Quedas de energia causam uma série de transtornos e prejuízos a moradores

População sofre com falhas de energia elétrica e até mesmo a queima dos aparelhos eletrodomésticos

Postado em: 23-01-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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População sofre com falhas de energia elétrica e até mesmo a queima dos aparelhos eletrodomésticos

Higor Santana*

As quedas de energia constantes têm causado uma série de transtornos e prejuízos em moradores de diversos bairros de Goiânia. Essas interrupções temporárias do serviço podem ter como origem eventos planejados, como manutenções na rede, ou não planejados, como queda de estruturas, descargas atmosféricas entre outros. Tais acontecimentos destacam a falha na prestação dos serviços, fato que pode gerar consequências como queima de eletrodomésticos ou aborrecimentos ainda maiores.

O empresário e ex-dono de um bar em Trindade, na Região Metropolitana, Gabriel Lopes, afirma que as quedas e oscilações na rede de energia causaram sérios prejuízos ao seu estabelecimento, a ponto de ser um dos fatores que o levaram a ter que fechar o local, já que dependia da energia para manter os freezers funcionando. “Logo quando abri o bar escutei um estralo de trovão. Quando fui ao caixa percebi que um dos refrigeradores não estava funcionando. Chamei o técnico e ele me disse que o problema tinha sido uma sobrecarga de energia que poderia ter sido causada por uma descarga elétrica”, conta ao relembrar um dos primeiros casos de apagão no estabelecimento. 

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Gabriel ainda afirma que por algumas vezes, percebeu que as luzes do bar e a temperatura dos refrigeradores não se estabilizavam. “Dava para perceber. A luz fica fraca como se estivesse funcionando só a metade. O freezer que usava para manter o gelo guardado nem chegava a atingir a temperatura indicada porque necessitava de muita energia, já que se tratava de um equipamento grande, que consumia muita força”, afirma.

O ex-comerciante conta que não chegou a procurar a companhia de distribuição, pois achou que se tratava de um problema técnico. “Não cheguei a procurar a Enel porque achei que o problema se tratava de mau funcionamento do freezer já que era um equipamento velho e muito usado. Agora já estou ciente”, ironiza o rapaz. 

Na Justiça 

O proprietário de duas sorveterias em Goiânia, uma no setor Bueno e outra no setor Oeste, ambas na região sul de Goiânia, José Renato Fantasia, conta que devido a uma queda de energia no penúltimo sábado (12), teve um prejuízo de quase R$ 5 mil. “A energia acabou por volta das 18h, e retornou às 23h, ou seja, cinco horas que me renderam uma perca de 80 quilos. Na outra loja, foram quase 20 quilos, mais R$ 2 mil. E a Enel já disse que não vai cobrir a perda, por não se tratar de danos elétricos”, lamentou.

Renato afirma que durante a gestão da Companhia Energética de Goiás (Celg), não teve problemas que o causassem tantos prejuízos, mas com a nova distribuidora não tem a mesma sorte. O empresário optou por utilizar da Justiça comum, para ser ressarcido. “Quando estávamos com a Celg nunca tive problemas desse tipo. O advogado disse que  já está com o processo em andamento, e já nessa semana vai me dar um parecer. Mesmo eles alegando não pagar, eu não posso ficar no prejuízo”, defende-se.

Além do sorvete, o dono do estabelecimento conta que a televisão também parou de funcionar. “No dia seguinte ela não quis ligar, depois ligou rapidamente, mas logo desligou de novo. Daí não ligou mais”, relata. O empresário afirma que fica indignado com a posição da empresa, pois se deixa de fazer algum um pagamento em dia a distribuidora está de prontidão para cobrar juros. “É desesperador”, enfatiza.

Má prestação de serviço 

Segundo o professor, engenheiro elétrico e de segurança do trabalho, Taynan Alexandre Camilo, no período chuvoso há uma tendência no aumento de interrupções do fornecimento de energia devido à fatores não planejados, como descargas elétricas ou queda de árvores ocasionadas pelas fortes ventanias. Os períodos de chuva geralmente vão do fim de outubro novembro a abril. 

Para o professor, a concessionária Enel, tem a obrigação de fornecer toda a quantidade de energia que for demanda pelo consumidor, desde que esta demanda tenha sido corretamente e previamente estimada e, ainda, que estes valores estejam sendo respeitados. No caso de pequenos comércios, a interrupção não deve, em regra, ter fundamento em uma suposta “insuficiência” de fornecimento, mas sim nas interrupções por parte do fornecimento de energia elétrica, sejam essas interrupções planejadas ou não. 

Taynan lembra que é indispensável a verificação se todo o sistema elétrico do estabelecimento está funcionando corretamente. Em alguns casos o problema pode estar nas próprias instalações. “Vale ressaltar também que deve ser verificado se as instalações internas do consumidor estão adequadas, com cargas uniformemente distribuídas e respeitando os valores previstos em projetos. Neste caso, a causa da interrupção pode não ser relacionada à falha da concessionária, mas sim pelo desligamento dos sistemas de proteção internos da instalação, como, por exemplo, os disjuntores”, afirma o engenheiro.

“As interrupções no fornecimento são inerentes do modelo de geração, transmissão e distribuição de energia, sendo praticamente impossível que sejam cem por cento eliminadas. As concessionárias de energia possuem indicadores de continuidade que são medidos pela Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] para apurar a qualidade do fornecimento de energia elétrica e, eventualmente, puni-las pelo mau fornecimento”, esclarece. 

Estragos em eletrodomésticos devem ser ressarcidos pela distribuidora  

Em um panorama geral, as concessionárias possuem o DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora) e o FEC (Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora) que medem o tempo médio em que o serviço não foi fornecido ou teve que ser interrompido. Os últimos dados consolidados em Goiás são relativos a 2017 e tratavam-se ainda da CELG-D. 

Em um balanço divulgado anualmente pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em 2017, a Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (DEC), ou seja, a média do tempo de interrupção foi de 32 horas naquele ano, em Goiás. E de acordo com o porta-voz da Enel, Túlio Teles, em entrevista a um portal de notícias de Goiás, para 2018 a meta era de 27 horas. 

Além das interrupções serem um problema para a população, moradores reclamam que devido as essas quedas, alguns eletrodomésticos estariam deixando de funcionar. Neuseli Maria Soares é dona de casa e mora há 18 anos no Setor Barcelos, às margens da Rodovia dos Romeiros, entre Trindade e Goiânia. 

Por conta de uma descarga elétrica no poste em frente a sua casa, ela afirma que a televisão parou de funcionar.  Por não estar informada a dona de casa não procurou a companhia elétrica. “Foi muito rápido. Estava chovendo fraco eu estava na sala assistindo TV com meu filho. Foi um barulho muito forte e outros barulhos estranhos no poste que na hora começou a soltar faíscas. E foi nesse momento em que a TV ficou com a tela escura e desligou”, relata a mulher.

Direito de ressarcimento 

Segundo o site da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o problema com estragos de aparelhos por conta de queda de energia pode ser solucionado. De acordo com o órgão, o consumidor tem até 90 dias após a data provável da ocorrência para solicitar o ressarcimento à distribuidora. A partir da solicitação, a distribuidora tem até 10 dias para verificar o equipamento queimado. O site da Aneel ainda ressalta que até a verificação pela distribuidora, o consumidor não deve consertar o equipamento, exceto se a mesma autorizar.

“Caso o consumidor não consiga resolver o problema com a distribuidora, poderá ainda registrar reclamação no site da Aneel, nos órgãos de defesa do consumidor, Procon por exemplo, e ainda pleitear a reparação dos danos e prejuízos causados pela interrupção de energia elétrica na Justiça”, comenta o professor e engenheiro elétrico Taynan Alexandre.

Cidades mais prejudicadas

De acordo com dados divulgados pela distribuidora de energia, os estragos acontecem principalmente em Goiânia, Anápolis, Aparecida, Luziânia e Iporá, entre outras razões por conta da queda de galhos e árvores sobre a fiação.

Em março do ano passado, após chover mais de 24horas em Goiânia, alguns comerciantes do ramo alimentício tiveram prejuízos de quase R$ 2 mil. Com a chuva, vieram as quedas de árvores e uma dessas árvores acertou uma rede elétrica fazendo com que se rompesse e cortasse a energia dos moradores e comerciantes. Em Goiânia, a Enel informou que atua frequentemente juntamente com a prefeitura na poda de árvores e manutenção das redes elétricas.

Em resposta, o porta voz da Enel em Goiânia afirmou que a empresa trabalha para evitar os problemas causados pela chuva. Somente em Goiânia são podadas em torno de 90 mil árvores por ano, reduzindo o contato com a fiação elétrica. “Não fazemos uma poda drástica, ou seja, temos buscado um equilíbrio entre a vegetação e a rede. Todas duas são muito importantes para a comunidade”, explicou. (Higor Santana é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

Moradores de Minaçu reclamam da falta de energia desde domingo (20) 

O município de Minaçu, Norte goiano, está sem abastecimento de energia elétrica desde o último domingo (20). De acordo com a população, a interrupção do serviço é recorrente. Segundo um vereador da cidade, 80% da cidade está sem abastecimento do serviço, além de quatro povoados. Os outros 20% são abastecidos por um gerador de uma mineradora da cidade que abastece algumas regiões e o hospital da cidade, além de quatro povoados.

Insatisfeitos com o serviço, moradores e autoridades da cidade se reuniram e formalizaram uma denúncia para ser apresentada ao Ministério Público de Goiás (MP-GO) cobrando medidas para a situação. “Esse problema é recorrente. Na semana passada ficamos sem energia por dois dias pelo mesmo motivo. Em 2018 tivemos vários problemas semelhantes. O transformador da subestação não suporta mais a quantidade de moradores da cidade”, explica um morador.

Enquanto a adversidade não é resolvida, os moradores sofrem com as consequências das quedas constantes de energia e da falta de abastecimento. A secretária escolar Wellita Silva, relata que em sua residência o purificador de água queimou, bem como o receptador da antena parabólica, fonte do roteador de internet, carregador de celular, além de ter a geladeira estragada. “Além dos prejuízos materiais, temos problemas com o retorno das aulas. Minha filha era pra ter iniciado o ano segunda-feira (21), mas não tem aula por causa da falta de energia”, explica a moradora.

Em nota, a Enel Distribuição Goiás afirmou que uma falha em um dos equipamentos da Subestação Minaçu afetou o fornecimento de energia no município. A Companhia informou que instalou oito geradores no local para garantir o fornecimento e confiabilidade do serviço e que 80% dos clientes já tiverem o fornecimento normalizado. A distribuidora ressalta que as equipes estão trabalhando para realizar os reparos necessários e restabelecer integralmente o serviço”. Até o fim da tarde de ontem o serviço não havia sido normalizado (com informações do Mais Goiás)  

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