Haitianos descobrem mercado goiano

Nacionalidade tem a maior participação entre vínculos empregatícios no mercado formal em Goiás

Postado em: 19-06-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Nacionalidade tem a maior participação entre vínculos empregatícios no mercado formal em Goiás

Cejane Pupulin


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Muitos estrangeiros, à procura de mais qualidade de vida e até mesmo fugindo de catástrofes ambientais, buscam no Brasil trabalho para se estabilizarem.  No mercado de trabalho formal goiano, os vínculos de profissionais estrangeiros atingiram 1.365 em 2014, passaram para 1.746 em 2015 e recuaram 12,5% em 2016, totalizando 1.528 carteiras assinadas. Os números são do Comitê de Políticas de Migração do Estado para imigrantes e refugiados da Secretaria Cidadã.

Os dados mostram que o número de homens é superior ao de mulheres. Eles representavam mais de três quartos do total em todos os períodos analisados pelo Comitê, enquanto as mulheres, com exceção de 2016, eram menos de 20%.


A procedência

Em Goiás, a maioria dos trabalhadores estrangeiros é de origem de países da América Latina. A participação desse grupo no mercado de trabalho formal goiano cresceu de 44,62%, em 2014, para 57,59% em 2016. Em seguida, estão os europeus e asiáticos, com 24,91% e 8,79% em 2014 e 18,91% e 10,27% em 2016, respectivamente.

Mas o destaque das imigrações no Estado são os haitianos. Segundo os dados do Comitê da Secretaria Cidadã, os cidadãos desta nacionalidade elevaram consideravelmente o número de latino-americanos no mercado formal, sendo a nação com a maior participação entre vínculos empregatícios em Goiás. Em 2014, os imigrantes haitianos representavam 16,85%, subiu para 30,47% em 2015 e 30,17% em 2016.

Já os imigrantes de Portugal, Espanha e Bangladesh também tiveram uma participação considerável. Os chilenos e os bolivianos apareceram pelo menos uma vez entre as cinco nacionalidades com maior número de pessoas trabalhando em Goiás, sendo que o Chile tinha 3,81% do total em 2014 e a Bolívia 4,35% em 2015 e 3,60% em 2016.

Nacionalmente, segundo a Coordenação Geral de Imigração (CGIg), do Ministério do Trabalho,  apenas no 1º trimestre de 2016 foram emitidas 8.066 carteiras de trabalho para estrangeiros, destes, 3.397 –  o que representa 42,11% – são haitianos. Já em 2017 foram 7.989 carteiras, 3.017 são para haitianos, quase 38% das carteiras de trabalho.

O Brasil foi um dos principais destinos dos haitianos a partir de 2010, somando-se a destinos tradicionais como Estados Unidos, Canadá e República Dominicana. Em torno de 4,5 milhões de haitianos – quase metade da população – vive no exterior em busca de estabilidade política e social, além das catástrofes naturais como o terremoto.

A formação acadêmica é outra questão. A maioria dos vínculos dos estrangeiros no mercado formal goiano é de pessoas que possuem mais que a educação básica. Para se mensurar, em 2016 mais de 70% tinham terminado ao menos o ensino médio, os que possuíam apenas o ensino fundamental completo totalizavam 17,02% e os com curso superior completo, mestrado ou doutorado, somavam quase 27% do total de 2016. 


Indústria e serviços são os setores que mais absorvem mão de obra estrangeira  

Os setores com a maior quantidade de vínculos de estrangeiros entre os anos de 2014 e 2016 em Goiás foram os de serviços, indústria de transformação e comércio. Juntos, os três concentraram mais de 80%, dos quais, em 2016, 40,73% eram vínculos do setor de serviços, 24,62% de indústria de transformação e 19,63% do comércio.

Já a Região Metropolitana de Goiânia tem a maior concentração dos trabalhadores estrangeiros no mercado formal do Estado, representando 58,02% dos vínculos de empregos dos imigrantes internacionais em 2014, 61,97% em 2015 e 64,46% em 2016. Em segundo lugar, o Centro Goiano também concentra uma quantidade considerável de estrangeiros no mercado formal, variando de 20,37% em 2014 a 15,84% em 2016.

Já os municípios de Goiânia, Anápolis e Aparecida de Goiânia são os que mais possuem os estrangeiros no mercado formal de trabalho juntos eles concentravam em 2016 72,91% dos trabalhadores estrangeiros.

Em prol deste sonho e seguindo o que mostram as estatísticas, dois haitianos que estão tentando a vida no Brasil se destacam, já que eles vieram para Goiás e arrumaram emprego em uma indústria de alimentos: Altimo Kenet, de 28 anos e seu primo, Yveno Bacette, de 33 anos. Altimo veio primeiro à procura de mais qualidade de vida no Brasil. Ele chegou sozinho há um ano em Santa Catarina, e trabalhou por sete meses em uma indústria naquele Estado. Há cinco meses veio para Goiás e iniciou sua trajetória na GSA Alimentos como auxiliar de produção há 60 dias.

Ele deixou para trás a esposa e o filho. O objetivo dele é estudar e construir carreira profissional. “Penso em cursar engenharia civil aqui no Brasil e trazer minha a esposa e meu filho para viverem comigo”, sonha.

Já seguindo os passos de seu primo, Yveno veio em busca de mais qualidade de vida e oportunidade de crescimento profissional. “O Brasil tem muitas oportunidades”, revela. Hoje, os dois primos moram juntos.

Yveno está no Brasil e em Goiás há cinco meses. Há dois meses conseguiu trabalho na mesma indústria de alimentos que o primo trabalha, localizada em Aparecida de Goiânia. O auxiliar de produção deixou para trás a esposa e três filhos. “Quero trazê-los o quanto antes. Não pretendo deixar o Brasil”, enfatiza. 

Questionado pelo motivo que deixou a família, Yveno é claro em dizer que o Haiti não oferece muitas oportunidades de emprego. “Na verdade falta emprego para a maioria da população. Quero melhor qualidade de vida para a minha família. O Brasil é um país maravilhoso. Quero estudar e fazer algum curso de nível superior, mas ainda não decidi qual cursar”, revela.

O Diretor Financeiro e de RH da GSA, Victor Leal, explica que a troca de culturas é importante para a GSA e, principalmente para os colaboradores. “Apoiar quem precisa é um dos pilares da nossa empresa” enfatiza. A GSA ainda não tem um programa de inserção de imigrantes, mas o caso dos dois profissionais é um piloto para uma estruturação de um. “Devido ao aumento de imigrantes no Brasil e em Goiás, a empresa quer ajudar a absorver esta mão de obra. Estamos analisando a adaptação destes primeiros imigrantes”, revela.


O Haiti

O país fica no Caribe. A migração haitiana é considerada o maior fenômeno migratório da década para o país. A República do Haiti sofreu, no dia 12 de janeiro de 2010, um abalo sísmico de grandes proporções cujo epicentro próximo da capital, Porto Príncipe, implicou consequências catastróficas para a população do país. A organização humanitária Cruz Vermelha estimou em 3 milhões o número de pessoas afetadas pelo terremoto.

O país é um dos mais pobres do planeta e com baixo patamar de desenvolvimento humano. O volume de haitianos que deixaram o país em busca de melhores condições de vida aumentou consideravelmente. De acordo com um cálculo feito a partir das estimativas das Nações Unidas (ONU) para o estoque internacional de migrantes, a proporção de haitianos morando fora do seu país de origem em 2010 era de 9,9% em relação ao total de haitianos (incluindo os que moram no Haiti) e teria passado a 10,1% em 2015, o que equivale a um aumento de 103.215 haitianos morando fora do Haiti. Além disso, segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) estima-se que o número total de pessoas em condições de refúgio ou semelhante provenientes do Haiti saltou de 33.097 em 2010 para 73.094 em 2014. (Especial para O Hoje) 

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