IBGE aponta que 18,3% da população goiana não possui internet em casa

Por muito tempo era comum os brasileiros não possuírem internet em casa. Isso porque era caro ter computadores e a rede em si| Foto: Wesley Costa

Postado em: 06-06-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Por muito tempo era comum os brasileiros não possuírem internet em casa. Isso porque era caro ter computadores e a rede em si| Foto: Wesley Costa

Pedro Moura

Desde o surgimento da internet no país, em meados dos anos 80, a rede veio se popularizando cada vez mais, crescendo de maneira espantosa. Ao longo destes 32 anos de internet no país, muita coisa mudou. Hoje, a rede mundial está muito mais presente em nosso cotidiano e se tornou um dos principais meios de comunicação e de entretenimento do país. Porém, surpreendentemente, inúmeras residências goianas não possuem internet. 

Segundo o levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2018, 18,3% da população goiana não possui internet em casa, seja por falta de oferta, questões financeiras ou por opção. Já em 2016 a internet não foi acessada por 30% dos goianos, revelando a uma queda de 11,7% neste período de dois anos. 

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Em 2016, além da falta de interesse, o maior obstáculo era o alto custo do acesso ao serviço, resultado da desigualdade de renda no país, que provocava outra desigualdade, a do acesso à informação e ao conhecimento.

Internet em casa

Por muito tempo era comum os brasileiros não possuírem internet em casa. Isso porque era caro ter computadores e a rede em si. No entanto, nos últimos anos, isso mudou por conta de alguns fatores. Um deles foi a queda nos valores de computadores, fazendo com que as pessoas tivessem mais acesso a esses dispositivos.

Outro fator foi o surgimento de políticas que reduziram o preço da conexão banda larga em todas as regiões do país, com o intuito de realizar a inclusão digital, incentivando as famílias a conquistarem seu primeiro plano de internet. Porém, algumas pessoas optaram por não ter a rede em casa, como a dona de casa, Andressa Adriana Rocha.

Ela diz não possuir internet em casa há três anos, depois de uma decisão do seu marido, por não ver a rede como sendo prioridade. “Optamos por não ter internet em casa, pois não faz muita falta. Eu e meu marido possuímos planos pós-pagos em nossos celulares. Então não nós sentimos prejudicados”, disse. Mãe de três filhos, Andressa explica que não sente falta da internet, porém, pretende adquirir a rede futuramente, quando sentir necessidade.

Já a estudante Raiane Pereira da Silva comenta que no setor onde mora, para ter acesso a rede é necessário efetuar o pagamento de uma quantia alta em dinheiro, mas no momento sua condição financeira não permite. “Sou estudante e pago minha mensalidade, no momento atual em que vivemos, com a crise provocada pela pandemia do Coronavírus, eu teria de escolher entre ter internet, ou pagar a mensalidade do meu curso. Então escolhi a mensalidade”, explicou.

A estudante motivada a continuar seu curso, diz que por enquanto continuará sem internet, mesmo sendo prejudicada durante as aulas online. “Uso a internet pelo celular, tem dias que os dados móveis acabam, mas está dando tudo certo. Porém, me sinto prejudicada, não gosto de faltar aula. Se eu faltar um dia de aula perco muito conteúdo. Se realmente continuar com as aulas online, vou ter que instalar internet na minha casa”, exaltou.

Índice no país 

Ainda de acordo com o IBGE, no país, o índice de domicílios com acesso à internet também aumentou entre 2017 e 2018, passando de 74,9% para 79,1%. De 2017 para 2018, o percentual de domicílios em que a internet era utilizada passou de 80,2% para 83,8% em área urbana e de 41% para 49,2% na área rural. Em relação à renda, nas casas onde havia acesso à internet, o rendimento médio por pessoa era R$ 1.769, quase o dobro do rendimento nas casas daqueles que não acessavam a rede, que era R$ 940.

Os dados referem-se ao quarto trimestre de 2018. A pesquisa trata do acesso à internet e à televisão nos domicílios particulares permanentes e do acesso à internet e à posse de telefone móvel celular para as pessoas de 10 anos ou mais de idade, o que equivale a um total de cerca de 181,9 milhões de pessoas. A gerente da Pnad Contínua, Maria Lucia Vieira, diz que o crescimento mais acelerado da utilização da internet nos domicílios da área rural contribuiu para reduzir a grande diferença em relação aos da área urbana. 

Acesso à internet no país 

O IBGE mostra ainda que uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Em números totais, representa cerca de 46 milhões de brasileiros que não acessam a rede. Os dados, que se referem aos três últimos meses de 2018, mostram ainda que o percentual de brasileiros com acesso à internet aumentou no país de 2017 para 2018, passando de 69,8% para 74,7%, mas 25,3% ainda estão sem acesso. 

Em áreas rurais, o índice de pessoas sem acesso é ainda maior que nas cidades, chega a 53,5%. Em áreas urbanas é 20,6%. Quase a metade das pessoas que não têm acesso à rede (41,6%) diz que o motivo para não acessar é não saber usar. Uma a cada três (34,6%) diz não ter interesse. Para 11,8% delas, o serviço de acesso à internet é caro e para 5,7%, o equipamento necessário para acessar a internet, como celular, laptop e tablet, é caro.

Muitas barreiras ainda são de falda de rede  

Para 4,5% das pessoas em todo o país que não acessam a internet, o serviço não está disponível nos locais que habitam. Ou seja, mesmo que queiram, não conseguem contratar um pacote de internet. Esse percentual é mais elevado na região Norte, onde 13,8% daqueles que não acessam a internet não têm acesso ao serviço nos locais que vivem. Na região Sudeste, esse percentual é 1,9%.

De acordo com a gerente da Pnad Contínua Maria Lucia, para aumentar o acesso à internet a toda a extensão do país, investir na questão da disponibilidade é um caminho. A pesquisa aponta também desigualdades entre áreas rurais e urbanas. O percentual de moradores de áreas rurais que não utilizam a internet porque o serviço não está disponível é 12%, dez vezes maior que a da área urbana, 1,2%. 

Já o índice daqueles que dizem ser caro o equipamento necessário chega a 7,3% na área rural, enquanto nas cidades é 5%. Entre 2017 e 2018, no entanto, tanto na área rural quanto na urbana o percentual de pessoas que utilizaram a internet cresceu. Passou de 74,8% para 79,4%, em áreas urbanas, e de 39% para 46,5%, em áreas rurais.

Estudantes sem internet

Outro fator preocupante desta desigualdade vem sendo presenciado durante as aulas online, devido a pandemia do Coronavírus. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 4,8 milhões de crianças e adolescentes, na faixa de 9 a 17 anos, não têm internet em casa no Brasil. Embora as diversas tecnologias de informação e comunicação estejam mais acessíveis e contribuam para o ensino e aprendizagem, essas ferramentas ainda não estão disponíveis para todos. 

Esse problema não é inerente somente ao contexto da zona rural. Segundo os dados divulgados pela Unicef, nesse momento de pandemia da Covid-19, em que as aulas presenciais estão suspensas, é possível observar que o acesso à educação no país por meio das tecnologias digitais é desigual em todas as regiões. Ainda de acordo com a Unicef, com o adiamento das atividades presenciais, mais de 17% dos estudantes matriculados em escolas brasileiras estão impossibilitados de acompanhar o calendário escolar de forma satisfatória, já que as aulas são realizadas pela internet. (Pedro Moura é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)

 

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