Parkour se torna estilo de vida para goianos e atletas já treinam em ruas da Capital

Quem começa a treinar Parkour depara-se com exercícios de força, coordenação, mobilidade e equilíbrio

Postado em: 16-02-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Quem começa a treinar Parkour depara-se com exercícios de força, coordenação, mobilidade e equilíbrio

Higor Santana*

Para especialistas, ter hábitos saudáveis e manter uma frequência na prática de exercícios físicos são as principais armas para garantir bem-estar e qualidade de vida. Entretanto, algumas pessoas não gostam de fazer musculação, caminhada ou futebol, por exemplo. É aí que entra outras alternativas de treino. Uma opção que é novidade em Goiânia é o Parkour.

Desenvolvido como um método de treinamento que permite ao indivíduo ultrapassar de forma rápida, eficiente e segura quaisquer obstáculos utilizando somente as habilidades e capacidades do corpo humano, essa modalidade, abreviado pelos praticantes de PK, foi desenvolvida inicialmente na França, no final de 1980.

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Não são utilizados protetores de cotovelo, joelheiras, capacete ou luvas, e o objetivo é conhecer e fortalecer o próprio corpo. O Parkour consiste em um treino de superar obstáculos que integram o ambiente. Escalar e pular muros, saltar escadas e corrimões e desviar-se de buracos e portões são alguns dos exemplos dos desafios dessa modalidade.

É o que explica o praticante de Parkour, Douglas Camargo. “É um treinamento de transpor obstáculos da forma mais eficiente possível. São métodos naturais de movimentos, com um treinamento somente com o corpo, sem equipamentos. O único equipamento que se utiliza é o tênis, e às vezes tem gente que ainda treina descalço. Na essência, é para ser fácil de se livrar de situações que necessitam de movimentos rápidos”, afirma.

Douglas pratica a modalidade há 13 anos e, para ele, o PK não é mais só um simples movimento. “Não consigo ficar sem fazer. Faz parte do meu dia-a-dia, e não é só diversão pra mim. Você vai superar seus limites, porque na teoria o Parkour não é competitivo. Talvez por conta dessa não competição, você não queira ser melhor que o outro, muito pelo contrário, você vai ajudar o outro a ser melhor e assim os dois se tornam melhores”, disse o praticante.

A modalidade pode ser praticada tanto individualmente quanto em grupo. Recentemente, o Parkour tornou-se um esporte reconhecido no Reino Unido, embora a definição de esporte seja diferente da empregada no Brasil, analisando os diferentes tipos de esportes que a Educação Física nacional proporciona em escolas ou academias.

Categorias 

Em competições, existem duas categorias de Parkour: speed-run e freestyle. Nas provas de velocidade, o speed-run, os atletas precisam vencer os obstáculos no menor tempo possível. Já no freestyle, o julgamento se baseia a partir das performances, analisando a criatividade dos movimentos.

O treino de Parkour também é responsável por oferecer benefícios físicos, ligados ao condicionamento, flexibilidade e coordenação. Além de estimular a mente com a consciência corporal, elevação da autoestima e disciplina. Segundo o praticante Douglas, para jovens e adultos, o Parkour é um exercício inclusivo, dinâmico, eficiente e divertido.

Para ele, o principal objetivo é a superação de obstáculos, usando nada além do próprio corpo. Isso pode ser visto em exercícios de escalar muros, saltar sobre vãos, equilibrar-se em corrimãos ou deslocar-se de um lugar para o outro.

Segundo o praticante, esse exercício deixa de ser uma simples atividade física e se torna um bom aliado no dia-a-dia. “Você vai conhecer seu corpo, vai saber suas limitações. Querendo ou não, o básico como rolamento você utiliza no seu dia-a-dia. Se chegar a tropeçar na rua, você utiliza o rolamento para não se machucar. Passa a ser automático. Situações bobas em que se machuca, torce o tornozelo, talvez você não se machucaria por estar preparado para lidar com a situação com algum movimento que usa no Parkour”, explica.

Ainda de acordo com ele, apesar de ser normalmente visto como uma atividade física de aventura, o Parkour também está relacionado ao desenvolvimento pessoal. Encarar desafios e obstáculos por meio da superação de limites individuais se tornou uma das filosofias dos praticantes.

Cuidados

De acordo com o ortopedista Lucas Boechat os traumas aparecem sempre depois de algum movimento errado.“Não são como os corredores de rua, que nos procuram antes para fazer a atividade com segurança. As lesões mais frequentes estão relacionadas à sobrecarga, já que o peso do corpo pode ser usado de várias maneiras diferentes e com dificuldades distintas”, afirma. 

O ortopedista reconhece que os esportistas que praticam essa atividade sabem dos riscos que estão correndo. “A própria prática vai garantindo esse conhecimento e as pessoas começam a entender seus limites. É um exercício que exige cuidados, pois algum movimento pode ser realizado de forma incorreta, ocasionando talvez em uma luxação ou torção”, disse. 

Para o professor de Educação Física Alexandre Moreira esse exercício também trabalha a resistência do corpo em conjunto com a mente, melhora a concentração e desenvolve a coordenação motora. “Em relação ao emocional, o Parkour é uma alternativa excelente para reduzir o estresse, elevar a autoestima e promover uma sensação de bem-estar e felicidade”, relata. 

Exercício contribui e ensina a superar os medos 

O Parkour é acessível a qualquer um, em qualquer lugar, basta apenas estar com uma roupa confortável, um par de tênis e força de vontade. Porém, não é só para os grandões. Na verdade, a busca por uma infância mais ativa e saudável faz com que algumas pessoas usem desse exercício. Uma boa forma para que as crianças se divirtam.

Como é o caso do Lucas Louza, de 12 anos. O jovem conta que se interessou pelo exercício, após ver outras pessoas praticando. “Comecei a praticar o Parkour porque fiquei impressionado quando vi alguns praticantes fazendo. Ficava me perguntando como eles conseguiam fazer aqueles movimentos. Daí passei a pesquisar, saber como funcionava, até que encontrei algumas pessoas que também queriam treinar. Passamos a treinar quase todos os dias para aprender e aperfeiçoar mais. Hoje uso como estilo de vida, como modo de pensar e agir no dia-a-dia”, afirma.

De acordo com o professor de Educação Física Alexandre Moreira, para crianças e adolescentes, o Parkour é uma forma de aprimorar a coordenação motora e estimular o exercício físico. Para os adultos, é uma maneira saudável de se exercitar e se divertir ao mesmo tempo. “O Parkour aprimora a respiração por meio da melhora do sistema cardiorrespiratório. Ele proporciona uma melhor noção de espaço e consciência corporal, e ainda é uma ótima forma de diversão”, relata.

O Parkour demanda uma prática de treinamento tanto físico quanto mental. Por isso é necessário observar os elementos dos exercícios de tonificação e fortalecimento muscular como agachamentos, abdominais, flexões, puxadas em barras e outros. Nas crianças, esse exercício deve ser monitorado de perto por um profissional, pois segundo o professor, o corpo ainda está em fase de crescimento e formação.

Aperfeiçoamento

“O foco não é o alto rendimento, e sim o aperfeiçoamento. Tentamos trabalhar os valores com as técnicas da atividade”, explica Alexandre. Para ele, no caso das crianças uma das questões trabalhadas é a autonomia. “Não é apenas saltar algum obstáculo. O Parkour ensina a superar os medos, apensar os trajetos antes de executá-los. Isso é extremamente positivo para o futuro deles”, explica. 

Ainda segundo ele, valores morais também são trabalhados com o exercício. “A atividade não se resume só a pulos. O aluno tem de conseguir desenvolver algo sozinho para saber lidar com obstáculos fora do local onde ele pratica, sejam físicos ou aqueles que a vida proporciona como situações de medo ou agonia”, conclui.

O jovem praticante Lucas dá a dica. “Se você quer praticar, você consegue. Se correr atrás, você consegue. Tem que ser espontâneo, você tem que gostar mesmo, se você for forçado, você não consegue, é uma coisa pessoal que te inspira”, relata.

O Parkour é interessante para crianças, uma vez que se baseia em atividades da faixa etária, é o que explica o ortopedista Lucas Boechat. “É na infância que são desenvolvidos diversos movimentos. Brincar, correr ou dar uma cambalhota, são movimentos incluídos no dia a dia da criança”, diz. 

Acompanhamento profissional

Mas para ele, é fundamental um acompanhamento profissional. “É indispensável o acompanhamento de um profissional, seja ele um professor, um instrutor ou até mesmo um praticante que já tenha certa experiência. Ele de fato, vai estar mais preparado e irá saber melhor como lidar com alguma situação desconfortável. A atividade não deve ser intensa. O treino deve ter, no mínimo, um intervalo de um dia para ser realizado novamente. O excesso pode causar lesões”, explica.

O ortopedista também afirma que é importante fazer um aquecimento e alongar o corpo antes da atividade. “É recomendável evitar maiores saltos. Uma criança não pode executar as mesmas manobras que um adulto. Dependendo do modo de aterrissagem, mesmo o salto sendo perfeito, pode causar algum machucado ou achatamento da musculatura”, exemplifica. 

De acordo com o especialista, as meninas de até 9 anos e os meninos de até 13, estão com os ossos em crescimento. Isso os diferencia de adultos, que já realizaram a atividade anteriormente. “Geralmente, são recomendadas atividades com menor impacto, mas se o Parkour for realizado com supervisão, não representa problema. Sem nenhuma orientação, há riscos de entorses, fraturas por estresse, entre outras. A orientação evita esses episódios inesperados”, afirma o médico.

Atenção

Parkour não necessita apenas de concentração e consciência sobre o corpo, mas também é necessário preparo físico e mental. Segundo o professor de Educação Física Alexandre, em situações de treinos em altura, é necessário sempre uma avaliação de distância, de sua capacidade e do risco ao qual você estará correndo.

De acordo com o praticante Douglas Camargo não existe a competição de ser melhor ou pior, e além do desenvolvimento pessoal, esse exercício ajuda as crianças a trabalharem em equipe. “A competição é interna, é você contra você mesmo e as suas limitações. Então se trabalha a autoestima quando consegue realizar um movimento que não conseguia, você trabalha a superação, o trabalho em equipe, a coletividade por treinar com os amigos. Com as crianças não é diferente, elas crescem e desenvolvem um espírito de coletividade, de querer ajudar um ao outro”, afirma. (Higor Santana é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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