Lucro doce do chocolate

Período é a quarta melhor data para o comércio do país, ficando atrás apenas do natal, do Dia dos Namorados e o Dia dos Pais

Postado em: 17-03-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Lucro doce do chocolate
Período é a quarta melhor data para o comércio do país, ficando atrás apenas do natal, do Dia dos Namorados e o Dia dos Pais

Gabriel Araújo*


A crise econômica que assola todos os setores produtivos do Brasil desde o ano de 2014 foi duro com as datas comemorativas, e com a páscoa não foi diferente, nas duas últimas edições as vendas amargaram quedas e ficaram abaixo do esperado, mas este ano, a expectativa é diferente. Empresas contrataram mais e se prepararam com investimentos em novas estruturas. Agora, apenas algumas semanas antes da data, a espera é grande.

Continua após a publicidade

Segundo a Associação Brasileira da indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (ABICAB), o consumo de chocolate aumentou 8% este ano, o que revela uma pequena recuperação no setor que sofreu com quedas constantes nos últimos anos. Em Goiás, a Federação do Comércio do Estado (Fecomércio) prevê um aumento nas vendas no período da páscoa, o que dever ser o primeiro resultado positivo em quatro anos. 

A Fecomércio afirmou, em pesquisa, que espera que a venda de ovos de chocolate cresçam de 2 a 3% em relação ao ano passado. “Os números nos levam a crer que será um ano melhor que o ano passado, no Natal já obtivemos um aumento nas vendas, o que representa uma possível melhora”, afirmou o presidente do órgão, José Evaristo dos Santos.

No ano de 2017, as indústrias brasileiras de chocolates investiram em produtos com preços mais baixos devido à queda nas vendas causada pela recessão. No período, a expectativa era de um aumento de 10% nas vendas, o que não se confirmou já que as vendas cresceram apenas 2,2%. Em volume de produtos, houve queda de 38% nas vendas, chegando a 9 mil toneladas, o equivalente a 36 milhões de ovos.

No final do último mês de fevereiro, durante as preparações para a Páscoa deste ano, a Lacta, empresa brasileira de chocolates, abriu mais de duas mil vagas de empregos temporários em todo o país para a produção de ovos de chocolate. A ação parte da expectativa do aumento nas vendas neste ano, que vem apresentando uma leve melhora em relação ao ano passado.

O período vem oferecendo menos vagas temporárias desde 2014, quando somente 2.100 vagas foram disponibilizadas em Goiás. Na época, os dados representaram uma queda de 40% em relação ao ano anterior, outro dado que caiu nos últimos anos foi o salário oferecido no período, que chega a R$ 1.100.


Grandes Empresas

Este ano, as grandes produtoras de chocolate esperam uma recuperação lenta das vendas. A fabricante e varejista nacional Cacau Show, por exemplo, espera um crescimento de 20% na receita de vendas neste ano. A empresa ainda espera produzir 9,5 mil toneladas de chocolate somente para a páscoa, o que equivale a um aumento de 8% em volume em relação ao ano passado. 

A empresa argentina Arcor prevê um aumento de 5% no volume de vendas para a data. Segundo a empresa, 17 produtos foram lançados este ano e a faixa de preço diminuiu para até R$ 49,99 a unidade. A Nestlé é outra empresa que reduziu os preços este ano, os ovos de páscoa desta temporada estarão com preços até R$ 20 a unidade. A expectativa também é de uma manutenção nas vendas deste ano em comparação com 2017.


Goiânia

A expectativa de aumento nas vendas pode não ser a melhor, mas os investimentos estão começando e as empresas aguardam para iniciar as vendas. A produtora de ovos de chocolate de Aparecida de Goiânia, fábrica Dianju, efetuou a contratação de 22 novos funcionários e espera um aumento de 20% nas vendas em relação ao ano passado.

A expectativa também é grande para a confeitaria da empresária Mariana Perdomo, que espera um aumento de 50% nas vendas em relação a 2017. “Nós esperamos o ano inteiro para a páscoa, então dois meses antes já começamos as contratações para adiantarmos processo de produção. Embalagens, por exemplo, já começamos a procura cinco meses antes da páscoa”, afirmou.

De acordo com Mariana, a confeitaria contratou novos funcionários e agora são 30 pessoas trabalhando na produção dos doces. “Os produtos são de produção caseiras e artesanais, não possuem conservantes. Este ano esperamos aumentar a equipe em quase 40%”, completou.

Mariana começou a produção de ovos em 2013, trabalhando em casa com receitas artesanais. “A produção continua da mesma forma, agora tenho ajuda para a fabricação em uma escala maior”, concluiu.

Segundo o gerente Comercial de Mercearia do Bretas, Kleber Melo, a rede de supermercado Bretas espera uma melhora no faturamento este ano. “Esperamos vender mais de R$ 100 mil neste período com os itens de chocolate”, afirmou. De acordo com o órgão, a queda da inflação, somada a juros mais baixos e à retomada de confiança do consumidor, são responsáveis pelo crescimento nas vendas no varejo. 


Maioria da população consome chocolate com frequência  

De acordo com o IBOPE Inteligência, cerca de 75% da população brasileira consome chocolate e 35% não troca o chocolate por outro alimento ou bebida. Em um estudo realizado pela organização Leatherhead Food Research, o brasileiro consome 2,5 quilos de chocolate por ano, o Sul do país é a região do país onde as pessoas mais comem chocolate, são 4,5 kg/ano, enquanto o Nordeste aparece com um consumo médio anual de 1,2kg.

Ainda segundo a pesquisa, o chocolate faz parte do carrinho de compras da maioria dos brasileiros. Depois da Páscoa, o inverno, Natal e Dia dos Namorados são os períodos em que o consumo aumenta, são 23%, 16% e 11%, respectivamente. 

Um fator interessante é a escolha do produto que, para o estudo, o tipo de chocolate e a embalagem são mais importantes do que a marca e o preço, 58% dos entrevistados afirmaram que o sabor ao leite é o favorito dos brasileiros.

A pesquisa afirma que o prazer e a satisfação são as principais sensações obtidas ao se comer chocolate. Não é a toa que 88% dos consumidores compram o produto para consumo próprio.

Segundo a pesquisa, os países que mais consomem chocolate no mundo são a Suíça, com 11,9 kg/ano, a Irlanda, com 9,9 kg e o Reino Unido, com 9,5 kg anualmente. O Brasil ficou abaixo dos 20 primeiros países.


Valor

Os preços dos ovos de chocolate este ano estão entre R$ 9,99 até R$ 99,99. A previsão é que o valor médio do consumidor na hora de levar o ovo de Páscoa para casa fique na casa de R$ 30. “O contexto econômico vem melhorando e a gente entende que isso vai repercutir na Páscoa”, explicou o gerente Comercial de Mercearia do Bretas, Kleber Melo.

Estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) afirmou que o ovo de chocolate é o terceiro item com maior carga tributária entre uma lista de produtos típicos do período de Páscoa. Com uma taxa de 38,53%, o ovo fica atrás somente do vinho (54,73%) e o bacalhau (43,78%).


Crise

Segundo a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, instituição que faz parte do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, a produção de chocolate está em risco. Para os especialistas, as árvores necessárias para a produção do doce só crescem um condições específicas, como a alta umidade. Tal ambiente está em risco devido ao aumento da temperatura previsto para os próximos 30 anos.

Os possíveis déficits na produção de chocolate estão ligados, portanto, ao aquecimento global, que deve fazer com que o mercúrio no solo aumente, resultando na diminuição da água presente no próprio solo e nas plantas e diminuindo assim as chuvas em diversas regiões. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian). 

Veja Também