respeita esse tipo de ensino não pela qualidade, e sim porque o respeito que é imposto”, declara. 

Escolas

Entre 2005 e 2015, a taxa de freqüência escolar dos brasileiros entre 4 e 5 anos saltou, indicando avanço no processo de universalização do acesso à educação. De acordo com pesquisa da Síntese dos Indicadores Sociais, que foi feita com base em na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o número de alunos que integram o ensino fundamental aumentou de 62,8% em 2005 para 84,3% em 2015. 

Nem sempre alunos são críticos ao modelo de ensino adotado pelas escolas. Na verdade, esse estigma não existe há anos. Por isso, a estudante Dominique Carneiro é fã do colégio em que estuda. Ela afirma que a diversão de seu cotidiano é ir à aula para participar “da oficina” recreativa. “Há várias coisas legais por aqui”, diz.

Pesquisas da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) informou que o Brasil é um dos países que menos investe em educação no mundo. Atualmente, a união gasta US$ 3.800 (R$ 11,7, em reais) por aluno do primeiro ciclo do ensino fundamental. 

Entre os países analisados no estudo, somente seis gastam menos com alunos na faixa de dez anos de idade do que o Brasil. A Argentina, por exemplo, desembolsa U$ 3.400. Nos anos finais do ensino fundamental e médio, a situação não é diferente. O Brasil gasta anualmente a mesma soma de U$ 3.800 por aluno nessa fase da formação, e também figura entre os últimos dos 39 que disponibilizaram dados a respeito. 

Alfabetização

A Base Nacional Comum Curricular, que foi alterada pelo Ministério da Educação no início do governo de Michael Temer (PMDB), prevê que a alfabetização deve acontecer nos dois primeiros anos do ensino fundamental. Segundo o documento, no final desse período, a criança já deve ser capaz de “ler, com autonomia e fluência, textos curtos, com nível de textualidade adequado”. Já o Plano Nacional de Educação (PNE) orienta que a meta de alfabetizar crianças seja até o fim do 3° ano do ensino fundamental.  

Desigualdade social reflete nos índices de escolaridade infantil 

As escolas não oferecem aos alunos de baixa renda oportunidade de ascensão social. Ao contrário, chegam até a reforçar as diferenças educacionais carregadas desde o ambiente familiar. Em Goiás, de acordo com a professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Amone Inácia, não é diferente. “Os dados do analfabetismo reverberam na população pobre”, declara ela. 

Com a precariedade do ensino público em Goiás, os estudantes, ao oposto dos de escola privada, saem do ensino médio e vão trabalhar no futuro em algum emprego cujas condições serão insalubres. Segundo Inácia, embora o ensino público tivesse de garantir formação educacional de qualidade à população, as empresas de gestão empresarial são direcionaram o ensino público para o trabalho mal-remunerado. 

Ela lembrou ainda que a Base Nacional Comum Curricular, que dividiu discussões acerca do tema, tem a finalidade de fazer com que o governo local mude seus programas de acordo com as orientações. Mas, diz ela, a Constituição e a Lei de Diretrizes e Bases são incisivas, e dizem que as esferas governamentais são responsáveis pela gestão dos fundos financeiros.

Gestão

“Sem financiamento não há condições gerais de garantia do plano nacional de educação. Ficamos como doentes terminais a espera de um milagre, que no cenário atual, não vem”, finaliza. 

Marcus Vinícius Beck é integrante do programa de estágio do Jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades, Rhudy Crysthian

Veja Também