Baixa escolaridade do brasileiro ainda é desafio

58 milhões dos brasileiros com mais de 18 anos não têm o Ensino Fundamental completo e outros 13 milhões não sabem ler e nem escrever

Postado em: 15-01-2018 às 09h10
Por: Kamilla Lemes
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58 milhões dos brasileiros com mais de 18 anos não têm o Ensino Fundamental completo e outros 13 milhões não sabem ler e nem escrever

Enquanto milhares de crianças e jovens pelo Brasil a fora ainda curtem as férias escolares em janeiro, adultos que não tiveram a oportunidade de estudar ou se descuidaram da educação quando eram mais novos, correm atrás do tempo perdido. Tão logo o ano começou e o eletricista Evandro Nunes de Souza, 37 anos, já está com seus cadernos, lápis e canetas apostos para começar o ensino médio, isso depois de ter concluído no final do ano passado a última etapa do ensino fundamental, ou seja o 9º ano.

Evandro é um dos 13 alunos que frequentam as salas de aulas montadas nos canteiros de obras da Dinâmica Engenharia, em Goiânia. Há mais de 30 anos, a construtora oferece a modalidade de ensino para Educação de Jovens e Adultos EJA para seus operários, por meio de uma parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi). Ao aproveitar a oportunidade dada pela empresa onde trabalha, o eletricista procurar fugir de uma triste estatística que ainda persegue nosso país, apesar dos avanços na educação nos últimos anos. Mesmo com a queda da taxa de analfabetismo entre maiores de 15 anos na última década, o Brasil permanece entre os dez países do mundo com maior número de analfabetos adultos, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

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Dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) de 2014 revelam que há no Brasil mais de 81 milhões de pessoas com mais de 18 anos e que não têm uma escolaridade que chegue ao Ensino Médio completo. Destes, 58 milhões não têm o Ensino Fundamental e cerca de 13 milhões de pessoas nessa faixa etária não sabem ler ou escrever (analfabetismo absoluto).

Os números acima fazem com que a iniciativa da Dinâmica Engenharia, em oferecer a oportunidade para que seus colaboradores recuperam o tempo perdido da educação, seja ainda mais louvável. Desde os anos 90, por meio de sua parceria com o Sesi, a empresa já formou mais de 750 alunos nos ensinos fundamental e médio.

Mais qualificado

Mais do que uma questão de auto-estima, o aluno Evandro Souza sabe que um maior nível de instrução escolar é também sinônimo de mais e melhores oportunidades de trabalho. “Quem não se atualiza e busca crescimento intelectual fica para traz. Eu tenho 37 anos e precisava disso, tenho o sonho de fazer faculdade de engenharia elétrica, e estou correndo atrás para conquistar”, ressalta o eletricista.

Sobre estudar durante o período de férias o empolgado aluno diz não se importar e afirma que a prioridade é concluir os estudos o mais breve possível.  “Vamos terminar o ensino médio no início de 2019, então pra mim quanto mais rápido melhor, quero mais é que tenhamos muitas aulas e eu consiga alcançar meus objetivos o quanto antes”, comenta.

Evandro diz que voltar à sala de aula ajudou até mesmo na sua vida pessoal. “Hoje consigo ensinar o dever de casa da escola para meu filho de 11 anos, algo que antes não sabia fazer. Me sinto muito orgulhoso por isso”, conta.

A gestora de Recursos Humanos da Dinâmica Engenharia, Luciana Lima, também certifica essa maior qualidade do colaborador e maior crescimento profissional, quando o mesmo consegue melhor seu nível de estudo. “A empresa também ganha muito com o projeto, pois assegura uma mão de obra muito mais qualificada e ciente de seu trabalho. Hoje com novos processos e tecnologias que chegam a construção civil isso é muito importante”, avalia a gestora.

Emoção

“Até então nunca tinha vivenciado uma formatura na minha vida já nessa idade, então foi um momento em que me emocionei muito, me senti muito orgulhoso e feliz”. O depoimento emocionado é do encarregado de instalações da Dinâmica Engenharia, Osvaldo Silva, 54 anos, que após a conclusão do 9º ano também já está frequentando as aulas do Ensino Médio. Para ele, voltar à sala de aula depois de 32 anos longe dos estudos foi um grande desafio, mas que foi alcançado com o forte apoio de sua família. “Minhas filhas e a esposa sempre me incentivaram a estudar. Elas me ajudaram com as atividades e algumas dúvidas que surgiam em casa”, lembra.

O próprio Osvaldo admite que buscou, inicialmente, o projeto do EJA mais para se adaptar à novas tecnologias na obra, mas agora ele não quer parar e já se prepara para o ensino médio. “No começo eu queria era mais ter uma instrução melhor para aprender usar alguns equipamentos que já temos na obras, como os tablets. A melhora do desempenho na leitura também foi muito conveniente tanto na minha vida profissional quanto na pessoal”, conta o encarregado.

(Foto: Reprodução)

 

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