Quinta-feira, 28 de março de 2024

Goiânia tem diminuído quantidade de árvores nas Praças e Avenidas

Na Capital, os setores Central e Marista foram os que mais sofreram perdas de espécies botânicas, segundo estudo do IFG - Wesley Costa.

Postado em: 22-02-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Na Capital, os setores Central e Marista foram os que mais sofreram perdas de espécies botânicas, segundo estudo do IFG - Wesley Costa.

Pedro Moura

Goiânia já intitulada como a capital verde, porem de acordo com os dados da pesquisa de doutorado do professor do campos Goiânia do Instituto Federal de Goiás (IFG), Fábio de Souza, nas áreas do Setor Central, em aproximadamente 55 anos houve uma desarborização de cerca de 50%. Segundo Fabio, o setor Marista está no mesmo caminho, perdendo drasticamente suas árvores, tendo uma perda média de 1,6% de desarborização por ano.

Segundo o professor, esta desarborização se dá devido ao aumento das áreas de uso comercial do setor Marista ao longo dos anos, registrando, ao todo, 320 lotes comerciais em 1992, que passou a 1.455, em 2016. Sobre essas mudanças, o professor destaca. “O Centro já vem perdendo árvores há muito tempo. Mas, o setor Marista perdeu demais. E era um setor cheio de árvores, praticamente, a maioria das árvores hoje está apenas nas praças”.

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Ao ser perguntado sobre os impactos do crescimento comercial nessas áreas, Fabio explica que a supressão das árvores é decorrente de uma cultura que associa um menor valor ao imóvel comercial que possui árvores em suas fachadas. “Existe essa cultura que tirar a árvore vai dar mais visibilidade, mas na verdade, o que atrapalha não é a árvore, na minha opinião. O que atrapalha é uma falta de um plano diretor de publicidade que auxilie isto”, ressalta o professor. E acrescenta que inclusive essa proposta de revitalização das áreas históricas, no Centro de Goiânia e em Campinas, despolui as fachadas. 

Fabio cita o caso da Avenida 24 de Outubro, no setor Campinas, em Goiânia, como exemplo de uma via totalmente caracterizada por muitas fachadas comerciais e sem árvores, causando até uma poluição visual, prejudicando a distinção entre as lojas. 

Neste caso, o professor afirma que não é a presença de árvores o que prejudica a visibilidade comercial nessa via, mas sim a falta de um plano diretor para organizar a publicitação das fachadas comerciais na avenida.Segundo ele, a cidade carece também de uma atualização do Plano Diretor de Arborização Urbana, pois o último levantamento foi realizado em 2008, pela Prefeitura de Goiânia.

Preocupação

O contínuo desmatamento na arborização para dar lugar aos espaços comerciais, por exemplo, em bairros como o Centro e Marista, fizeram com que algumas das principais vias desses setores, que antes eram ocupadas principalmente por residências, foram progressivamente, ao longo dos anos, modificadas em decorrência do crescimento de lotes comerciais, resultando em impactos na arborização.

“Naturalmente, em todas as cidades, primeiramente, ocorrem as ocupações por residências e, atrás das pessoas, vem o comércio. O comércio vai então tomando conta de tudo. Acaba que as pessoas são expulsas, porque o lugar vai perdendo qualidade de vida muito em função do comércio. E, à medida que vão aumentando as áreas comerciais, vai perdendo também o espaço para a arborização, especialmente, as árvores nas calçadas”, explica o professor.

Locais do estudo

Para a investigação do estudo, o docente elegeu a análise do trecho do triângulo histórico na região Central, que consiste nas áreas delimitadas pelas Avenidas Tocantins, Goiás e Araguaia e Praça Cívica. Já no setor Marista, a área do levantamento é compreendida pelas vias, Avenida D, Rua 87, Rua 148, Avenida 136, Rua 90, Alameda Americano do Brasil, Alameda Coronel Eugênio Jardim, Alameda Coronel Joaquim de Bastos, Avenida 85 e Avenida Mutirão.

No estudo, professor utilizou a análise de fotos áreas históricas, mapas de uso do solo e plantas de valores de imóveis obtidos junto aos órgãos da Prefeitura de Goiânia, para a criação de um método de cálculo da supressão arbórea a partir da utilização de softwares específicos. Além disso, foram feitas entrevistas com estudantes, moradores e comerciantes dos setores Central e Marista, com objetivo de avaliar a percepção das pessoas a respeito da relação entre a arborização e as áreas comerciais. 

Cidades saudáveis

Para Fábio, as cidades atualmente precisam estar adequadas ao movimento de cidades saudáveis, no qual pesam diversos fatores para a promoção de qualidade da vida urbana. Entre esses, um ponto relevante é a valorização ambiental, que passa também pela preservação do verde do acompanhamento viário, ou seja, a existência de árvores nas calçadas e nos canteiros nas ruas.

O professor recorda dos famosos boulevards (vias urbanas), como a Champs-Élysées, em Paris, na França, que possui vários comércios e é totalmente arborizada como modelos de vias arborizadas em cidades consideradas como saudáveis. Segundo Fabio, Goiânia tem nos boulevardscomo influências no seu modelo urbanístico projetado como plano piloto proposto.

Consequências

A vendedora Kananda Antunes, 21 anos, diz que em grande parte do Centro é nítido as consequências da desarborização. Ela comenta que ‘transformar a Avenida Goiás em uma selva de pedra’, não irá trazer benefícios aos comerciantes da região. “Vai atrapalhar muito as vendas. Além da sujeira deixada pela retirada das árvores, enormes transtornos como enchentes vão diminuir drasticamente o fluxo de clientes nas lojas, causando prejuízos a empresa”, explica. Kananda também explica que o malefício é bem maior do que os benefícios oferecidos. “De início, o transtorno vem, mas teoricamente o trânsito irá fluir, mas mesmo assim, não vale a pena remover um bem para a cidade que são as árvores, não vale a pena. No fim, sempre piora”, comenta.

 

Ilhas de calor são causadas pela falta de árvores 

Segundo o Engenheiro Agrônomo, Conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), Marcelo Bueno, a desarborização interfere diretamente na qualidade de vida das pessoas e nas questões ambientais, como o ar e temperatura. “As ilhas de calor são provocadas devido à falta de árvores em Goiânia. A principal forma de combater as ilhas de calor são as sombras das árvores, por que as sombras não permitem a incidência do sol nas calçadas, praças. Com a arborização há uma melhoria considerável”.

Ao ser perguntado se a retirada das árvores pode provocar desastres naturais, Marcelo explica que sempre haverá desastres. “As árvores grandes podem cair e necessário tomar cuidado ao estacionar o veículo, durante uma tempestade, as árvores podem cair em cimas dos veículos ou residências, nesta questão a árvore perde”, ressalta.

Sobre reverter este cenário decadente de árvores na cidade o conselheiro explica que o Crea promoverá palestras nas sedes regionais, em Goiânia. “O projeto Cidades Verdes, vai promover propostas aos municípios para produzirem e plantarem árvores nas cidades para a arborização urbana. Estamos com um projeto para o final do ano também, para atingir todas as prefeituras dos estados para fazer uma arborização consciente”, explica.

Segundo o professor, os impactos da supressão arbórea em calçadas, nas urbes, são intensos. Ruas sem árvores produzem mais calor (até 5ºC), poluição sonora, pois as árvores ajudam a absorver o barulho, há um maior risco de enchentes, o ar torna-se mais seco e a paisagem perde beleza, o que pode resultar em menor valor imobiliário.

Desarborização na cidade

Em agosto do ano passado a Prefeitura de Goiânia anunciou o corte de 50 árvores das espécies Guariroba, Ipê Roxo, Monguba e Mangueira, plantadas na Avenida Goiás, em Goiânia, a ação foi autorizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Nos locais onde as plantas estão, serão construídas as estações e plataformas de embarque e desembarque dos ônibus.

A comerciante do setor Central, Nelma Silva, 41 anos, comenta que a remoção das arvores não é viável uma vez que as mesmas melhoram o ambiente. “As árvores nos oferecem sombra, e uma paisagem mais bonita. Com a remoção das árvores o ambiente consequentemente irá mudar. Além do aumento da poluição na cidade, não há benefício algum com está remoção, mas a prefeitura não pensa nos cidadãos”, conclui. 

A redação do O Hoje entrou em contato com a Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) e a questionou sobre a desarborização na cidade e sobre a remoção das árvores na Avenida Goiás. Segundo a Agência, não foi emitido nenhum parecer por parte da Amma autorizando a retirada de árvores na Avenida Goiás, ano passado.

Isto porque o órgão ainda está aguardando um parecer do Iphan consentindo intervenção na respectiva via. “Visto que o Iphan liberou intervenção na Avenida Goiás, conforme é do conhecimento da Amma, mas que ainda não chegou a esta. A Agência só emitirá parecer técnico de acordo com o Iphan e o projeto apresentado pelo consórcio que vai realizar a obra.” Sobre a desarborização da cidade, a Amma não se pronunciou. (Pedro Moura é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)

 

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