Goiânia registra 3 possíveis casos de suicídio envolvendo jogos na web

Vítimas seriam crianças e adolescentes. Polícia investiga casos e analisa possível relação com jogos de incitação, semelhantes à Baleia Azul

Postado em: 26-02-2018 às 16h55
Por: Márcio Souza
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Vítimas seriam crianças e adolescentes. Polícia investiga casos e analisa possível relação com jogos de incitação, semelhantes à Baleia Azul

Guilherme Araújo*

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Na última sexta-feira (23), a morte do jovem Gabriel Carrijo Cunha Câmara, de 13 anos, chocou Goiânia. O jovem teria deixado mensagens em tom de despedida em um grupo no WhatsApp e se jogado, logo em seguida, do décimo andar de um prédio no Setor Nova Suíça. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o adolescente não resistiu aos ferimentos e morreu antes mesmo da chegada dos soldados.

O caso, no entanto, causa estranheza ainda maior já que recai sob a suspeita de que somente ao longo da última semana outros 2 casos semelhantes de suicídio, envolvendo crianças e adolescentes, tenham acontecido. Um deles teria acontecido no mesmo dia em que Gabriel teria se jogado pela janela do apartamento da avó, de acordo com conversas obtidas junto a grupos de WhatsApp.

O HOJE teve acesso ao inquérito de um dos casos, que diz que a vitima estava no colégio Interamérica, situado em bairro nobre da capital. No entanto, não teria saído no horário junto aos irmãos, como era de costume. Em seguida, dirigiu-se à casa dos avós, no Edifício Pontal do Sol, no Setor Nova Suíça, onde teria deixado parentes preocupados pelo conteúdo de mensagens publicadas em um grupo no WhatsApp.

Como a avó do garoto estava em viagem para o Rio de Janeiro, a mesma solicitou que uma amiga da família, que também tinha as chaves, fosse ao apartamento e conferisse se estava tudo bem. Chegando ao local, a mulher, apelidada de Giovana Nascimento, constatou no escritório um buraco na tela de proteção, tendo comunicado aos parentes imediatamente a queda do garoto.

Em declarações feitas a parentes próximos, o pai da vítima relatou que o garoto não tinha histórico de depressão ou doença patológica e que gastava boa parte do tempo em jogos online e usando o tablet. O pai do garoto suspeita que o filho participasse de grupos suspeitos de jogos de desafios.

Investigações

A polícia apura o caso, o único confirmado até o momento, para saber se se trata de um caso de suicídio consumado ou se o jovem possa ter sido vítima de algum tipo de incitação, geralmente por meio de jogos feitos nas redes sociais – primeira hipótese levantada.

Quem dirige as investigações é o delegado Thiago Alexandre Martimiano, adjunto da Delegacia Estadual de Investigações em Homicídios (DIH). Em números gerais, dados da Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) apontam que somente em 2018 foram contabilizados 16 casos de suicídio no Estado.

Segundo o psicanalista especializado em psicologia positiva, Anderson Carlos de Oliveira, os pais podem perceber que a situação não anda bem a partir de eventuais mudanças de comportamento na criança ou no adolescente. “Geralmente a pessoa fica muito envolvida com jogos e surgem alguns sinais. É possível notar olhos vidrados, expressões assustadas, como se alguém estivesse a observando ou a perseguindo, mas é preciso atenção. Algumas crianças são hábeis em disfarçar sentimentos”, afirma.

Para ele, muito se comenta sobre um estado de vigia a que os pais devem ter com os filhos. No entanto, seria preciso mais. “Neste contexto, o ideal seria dedicar tempo para a pessoa. Suponhamos que o pai ou a mãe tire 30 minutos para o filho. No entanto, dentro deste período deve-se estar desligado de qualquer outra preocupação ou conexão, a fim de que seja fortalecido um laço, um vínculo com a criança ou o adolescente”, atitudes que segundo Oliveira, trazem maior confiabilidade e, logo, clareza de sinais de problemas aparentes.

Anderson ainda afirma que a ausência do convívio social é outro ponto delicado. “Os pais precisam saber o que está tomando essa atenção. Neste caso específico, estamos falando do uso do computador, do celular, do tempo de jogo ou mesmo de conversas na internet”, explica. Em janeiro deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a reconhecer, pela primeira vez, o transtorno por videogame como doença mental, adicionando-o à próxima edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), sem atualizações desde 1990.

Panoramas

Na mesma data em que Gabriel teria se matado, uma outra criança, que não teve nome nem idade revelados, teria sido vítima de enforcamento. Tanto ela, quanto Gabriel teriam destruído aparelhos eletrônicos antes de cometerem o ato. Ambos os casos lembram um jogo misterioso que em meados de 2017 lançou luz sobre o tabu do suicídio infantil, intitulado Baleia Azul. Entre as regras, crianças e adolescentes eram obrigadas por anônimos a se mutilar ou a atentarem contra a própria vida. 

*Guilherme Araujo é integrante do
programa de estágio do jornal OHoje.com, sob a supervisão de Naiara
Gonçalves

Foto: Reprodução  

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