Dia Nacional da Adoção tardia faz crescer fila de espera por lar

Aumenta número de crianças e jovens ‘mais velhos’ à espera de uma família adotiva

Postado em: 25-05-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Aumenta número de crianças e jovens ‘mais velhos’ à espera de uma família adotiva

O número de histórias de vida de crianças e jovens que crescem em abrigos é cada vez maior. Em 25 de maio, data em que se comemora o Dia Nacional da Adoção, as atenções estão voltadas para os jovens que ainda vivem em abrigos e não conseguiram uma família. De acordo com dados do Cadastro Nacional de Adoção, mais de 45 mil crianças e adolescentes estão acolhidos no Brasil, 7 mil estão cadastrados. Porém, a maioria é formada por crianças com mais de cinco anos de idade. Os números refletem um cenário em que jovens crescem dentro dos abrigos e não têm para onde ir quando completam 18 anos.

Com 14 anos, a J.P.A mora no Lar Abrigo Sol Nascente, em Itumbiara. No local há três anos, a jovem ainda sonha em encontrar uma família para seguir em frente. “Eu tenho vontade de sair daqui porque eu acho que todo mundo tem que ter uma família. Acho que tudo mundo tem que ter um pai, uma mãe, alguém por perto para ter carinho e amor. Não é que aqui não tenha, aqui tem até demais, mas ter uma mãe e um pai por perto é bom”, desabafou.

A adolescente lembra como foi parar no local, há três anos. “Morava com a mãe biológica, ai o Conselho Tutelar me pegou porque eu fui abusada pelo meu pai adotivo e pela minha mãe”. A jovem faz cursos durante alguns dias da semana para tentar amenizar o tempo longe da família. “Faço informática, administração, inglês, dança e estudo. Agradeço muito a Deus porque se eu tivesse na minha família biológica eu não faria esse tanto de coisas que eu tenho aqui”, afirmou.

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Segundo o cadastro de adoção, existem hoje 5 vezes mais pretendentes do que crianças disponíveis para adoção. Mas se o número de pessoas querendo adotar é maior do que o de crianças cadastradas por que muitas delas completam 18 anos ainda em instituição de acolhimento? A resposta vem do juiz da 1ª Vara Cível e da Infância e da Juventude de Itumbiara, Sílvio Jacinto Pereira, ao destacar que muitas vezes o que dificulta o processo de adoção é o perfil escolhido pelas famílias. De acordo com ele, a maioria dos pretendentes busca por recém-nascidos, de cor branca, sexo feminino e sem irmãos, e essa não é a realidade encontrada nos abrigos.

“Devido a questão do perfil, os casais que pretendem adotar fazem uma escolha e já definem o perfil que via de regra é a preferência por crianças de até 3 anos e no máximo 5 anos de idade, saudáveis e que não sejam grupos de irmãos. Por outro lado, há o que chamamos de pirâmide invertida, ou seja, a maioria das crianças e adolescentes que está nos abrigos esperando encontrar o pai e a mãe tem mais do que 5 anos, boa parte tem irmãos porque advém de um contexto sociofamiliar disfuncional”, explicou o magistrado.


Adoção Tardia 

O caso da adolescente de 14 anos caracteriza a chamada adoção tardia, de quem está acima dos três anos de idade. Os números de demanda e procura ainda são bem distantes. Enquanto 75% dos disponíveis para adoção têm mais de 10 anos, por exemplo, apenas 2% dos que querem adotar se propõem a cuidar de alguém nessa faixa etária, de acordo com dados do Cadastro Nacional de Adoção.

Ainda segundo os dados, a maior parte das crianças disponíveis para adoção no País – cerca de 60,89% – tem mais de 10 anos de idade, mas 82,20% das pessoas que querem adotar aceitam apenas crianças menores de cinco anos.

Assim, as chances da jovem de 14 anos e dos meninos de 6 serem adotados são mínimas. “O desafio é muito grande e é preciso que as pessoas entendam e se sensibilizem que elas podem ser felizes na condição de pais e de mães mesmo com uma criança que tenha 5, 6 anos de idade ou mais. O nosso desafio é convencer essas pessoas que na adoção a situação de pai e de mãe ela acontece independentemente da idade da criança adotada”, salientou o juiz Sílvio Jacinto.

De acordo com ele, o abrigo é uma relação institucional, não é uma relação familiar. A relação que se tem nestes locais é: criança, adolescente com educador, com diretor, com o profissional. Para o magistrado, as instituições de acolhimento não são espaços adequados para que ela tenha a relação familiar em nível de profundidade que se tem dentro de uma família. (TJGO) 

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