Terminais livres de ambulantes

Antes cheio de vendedores irregulares, terminais passaram a ser mais seguros, de acordo com usuários do transporte coletivo. Outras medidas devem continuar

Postado em: 20-03-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Terminais livres de ambulantes
Antes cheio de vendedores irregulares, terminais passaram a ser mais seguros, de acordo com usuários do transporte coletivo. Outras medidas devem continuar

Marcus Vinícius Beck*

Continua após a publicidade

Após ações do Comando de Policiamento da Capital (CPC), os vendedores ambulantes não estão nos terminais do Eixo-Anhanguera em Goiânia. As plataformas de embarque que antes eram repletas de pessoas vendendo utensílios com preço abaixo do encontrado nas bancas de comissionados estão vazias. Usuário do transporte coletivo que conversaram com O Hoje na tarde de ontem afirmam que a iniciativa trouxe mais segurança, mas retirou dos ambulantes o direito de trabalhar.

A reportagem percorreu os terminais Novo Mundo, Praça da Bíblia e Praça A e constatou que a presença da Policia Militar (PM) expulsou os vendedores ambulantes. Funcionários da RedeMob disseram que depois das ações da PM o clima que impera nesses locais é tranquilidade, o que não era possível antes da retirada dos vendedores. Essa afirmativa foi confirmada por guardas que fazem a ronda nos terminais. Um deles que conversou com nossa equipe afirmou que os casos de roubo, furtos e tráfico de drogas diminuíram.

No terminal Praça da Bíblia, no Setor Leste Vila Nova, famoso por concentrar uma grande quantidade de ambulantes, não foi possível vê-los ontem. A reportagem contou que havia mais de 10 policiais com fardadas escritas “Embarque Seguro” acompanhadas de quatro viaturas que se encontravam estacionadas no meio da pista de embarque.  A mesa cena também foi vista no terminal Praça A, no setor Campinas. Antes, o ponto era tido pelos ambulantes como lucrativo, porém agora está vazio.

O comandante de policiamento da Capital, coronel Ricardo Mendes, disse que houve redução no número de ocorrências comparadas com o período em que os terminais estavam sem policiamento. “Após a saída deles dos terminais registrou-se uma diminuição no número de crimes”, afirma. Sobre as ações de segurança e ordem nos terminais, o coronel explicou que a polícia é responsável apenas por assegurar que a lei seja aplicada. “No que diz respeito ao embarque e desembarque, a PM apenas fez com que as filas passassem a ser organizadas”.

Conforme antecipou O Hoje em meados do mês passado, a presença dos policiais nos terminais tem como função garantir que haja diminuição nos casos de violência. Na ocasião, ambulantes, ao contrário que muitos pensam, também se colocaram a favor das medidas de segurança. Eles afirmaram que eram alvos das ações de criminosos tanto quanto os usuários que desembarcam nos ônibus e roubam carteiras, celulares e dinheiro.

Passageiros

Usuária assídua do transporte coletivo, a auxiliar de administração Andreza Batista, 19, disse que a retirada dos ambulantes podem ser interpretadas de duas formas. “A ação da PM foi ruim para os ambulantes, e boa para a população”, afirma Batista, dizendo que antes da medida da Polícia Militar era difícil identificar quem era trabalhador e quem estava ali com o propósito de roubar e furtar os transeuntes. “Em função disso, creio que foi uma escolha inteligente das autoridades”, completa, enquanto esperava sua linha no Terminal Praça da Bíblia.

Por outro lado, a recepcionista Jéssica Marinho Alves, 26, afirmou que os ambulantes foram prejudicados pela medida. Ela declarou que antes eles estavam ganhando seu sustento honestamente e agora a única saída deles é protestar. “Na verdade, para mim tanto faz essa escolha de expulsá-los dos terminais. O problema, no entanto, se dá quando eles começarem a praticar atividades criminosas, como furtar, roubar e traficar entorpecentes, para tentar conseguir um dinheiro para sobreviver”, diz.

Relatos indiferentes também foram ouvidos pelo O Hoje. Ex-pedreiro, Sinclisio do Nascimento, 67, contou que foram feitas escolhas pontuais para garantir a segurança de quem passa pelo terminal Praça da Bíblia. “Antes, é claro, a coisa era bem pior do que o registrado atualmente. Porém, minha crítica é de que quando os policiais forem embora daqui os vendedores ambulantes irão voltar e irão continuar vendendo seus produtos como se nada tivesse acontecido”.

Protesto

Na última quinta-feira (15), vendedores ambulantes protestaram no Terminal Praça da Bíblia contra a Operação Não Entra, que tem como intenção retirá-los do local. Insatisfeitos, eles organizaram manifestações em que reivindicavam o direito de trabalhar. Em nota, a Federação Autônoma dos Trabalhadores (FAT) disse que os “ambulantes que trabalham na Região Metropolitana de Goiânia estão sendo alvo de uma forte repressão do governo estadual, municipal e das empresas de ônibus que os expulsaram dos terminais”.

Os protestos aconteceram após o Ministério Público de Goiás (MP-GO) abrir inquérito para investigar a comercialização de produtos nos terminais sem licença. As manifestações ocorrem em vários lugares da Capital onde chegaram a atrapalhar o trânsito e pedir que seus direitos fossem assegurados. Por meio de nota, a RedMob, consórcio que administra os terminais e plataformas do Eixo-Anhanguera, disse que “a presença dos camelôs e ambulantes torna os pontos de embarque mais desorganizados”. 

Maioria aprova presença da polícia nos terminais 

A RedeMob, consórcio que administra o Eixo-Anhanguera, informou ontem que 81,3% dos usuários do transporte coletivo são a favor da Operação Não Embarque. De acordo com a empresa, 96,8% dos usuários compactuam com a presença da Policia Militar (PM) nos terminais da Região Metropolitana de Goiânia. Após o anúncio da PM em fevereiro de que a desordem era danosa para a segurança da população, o consórcio realizou uma pesquisa de aceitação em que foram ouvidas mais de 443 pessoas.

De acordo com os dados, a maioria dos passageiros de ônibus da Grande Goiânia concorda que a presença de ambulantes traz insegurança e desordem aos terminais. Ainda conforme a pesquisa, estabeleceu-se que a população apoia as ações para coibir a violência da Polícia. A Policia Militar vem atuando na retirada dos ambulantes dos terminais de integração ao longo do Eixão. Por fim, o consórcio ratificou que o “trabalho da Polícia Militar no combate às atividades ilegais dentro dos terminais têm obtido excelentes resultados”.

Outros terminais

No último mês, vendedores ambulantes elogiavam o trabalho da Polícia Militar. Para eles, a presença da polícia era fundamental para que segurança nos terminais fosse retornada. No entanto, a PM vem desde o final do ano passado tentando acabar com comércio ilegal nos terminais. Na época, camelôs diziam que excesso de força eram corriqueiros e suas eram apreendidas. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

Veja Também