Elite da GCM ainda é desconhecida

Pouco conhecida, a Romu conta com 70 homens que são treinados nos Batalhões do Bope e Rotam. Rotina de policiais inclui exercícios físicos e patrulhamento

Postado em: 05-03-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Pouco conhecida, a Romu conta com 70 homens que são treinados nos Batalhões do Bope e Rotam. Rotina de policiais inclui exercícios físicos e patrulhamento

Marcus Vinícius Beck*

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Desde que começou a portar arma de fogo, em 2014, a Guarda Civil Metropolitana (GCM) recuperou 983 veículos roubados em Goiânia. A corporação possui uma tropa de elite que é acionada em casos extremos, mas que ainda é completamente desconhecida pela população. Com a função de aprimorar a segurança oferecida no âmbito municipal, a Rondas Ostensivas Municipais (Romu) porta armamento pesado, pistolas, revólveres e bombas de efeito moral, além fazer rondas pela Capital em pontos que possuem grande aglomeração de pessoas.

A reportagem de O Hoje esteve no batalhão da Romu, na Vila Aurora, na tarde da última sexta-feira. No local, a equipe percebeu que havia apenas quatro caminhonetes no pátio, que são usadas nas operações realizadas pela tropa. Agentes dispõem de alojamento para descansar e sala com livros, jornais e revistas. No mural, em frente à cozinha, havia várias notícias que foram publicadas na imprensa na última semana sobre casos que envolviam mortes e desaparecimentos. Mesas enfileiradas com cerca de dez a doze cadeiras são onde os 72 policiais podem almoçar e tomar o café matutino e vespertino. 

Há dois anos na Romu, o agente Júlio de Souza Moraes, 41, relatou que sua rotina é repleta de labores físicos. Logo ao chegar ao batalhão, ele pratica duas horas de educação física. Após as atividades, sai às ruas para fazer o patrulhamento de locais públicos, como escolas e praças. “Além disso, temos de seguir uma doutrina que rege nosso comportamento dentro e fora do batalhão”, diz. Sobre a aceitação de seu trabalho, o agente afirmou que o reconhecimento por parte da sociedade vem aos poucos. “É um trabalho de formiguinha que realizamos dia após dia”. 

Essa também é a rotina do agente Claudiomar Lima de Souza, 45. Atualmente, ele está prestando serviços administrativos na corporação, mas sempre que sobra um espaço nos carros de patrulha Lima ocupa a vaga. “Não fico preso apenas ao administrativo, também realizo trabalho de campo com os outros colegas”, afirma. Ele explicou que o trabalho da Romu tornou-se mais aceito pela sociedade nos últimos tempos, pois, de acordo com ele, houve maior adesão por parte da população, que passou a procurá-los em detrimento a Guarda Civil convencional. “Antes as pessoas não conheciam o agrupamento”, finaliza. 

Desconhecimento

Apesar de surgir com a finalidade de reforçar o patrulhamento feito pela Guarda Civil Metropolitana (GCM), a Ronda Ostensivas Municipais (Romu) ainda é pouco conhecida em Goiânia. A reportagem de O Hoje perguntou aos cidadãos goianienses se eles tinham conhecimento do trabalho desenvolvido pela corporação. Muitos, ao receberem a informação sobre a existência da tropa, ficaram impressionados, e mostraram-se ser entusiastas da tropa. Outros teceram críticas sobre um possível abuso de poder por parte dos policiais. 

Ao pôr os pés para fora do batalhão da Romu, a equipe de reportagem conversou com o auxiliar de vendas João Paulo, 24. Admirador da tropa de elite da Guarda Civil, ele afirmou que o trabalho feito pela Romu é fundamental para a dizimação da violência na Capital. “Isso vem tomando conta de nossa cidade e algo tem de ser feito, porque senão daqui a pouco estaremos nas mãos de criminosos”, diz. “É fundamental o trabalho feito pela Romu na Capital, uma vez que a criminalidade atingiu níveis altíssimos”. 

Já o ponto de vista do coletor de lixo Wesley Rodrigues, 24, é completamente contrário ao de João Paulo. Crítico da tropa de elite, Wesley ponderou que é preciso ficar atento aos possíveis excessos de violência que são promovidos pelos agentes. “Se eles forem à periferia certamente o uso da violência será um, e em lugares de rico, outro – isso se houver alguma abordagem deles lá”, reflete. Por outro lado, afirmou o coletor de lixo, a criminalidade ganhou força nos últimos anos. “Hoje, por exemplo, vi um cara com uma arma numa das avenidas mais movimentadas de Goiânia”, avalia. 

Regulamentação

A Rondas Ostensivas Municipais (Romu) foi regulamentada por meio da portaria 362/2015, que autoriza a atividade desenvolvida pelas Guardas Civis de várias cidades do Brasil. Criada a partir da extinção dos grupos Garra (Grupo de Ações e Respostas Rápidas) e GPC (Grupo de Proteção ao Cidadão), a Romu proporciona ao guarda civil de carreira por meio do curso de Intervenções Táticas Especiais (Cite), que conta com 380 horas, a oportunidade de integrá-lo à tropa. No curso são ministradas aulas de Legislação, Gerenciamento de Crises, Direitos Humanos, Grupos Vulneráveis, Intervenções Táticas, Abordagens Táticas e Patrulhamento Tático. 

“Guarda Civil passou a ser respeita depois de andar armada”, diz porta-voz 

Os números de capturas de foragidos pela Rondas Ostensivas Municipais (Romu) atingiram 198 desde que a tropa começou a andar armada, em 2014. De acordo com o porta-voz da Romu, Valdson Batista, esses resultados representam o respeito que o cidadão tem quando os policiais carregam uma arma. “Infelizmente, o cidadão passa a respeitar quando algum  policial anda armado”, explica. 

Batista ainda destacou que, ao ser abordado preventivamente pela Romu, as pessoas vem tento uma postura mais respeitosa e ponderada em relação a quando os guardas não portavam armas. “Eles estão respeitando nosso trabalho”, diz. Por outro lado, o contingente de homens ainda é pouco e há um projeto para que a tropa seja expandida. Atualmente, no cadastro de reserva, há 52 homens aptos a desenvolver o trabalho na força.

O agente Júlio de Souza Moraes, 41, disse que a população vem conquistando, aos poucos, a confiança da sociedade no trabalho desenvolvido pela corporação. “Conquistamos a aceitação da sociedade aos poucos, tanto que muita gente liga direto para nós, ao invés de telefonar para a GCM”, diz. Com foco no policiamento tático, o grupamento possui a incumbência de combater a violência, e é acionada em casos em que há necessidade, ou risco, de alguma manifestação de cunho violento. 

Inteligência 

O serviço de inteligência da Romu possui doze pessoas, mas a corporação evita passar quaisquer informações sobre seu trabalho reservado. No início deste mês, um homem de 59 anos foi preso em Goiânia suspeito de aplicar golpe em mais de 40 pessoas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Para chegar até o suspeito, a Romu recebeu informações por meio de seu serviço de inteligência de que ele estaria na Capital. Encontrá-lo num supermercado no conjunto Riviera foi apenas um detalhe.

No momento da prisão, o homem tinha onze números diferentes de Cadastro de Pessoa Física (CPF), que usava para pôr em prática seus golpes, variando os sobrenomes com a intenção de dificultar caso fosse identificado. As primeiras denúncias do suspeito datam de 2013. Ele se preparava para dar um novo golpe no mercado em que foi preso. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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