Coleta seletiva não acompanha o crescimento populacional de Goiânia

De acordo com o Plano de Gestão de Resíduos, a taxa de crescimento na geração de resíduos é igual a 3,6% ao ano| Foto: Wesley Costa

Postado em: 15-01-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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De acordo com o Plano de Gestão de Resíduos, a taxa de crescimento na geração de resíduos é igual a 3,6% ao ano| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Em média, 2.100 toneladas de material reciclável são coletados por mês pelo Projeto Goiânia Coleta Seletiva, na Capital. No entanto, para os profissionais que trabalham com a catação dos resíduos em cooperativas, a coleta seletiva não acompanhou o crescimento populacional da cidade. Segundo a diretora financeira da cooperativa de reciclagem de Goiânia COOPEREC, Lúcia Ivani Pinheiro, a quantidade de recicláveis do projeto da prefeitura que chega a COOPEREC estagnou em uma tonelada diária há pelo menos dois anos.

De acordo com as previsões do Plano de Gestão de Resíduos Sólidos do Município de Goiânia, a taxa de crescimento na geração de resíduos é igual a 3,6% ao ano. Segundo a estimativa, a população deve estar gerando 1.852 toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU) por mês em 2020.  Na época da realização do estudo, em 2013, a geração de resíduos estava em 1.297 toneladas por dia.

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A cooperativa da qual Lúcia faz parte foi a primeira da área de recicláveis no Estado de Goiás. Ela é uma cooperada desde o início das atividades da COOPEREC há 22 anos. Em todos esses anos, a diretora financeira admite que houve muitos avanços na questão da reciclagem em Goiânia, mas afirma que está muito aquém do ideal. “Frente ao franco crescimento populacional da Capital, ainda chega muito pouco material nas cooperativas”.

Além de receber o material reciclável do projeto de coleta seletiva da Prefeitura de Goiânia, a COOPEREC também busca os resíduos em indústrias, empresas parceiras e também recebe parte da coleta dos municípios de Senador Canedo e Caldazinha. “Só o material oriundo da coleta seletiva de Goiânia não é suficiente para todos os cooperados daqui”, afirma.

Lúcia revela como é difícil fazer dinheiro com reciclagem. “Infelizmente, hoje ninguém aqui consegue alcançar a renda do salário mínimo na catação de material reciclável. Algumas pessoas usam o trabalho para complementar renda, mas muitas delas dependem da catação do material para sobreviver”. A diretora financeira da cooperativa ainda afirma que o aproveitamento do material reciclável da coleta seletiva da prefeitura é baixo. Cerca de 60% dos recicláveis que chegam para a cooperativa são aproveitados.

“Ainda falta muita consciência da população na hora de separar os resíduos. Tem chegado muito lixo aqui que acaba estragando o aproveitamento do material reciclável. A forma como a população separa seu lixo influencia diretamente em nosso trabalho”. Lúcia acredita que falta investimento em divulgação de campanhas e educação ambiental são os principais problemas que atingem a coleta seletiva atualmente.

De acordo com a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), o Projeto Goiânia Coleta Seletiva iniciou porta a porta, beneficiando toda a cidade, no ano de 2008 e conta com 16 cooperativas cadastradas. Atualmente, a média de material da coleta seletiva é de 2.100 toneladas por mês. O órgão afirma que o projeto abrange todos os bairros da Capital e que todo lixo reciclado é encaminhado ás cooperativas.

Lúcia contesta a informação de que o Projeto da Coleta Seletiva passa de porta em porta em todos os bairros de Goiânia. “Eles falam que passam em todos os bairros da Capital, mas há alguns em que eles não aparecem. Quando passam, vão apenas em uma rua do bairro”. A diretora financeira da COOPEREC afirma que a população se confunde com a responsabilidade da coleta seletiva e chega a ligar na sede da cooperativa para reclamar que o caminhão de lixo não passou em sua casa.

Indústria de reciclagem carece de recursos 

O fomento da indústria de reciclagem é fundamental para cumprir a Política Estadual de Resíduos Sólidos. De acordo com o Conselho Temático de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG), apesar da existência desse setor no Estado, ainda falta sinergia entre os elos da cadeia produtiva para estimular a economia sustentável de forma efetiva. Uma das carências do setor é a indústria que trata o vidro para ser reutilizado. Não há indústrias desse tipo em Goiás.

O reaproveitamento de resíduos sólidos na indústria é chamado de logística reversa. A ação consiste em um mecanismo de desenvolvimento econômico e social que visa, por meio de uma série de ações, viabilizar a coleta e devolução desses resíduos sólidos ao setor fabril e reaproveitá-los em novos ciclos produtivos.

A FIEG vem buscando, junto Sindicatos das Indústrias, Sema, AMMA, MP Goiás, associações de reciclagem e outros atores, a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos para fortalecer a economia circular e incentivar o tratamento do lixo, fomentando uma atividade que já gera emprego e renda para milhares de famílias.   

Nesse sentido, a Federação afirma que a união entre o setor público, sociedade civil organizada e a iniciativa privada é fundamental para uma melhor gestão dos resíduos sólidos. A FIEG tem buscado boas práticas já implantadas com sucesso em outros Estados para planejar ações em Goiás, inicialmente em Goiânia e Região Metropolitana. Em abril deste ano a Fieg recebeu um técnico ambiental da Federação de Indústrias de São Paulo (Fiesp) para apresentar o Sistema Alternativo de Logística Reversa de Embalagens em Geral a fim de implantá-lo em Goiás.

As indústrias de logística reversa tratam sucatas de metal, plástico, borracha e outros tipos de resíduos provenientes de complexos industriais e do consumo comum da população. Depois de tratados, eles são devolvidos para a cadeia produtiva e se transformam em matéria prima para fabricação de novos produtos. A reciclagem desse material demonstra que, o que muitas vezes parece ser descartável e sem valor, pode gerar lucro, movimentar o mercado e contribuir para a sustentabilidade. (Especial para O Hoje) 

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