Aparecida de Goiânia figura entre as 10 piores cidades em tratamento de esgoto

Pesquisa aponta que o município goiano figura entre aquelas com piores índices de atendimento de água: apenas 64,90% de cobertura| Foto: Wesley Costa

Postado em: 17-03-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Aparecida de Goiânia figura entre as 10 piores cidades em tratamento de esgoto
Pesquisa aponta que o município goiano figura entre aquelas com piores índices de atendimento de água: apenas 64,90% de cobertura| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Famílias do Setor Continental em Aparecida de Goiânia têm que conviver com esgoto que escorre pelas ruas há anos. Essa realidade escancara os últimos dados do Ranking do Saneamento Básico que classificou o município na 9ª posição entre os piores índices de coleta de esgoto do Brasil. Apenas 23,83% da cidade é atendida pela coleta de esgoto.  No entanto, o estudo ressalta que, no período analisado, Aparecida está entre os municípios que mais investiram no setor, proporcionalmente à arrecadação.

O levantamento foi realizado pelo Instituto Trata Brasil e GO Associados por meio dos dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), referentes a 2018. A pesquisa aponta que o município goiano figura entre aquelas com piores índices de atendimento de água: apenas 64,90% de cobertura. O estudo ainda destaca que, no período analisado, Aparecida está entre os municípios que mais investiram no setor, proporcionalmente à arrecadação de impostos.

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O baixo índice da taxa de saneamento faz com que os habitantes sofram com lixões e esgotos a céu aberto. O déficit causa diversos problemas de saúde que tornam a população refém da falta de atenção da Administração Pública. De acordo com um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), para cada dólar investido em água e saneamento, são economizados 4,3 dólares em custos de saúde em todo mundo.

Para os pesquisadores que fizeram o levantamento Ranking do Saneamento Básico, o estudo demonstra que a responsabilidade do avanço dos indicadores de água e esgotamento sanitário das regiões metropolitanas no país recai sobre prefeitos e governadores. “É de responsabilidade do Poder Executivo municipal a titularidade do saneamento. Já nas Regiões Metropolitanas, a decisão do STF, desde 2013, é de que as decisões sejam compartilhadas entre os municípios e Estado”, indica o relatório.

A população do Setor Continental vive próxima ao Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia afirma que o esgoto escorre pelas ruas há anos e passa pelo bairro. A água sem tratamento forma grandes poças e espalha um odor fétido que contamina o cotidiano da população. “O cheiro horrível tira até a vontade de a gente comer. O pior é que não tem para onde fugir”, afirma Jucélio Firmino, morador da Rua dos Planetas. Ele é obrigado a conviver como problema desde que se mudou para o bairro, há seis anos.

A Prefeitura de Aparecida de Goiânia explica que os serviços de água e esgoto no município são de responsabilidade do Governo do Estado, por meio da Saneago, que subdelegou o serviço de esgotamento sanitário para a empresa BRK Ambiental.

Dados defasados 

A Saneago informa que o Ranking do Saneamento 2020 foi elaborado com base em dados do SNIS do ano de 2018. Naquele ano, os investimentos e obras da Companhia estiveram suspensos devido à Operação Decantação. Desde então, a Companhia já expandiu consideravelmente o sistema de esgotamento sanitário no município de Aparecida de Goiânia. O percentual de coleta de 23,83% citado no relatório subiu para 50,8% segundo as informações mais atualizadas, beneficiando uma população de quase 290 mil pessoas.

Os investimentos foram da ordem de R$ 104 milhões em 2018, para a implantação de 271 km de redes, coletores e interceptores, além de investimentos na segunda etapa da ETE Santo Antônio. Em 2019, mais R$ 93 milhões foram investidos no município, distribuídos em 180 km de redes e ampliação do tratamento de esgoto, o que possibilitou a liberação de 24 mil novas ligações de esgoto, distribuídas em bairros como Garavelo, Garavelo Park, Cidade Vera Cruz, Bairro Hilda, Jardim Helvécia, entre outros.

Nesta categoria, inclusive, o próprio estudo menciona Aparecida de Goiânia sob viés positivo. A cidade está classificada entre as 10 com melhor indicador de investimento sobre a arrecadação. No caso, 71,6%. A Saneago ressalta que a curva de investimentos em Aparecida de Goiânia no próximo relatório (relativo ao ano de 2019) deverá apresentar essa mudança.

Moradores culpam autoridades pela sujeira nas ruas 

O morador do bairro que não possui tratamento de esgoto e abastecimento de água tratada diz que a situação é vergonhosa e culpa as autoridades. Jucelio diz que o Poder Público tem a obrigação de ir até lá para sanar o problema. “O bairro carece de tudo e não oferece condições mínimas para que possamos viver com saúde. Muita gente aqui adoece por causa dessa água suja”, lamenta. As ruas do setor não são asfaltadas e estão constantemente repletas de lama formada pelos dejetos.

Eulina Rodrigues Nogueira mora no Setor Continental há nove anos e afirma que o problema já foi muito pior. “Depois que muitas reclamações, o esgoto parou de ser lançado durante 24 horas por dia”. Ela afirma que o período de chuvas é aproveitado para realizar o lançamento de esgoto de forma mais intensa. Os dejetos despejados nas ruas são oriundos do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. 

A Gerência de Engenharia da Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) informa que já estão sendo tomadas as necessárias providências em relação ao vazamento de dejetos oriundos de unidades integrantes do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. Para tanto, estão sento tratados planejamentos e levantamentos para a ampliação do sistema de esgoto local; ação que irá atender às necessidades, evitando possíveis transbordamentos.

A Gerência ressalta que, até a conclusão da solução em andamento, diariamente, são realizados serviços de limpeza e retirada dos dejetos por meio de caminhões limpa fossa. Esta medida será realizada até a conclusão da ampliação da rede de esgoto.

Em 2015, a Penitenciária Odenir Guimarães (POG) antigo Cepaigo, foi multada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Aparecida de Goiânia (Semma) em R$ 200 mil por lançar esgoto a céu aberto, pelas ruas dos setores Continental e Terra do Sol com dejetos chegando até o Córrego da Lagoa.

De acordo com a pasta, a POG já foi notificada várias vezes desde 2015, mas a instituição continuou a fazer o lançamento do esgoto no bairro. A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da penitenciária não comporta o volume dos dejetos que acaba transbordando indo parar nas ruas dos bairros. O esgoto se transforma em verdadeiras piscinas de dejetos e trazem muitos prejuízos à população. (Especial para O Hoje) 

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