Quinta-feira, 28 de março de 2024

Em época de seca, ipês floridos colorem a paisagem de Goiânia

Apesar de muitos pensarem que é uma árvore exclusiva do Cerrado, o Ipê é muito comum no país| Foto: Wesley Costa

Postado em: 27-08-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Em época de seca, ipês floridos colorem a paisagem de Goiânia
Apesar de muitos pensarem que é uma árvore exclusiva do Cerrado, o Ipê é muito comum no país| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

As tradicionais flores dos Ipês colorem a paisagem urbana da Capital. Uma das árvores mais frondosas da espécie, o Ipê Amarelo começa a mostrar sua beleza em diversas localidades da cidade. Apesar de muitos pensarem que é uma árvore exclusiva do Cerrado, a espécie é muito comum em todo o país.

Localizada na Avenida Contorno, próximo ao Parque Mutirama, um exemplar do Ipê amarelo floriu esta semana. Flores amarelas também são facilmente encontradas no Morro do Serrinha, localizado no bairro de mesmo nome. 

Continua após a publicidade

“Os Ipês são plantas da família Bignoniaceae, comuns em todo o Brasil, especialmente em florestas”, esclarece o biólogo Gláucio Freitas. Ele diz que essas árvores portadoras de flores com cores distintas não compõem apenas uma espécie de Ipê. Cada cor de flor corresponde a uma espécie diferente dessa árvore. A família da qual a planta faz parte possui aproximadamente 110 gêneros e 800 espécies e inclui também arbustos.

Gláucio afirma que as árvores são mais vistas nas cidades de Goiânia e Brasília, mas não é exclusividade dos biomas que fazem parte dessas regiões. “São especialmente comuns nestas duas cidades, pois foram plantadas com propósito paisagístico. Uma das características mais importantes destas plantas é que elas costumam florir justamente na estação das secas”, diz. De acordo com o biólogo, as árvores perdem suas folhas antes de se tornarem verdadeiros buquês por alguns dias.

O biólogo explica que o estímulo para o florescimento dos Ipês vem da luminosidade e não do clima ameno ou seco, comum no período da estiagem. “Na verdade, o que sinaliza ao Ipê quando será sua floração é a luminosidade. Os dias mais curtos nessa época do ano induzem a floração das espécies. A temperatura praticamente não interfere nesse processo”.

Segundo Gláucio, no bioma do Cerrado, a floração do Ipê geralmente ocorre nos meses que correspondem ao início de julho até o fim de setembro. Sobre a variação do período de floração dessas plantas, o biólogo afirma que é a chuva que determina se ela aparece antes ou depois do esperado em alguns lugares. “Os dias variam muito pouco em luminosidade de um ano para o outro. O que muda mais é a disponibilidade de água. Se houve mais ou menos chuva no período que precede a floração dessas árvores”, explica o biólogo.

Flores durante todo ano

Ele ainda conta que apesar do Ipê florir apenas no período de estiagem, o Cerrado tem outras flores durante todo ano. “Outras plantas têm flores que se destacam no nosso bioma. A barriguda, também chamada de paina; a maninha de porca; escorrega macaco, uma árvore de casca amarela e muitas outras que não são árvores”.

Gláucio revela que o Ipê que floresce com coloração branca é a mais difícil de encontrar, inclusive na zona rural. Muitas pessoas confundem a árvore Ipê com a Caraíba. O biólogo esclarece o motivo da confusão. “Em alguns locais, o Ipê amarelo é chamado de Caraíba. Também existe um Ipê que tem Caraíba no nome científico, o Tabebuia caraíba”, diz.

No entanto, Gláucio declara que a Caraíba pode ser outra espécie de planta, a Cordia  calocephala. Daí o motivo de tanta confusão. “Algumas vezes, a Caraíba é um Ipê. Outras vezes, pode não ser. É necessário um botânico ou um mateiro conhecedor da flora local para  apontar as diferenças”.

Desmatamento ameaça habitat natural dos Ipês  

Apesar de ser muito comum no ambiente urbano, o biólogo Gláucio Freitas afirma que os Ipês se encontram ameaçados em seu hábitat natural. “As áreas naturais endêmicas dessas árvores enfrentam franco desmatamento, especialmente em regiões do Cerrado, bioma mais ameaçado destas últimas décadas. Elas também estão ameaçadas na Amazônia e na Mata Atlântica, devido à supressão vegetal secular que ocorre nos estados onde essa mata e estes Ipês se desenvolvem”, explica o biólogo.

Além disso, Gláucio diz que os ipês também são utilizados na indústria madeireira e isso potencializa sua derrubada na natureza. “Os maiores inimigos dos Ipês são a expansão agrícola e a indústria madeireira. Por incrível que pareça, as populações de Ipês de Goiás não correm risco iminente de extinção e nem figuram ainda como espécies ameaçadas individualmente”. Os estados onde a espécie está mais devastado são Maranhão, Tocantins e Mato Grosso.

No entanto, o biólogo alerta que essa situação está prestes a mudar. De acordo com os últimos dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o Cerrado está sendo desmatado cinco vezes mais rápido que a Amazônia, bioma que possui o dobro de extensão. Um dos fatores que favorecem essa exploração é a vegetação de pequeno e médio porte do Cerrado, que pode ser retirada com maior facilidade do que as grandes árvores milenares da Amazônia.

Polinizadores

De acordo com o biólogo, os Ipês são fonte de energia para agentes polinizadores em uma época do ano muito crítica para eles conseguirem alimentos. “Os agentes polinizadores são aves, abelhas, besouros moscas e morcegos”. Ele diz que as flores dos Ipês sustentam esses animais até que as outras floradas se abram. “Se a espécie desaparecer, esses animais também estarão em risco”, pontua.

De acordo com uma pesquisa feita pelo Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS) e de outras instituições nacionais e internacionais, o bioma poderá perder até 34% da fauna e flora que ainda lhe restam nos próximos 20 anos.

Tamanha devastação levaria ao desaparecimento de 1.140 espécies endêmicas – um número oito vezes superior ao número oficial de plantas extintas em todo o mundo desde o ano de 1500, quando começaram os registros. Ainda de acordo com o estudo, o Cerrado brasileiro possui mais de 4,6 mil espécies de plantas e animais que não são encontrados em nenhum outro lugar do planeta. (Especial para O Hoje)

 

Veja Também