Prédios descartam água nas ruas

Moradores reclamam que água das piscinas dos prédios vão parar nas ruas em torno do Parque Flamboyant. Problema é antigo, mas ainda não teve solução

Postado em: 18-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Moradores reclamam que água das piscinas dos prédios vão parar nas ruas em torno do Parque Flamboyant. Problema é antigo, mas ainda não teve solução

Marcus Vinícius Beck*

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A água escoada irregularmente dos prédios no entorno do parque Flamboyant, na região sul de Goiânia, continua sendo problema levantado pelos moradores da região. O tema já se tornou um velho companheiro das ruas do Jardim Goiás, mas sua presença não é das mais agradáveis. A Prefeitura de Goiânia, ainda na gestão do ex-prefeito Paulo García, lançou uma obra que pretendia corrigir a drenagem nos subsolos dos quase 20 empreendimentos que o local possui. No entanto, o que era para ser uma melhoria não teve o efeito prático esperado. 

O asfalto da Rua 56, que conta com buracos visíveis em frente aos prédios do Parque Flamboyant, segue em situação aquém do ideal. De acordo com a presidente da Associação dos Moradores do Entorno do Parque Flamboyant (AMEPark), Luiza Barbosa de Oliveira, a água jogada nas ruas pelas construtoras, sujando as vias e gerando perfurações no asfalto, segue sendo o principal motivo de reclamação dos moradores, já que o fluído atirado no asfalto pode prejudicar o lençol freático da região. “Os problemas aqui são sempre os mesmos”, diz. 

Moradora do local há cinco anos, e crítica dos problemas relacionados à falta de drenagem, a publicitária Luisa Rocha, 22, disse que gosta de morar no entorno do Parque Flamboyant, mas destacou que o local está “em situação crítica” por conta da água que escorre na rua. Para ela, é necessário que haja uma iniciativa por parte do Poder Público para resolver o impasse ambiental e mantê-lo em conformidade com a orientação do Ministério Público. “Gosto daqui, e penso que seja fundamental uma iniciativa que melhore a questão da drenagem”. 

Por meio de nota, a Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) disse que já “houve, sim, reclamações relacionadas a água jogada na rua” no entorno do Parque Flamboyant. A pasta ainda afirmou que “é importante que as pessoas liguem para a Amma, no número 161, e denunciam os fatos de tal natureza” para que a água da piscina não seja jogada mais nas ruas em frente aos prédios da região. 

Problema antigo

Em 2010, a Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) entregou um documento em que apontava irregularidades na drenagem da água na região do entorno do Parque Flamboyant. O documento pontuou que, dos 17 empreendimentos que se tinha à época, nove enfrentavam problemas no processo de evaporação e licenciamento ambiental. Um ano depois o Ministério Público de Goiás (MP-GO) propôs uma ação civil pública onde pedia que fosse feito manejo das águas subterrâneas que abastecem o lençol freático da região. 

Por conta disso, em dezembro daquele ano, o promotor Maurício Nardini alertava para o crescimento do índice de impermeabilização do solo. A partir de então, vários prédios foram erguidos e o problema não foi solucionado. Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que tinha o objetivo de instalar um sistema de infiltração e retenção na área, chegou a ser assinado. Dentre as obrigações que continha no documento, constava a instalação de trincheiras, captação das águas pluviais e aproveitamento das águas de afloramento. 

No entanto, em 2014, a promotora Alice Freire atendeu as queixas dos moradores da região e instalou mais um inquérito civil público com a intenção de apurar os problemas ambientais. As reclamações incluíam lançamento de água emergente de lençol freático à via pública, mesmo problema de agora, que desemboca no próprio Parque Flamboyant. Freire também atendeu as denúncias de degradação ambiental, além de problemas de drenagem pluvial que, dentre outras coisas, podem prejudicar a mobilidade urbana na região. 

A reportagem entrou em contato com a 7° Promotoria do Ministério Público do Estado de Goiás para checar em que pé anda a ação civil pública, mas até o momento não houve um desfecho e está longe de tê-lo. De acordo com a promotoria, o pedido de amortecimento do Parque Flamboyant foi atendido pela Amma, porém ainda haverá uma audiência no próximo dia 16 para discutir o saneamento da ação. 

Localizado próximo ao Estádio Serra Dourada, o Parque Flamboyant foi inaugurado em setembro de 2007. Ele conta com dois lagos, de fonte luminosa, ponte de madeira, mirante, parque infantil, ciclovia, pista de Cooper, estação de ginástica, caminho internos. Possui aproximadamente 125 mil metros quadrados, que pertencia ao shopping Flamboyant. Parque recebe atualmente manifestações culturais, como apresentação da Orquestras Sinfônica de Goiânia, e sua região concentra vários bares e restaurantes.  

Relatório aponta que situação das nascentes do Parque gerou assoreamento 

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU) apontou em estudo que a situação das nascentes do Parque Flamboyant provocou o assoreamento e a introdução de lixo nos dois lagos. De acordo com o relatório, durante o período em que o parque foi criado, realizou-se a retirada dos resíduos que haviam no local. O Plano Diretor de Goiânia prevê que a permeabilidade mínima do local deve ser de até 15%. “Neste aspecto, o problema instaurado com a ocupação do Parque Flamboyant é ainda mais grave se considerarmos que todos os edifícios instalados no entorno, possuem pelo menos um nível de subsolo”, afirma. 

Atualmente, o solo do parque encontra-se “totalmente descaracterizado”. Segundo a pesquisa, o solo original, rico em matéria orgânica, já sofre com problemas relacionados à materiais exóticos. “A introdução deste material comprometeu bastante as nascentes do Parque, provocando o assoreamento e a introdução de lixo dentro dos dois lagos”, diz o relatório. 

Outros parques

Outros parques na Capital também apresentam o mesmo problema. No Lago das Rosas, por exemplo, algas estão na superfície da água no Lago das Rosas e podem causar estragos às espécies aquáticas que vivem no parque. Em grande escala, elas geram falta de oxigênio e evitam a entrada de luz solar, o que pode provocar a morte de peixes e outros animais. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor Rhudy Cristhyan) 

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