A aventura de caminhar livre

A caminhada é uma atividade física que pode ser feita na rua, nos parques ou livre, na natureza.Mas é preciso cuidado antes de começar

Postado em: 21-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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A caminhada é uma atividade física que pode ser feita na rua, nos parques ou livre, na natureza.Mas é preciso cuidado antes de começar

Shirlene Álvares*

Caminhada, trekking, hiking. Três nomes diferentes para uma mesma atividade física que ganha novos adeptos todos os dias. Basta dar o primeiro passo e o que era preguiça se torna um vício. Um bom vício, bem explicado. Todas buscam o mesmo objetivo, o que diferencia é a distância a ser percorrida. Trekking é a caminhada com pousos durante o trajeto e hikingé de curta duração.É um esporte que cabe em todos os bolsos e sem discriminação de idade.Pode ser feita na rua, nos parques ou livre, na natureza.Mas é preciso cuidado antes de começar, pois não é recomendado para quem sofre de “doenças coronarianas graves não tratadas”, informa a médica cirurgiã cardíaca, Sara Bahia Leite.

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Outra recomendação da especialista é que se faça uma avaliação médica antes de praticar qualquer atividade física e o tempo ideal para uma boa caminhada é de “40 minutos diários”. Sara Bahia destaca como benefícios após a prática da caminhada a “melhora no condicionamento físico, o estímulo à liberação de endorfinas que agem sobre o humor, causando a sensação de bem-estar. No sistema circulatório e cardiopulmonar age como propulsor aliviando dores estabelecendo condicionamento cardiorrespiratório”.

Em Goiânia, há vários grupos que se reúnem, principalmente nos finais de semana, para a prática de caminhada, um deles é o Grupo Pés no Cerrado Trekking, que está completando um ano. O grupo conta com três coordenadores que juntos escolhem os locais onde serão realizadas as trilhas, planejam a aventura e orientam os participantes durante o trajeto. Os trekkers, como se identificam no grupo, já trilharam no Santuário Ecológico Olhos D’Água; na Serra Estadual de Jaraguá; no Morro Feio, em Hidrolândia; nas cachoeiras Meia Lua e Usina Velha, em Pirenópolis; na Chapada dos Veadeiros; e na Floresta Nacional de Brasília, além de parques da Capital. A próxima viagem é para o Pico das Bandeiras, em Minas Gerais, no final deste mês.

Luciano Pires é um exemplo de ex-executivo de multinacional que transformou o trekking em estilo de vida. Ele tinha um sonho: trilhar os caminhos do Everest, o pico mais alto do mundo. Ele trocou a gravata e o paletó pela mochila, fez treinamento, contato com pessoas de outros países que fariam os caminhos do Everest, marcou as férias, despediu-se da família e foi pra lá – o Campo Base do Everest em 2001, a mais de 5.000 metros de altura, no Nepal. Depois transformou seu relato em um livro, onde conta a emocionante história desta aventura, sem heroísmos, sem sustos, sem super-homens escorregando e morrendo no gelo. 

Luciano narra toda a trajetória desde o momento da decisão de ir, a preparação, toda viagem e, principalmente, as experiências aprendidas pra uma vida inteira. Em uma das suas falas, ele conta as dificuldades da superação em concluir o sonho e escreve que “subir é também saber descer”. E a história não parou, em 2006 ele foi ao Aconcágua, mas não conseguiu concluir o feito de chegar ao topo das Américas. 

Luciano explana sempre em suas palestras que foi ‘irremediavelmente picado pelo bichinho da aventura’. Em 2008, ele conheceu o Polo Norte. “As pessoas me perguntam o que mudou em minha consciência ecológica, em minha percepção sobre o aquecimento global com a viagem ao Pólo Norte e eu digo: nada! Fui um e voltei o mesmo. Mais encantado, mais assombrado, mais elucidado, mais deslumbrado com o que vi. Mas com as mesmas convicções de que estamos falando do resfriado em vez de tratar da pneumonia. E que tem muita gente interessada nessa falta de foco da discussão.”

Saúde aliada ao prazer

A Contadora de Histórias da Secretaria Estadual de Educação e Cultura,Shirlene Álvares explica que tudo começou com um diagnóstico de hipotireoidismo. “Foi um sinal de alerta de que precisava praticar alguma atividade física, mas não tenho paciência com academia”, confessa. Então veio o convite para trilhar na Serra das Areias, em Aparecida de Goiânia. “Foram os 14km mais difíceis da minha vida, pois não tinha preparo físico e a respiração era inadequada, a fadiga e o cansaço quase me fizeram desistir, mas na semana seguinte, estava de novo trilhando no Parque Altamiro de Moura Pacheco”, revela entusiasmada. Do primeiro passo, ela teve a ideia de criar o grupo, e como não tinha experiência, juntou-se a dois trilheiros experientes, e juntos coordenam o grupo, que hoje conta com mais de 450 membros no Facebook e mais de 200 no WhatsApp.   

Os outros coordenadores do grupo são o microempresário e estudante de engenharia, Kleyverson Araújo, e a analista de sistemas, Fabiana Duarte. Ambos são veteranos em aventuras e têm bagagem internacional. Kleyverson participou do Stone Mountain CircuitGeorgia/USA,percurso de 9 km, realizado em 4 horas.Participou ainda da Travessia das 7 praias Ubatuba SP, do Circuito Mares Ubatuba SP;da Trilha da Serra do Salitre MG e da Trilha do Morro do Canal Piraquara PR. “O trekking passou de uma diversão para um estilo de vida. Muitas pessoas me perguntam, qual a graça de andar no meio do mato? A resposta é simples: existe uma sintonia muito grande entre mim e a natureza e o trekkingé o melhor meio que encontrei de estar perto dela”, explica Kleyverson.

Mais experiente do grupo,Fabiana Duarte, ou Fabi, como é mais conhecida, é apaixonada por aventuras. Percorreu a Europa de bike, nos quase 500 km da Travessia dos Alpes pela Via Claudia Augusta, que sai de Munique, na Alemanha, passando pela Áustria, Suíça até Veneza, na Itália. Também se aventurou pela Espanha e Portugal. Na América do Sul, já carimbou o passaporte e foi se aventurar na Argentina, Chile e Bolívia, onde, em fevereiro, subiu o Chacaltaya, um dos picos da Cordilheira dos Andes, com 5,421 metros de altitude.No Brasil, além das várias opções em Goiás, Fabi já trilhou na Serra Fina, em Minas Gerais, e na Ilha Grande, no Rio de Janeiro.

A convite do Grupo de Caminhadas de Brasília, ajudou na demarcação das trilhas da Floresta Nacional de Brasília, dentro do projeto Caminhos da Flona, inaugurado no dia 24 de março deste ano.Como coordenadora do grupo Pés no Cerrado, Fabi compartilha as experiências vividas e procura sempre motivar quem está iniciando na atividade. “Trekking é estilo de vida e todos um dia fomos iniciantes e sempre seremos. Sempre terá alguém que trilha mais do que eu e sempre terá alguém que está começando. A graça disso é nos colocar à disposição e ajudar sempre”, ensina. 

Praticantes afirmam que atividade traz diversos benefícios 

Trekking (caminhadas com pousos durante o trajeto) ou hiking (caminhadas de curta duração) não importa. Veterano ou iniciante, o que vale é se soltar no meio do mato, sentindo o ar puro da natureza, descobrindo novos lugares e, sim, fazendo novos amigos. E cada novo caminho percorrido é um desafio a ser vencido e uma memória a ser guardada.

É o caso da funcionária pública Maria Zélia Pinheiro. A primeira trilha que participou foi no Parque Antônio de Moura Pacheco, no início do ano. “Foi difícil, mas não o suficiente para me fazer desistir, pelo contrário, assumi como um desafio e hoje é a única coisa que me faz sair da cama às 6h da manhã num final de semana ou feriado. Termino uma já pensando na próxima”, assume. 

Com várias mães participando das trilhas, o grupo começou a organizar trajetos de curta duração aqui mesmo em Goiânia para que elas pudessem levar os filhos e a iniciativa fez sucesso. Os pequenos não decepcionam, pelo contrário, seguem na frente guiando os trilheiros. O mascote da turminha é Mário Maciel Cardoso, de apenas 2 anos, mas com a natureza registrada no DNA.Segundo a mãe, a auxiliar administrativa Hiulla Constantino Maciel, viver a natureza é uma experiência que começou na infância, com o pai, e o filho Mário foi gerado em um acampamento no meio do mato. “Então, levá-lo a fazer trilha é só uma consequência”, diz.

Caminho de Cora 

Recém inaugurado, o Caminho de Cora Coralina está na agenda de trilhas do Pés no Cerrado. O trajeto criado pelo Governo de Goiás refaz a estrada e o percurso usado pelos bandeirantes, na era da exploração do ouro. Os quase 300 km do Caminho de Cora, inspirados no Caminho de Santiago de Compostela, começam em Corumbá de Goiás e terminam na Cidade de Goiás, passando por Cocalzinho, Pirenópolis, São Francisco, Jaraguá, Itaguari e Itaberaí. “Estamos estudando qual a melhor forma fazer essa trilha, considerando que há pessoas mais e menos experientes no grupo e muitos já demonstraram interesse em participar”, afirma Shirlene.

Grupo Pés no Cerrado Trekking

Pés no CerradoTrekkingnasceu no mês de abril de 2017 com objetivo de aproximar pessoas que amam e curtem colocar os pés no mato pra trilhar visando o contato sustentável com a natureza, oportunizando pessoas amigas a conhecer e reconhecer qualidade de vida em meio a roteiros de trilhas já mapeados, fomentando também, mas não unicamente, atrativos turísticos, isso porque o Estado de Goiás tem o cerrado como referência de bioma natural e cidades turísticas com responsabilidade socioambiental, sendo que a nossa maior riqueza é o Parque Nacional Chapada dos Veadeiros, dentre outros tantos parques ambientais que precisam de preservação do homem. (Shirlene Álvares, especial para O Hoje)  

Dicas básicas para tornar as trilhas e caminhadas mais fáceis, seguras e prazerosas: 

Use botas ou tênis específicos para caminhada, confortáveis, resistentes e com solado antiderrapante. 

Prefira as roupas de tecidos sintéticos que são mais leves, secam mais facilmente e facilitam a transpiração. 

Use bastões de caminhada, eles ajudam a distribuir o peso entre as pernas e braços, além de aumentar a estabilidade.

Verifique a previsão do tempo para não ser pego de surpresa e use protetor solar mesmo em dias nublados.

Leve água e alimentos, como barras de cereais, chocolates, frutas secas e castanhas. Existem também alimentos específicos como proteínas e carboidratos em barras e gel.

O mais importante: respeite seus limites, não exagere na distância e no peso acarregar. 

 

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