Governo Federal pode descartar 6,8 milhões de testes de Covid-19

Exames estão armazenados em Guarulhos. União investiu R$ 764,5 milhões em testes e as unidades que estão quase perdendo a validade custaram R$ 290 milhões| Foto: Reprodução/ Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

Postado em: 22-11-2020 às 17h30
Por: Redação
Imagem Ilustrando a Notícia: Governo Federal pode descartar 6,8 milhões de testes de Covid-19
Exames estão armazenados em Guarulhos. União investiu R$ 764,5 milhões em testes e as unidades que estão quase perdendo a validade custaram R$ 290 milhões| Foto: Reprodução/ Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

Da Redação*

Há risco de perda de 6,86 mi de testes para diagnósticos de Covid-19. Os testes comprados pelo Ministério da Saúde perde a validade entre dezembro deste ano e janeiro de 2021. A informação foi publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo neste domingo (22). Esse número corresponde a 96% dos 7,15 mi de exames estocados. O restante vence em março. O Poder360 procurou o Ministério da Saúde, que afirmou não ter informações disponíveis sobre o tema.

Os exames RT-PCR estão sendo armazenados pelo governo federal em Guarulhos e ainda não foram distribuídos para a rede pública. O Brasil pode acabar descartando mais exames do que já realizou até agora porque o SUS aplicou 5 milhões de testes desse tipo. O Ministério da Saúde investiu R$ 764,5 milhões em testes e as unidades que estão quase perdendo a validade custaram R$ 290 milhões.

Continua após a publicidade

A compra é realizada pelo governo federal e a distribuição é feita só com a demanda dos governadores e prefeitos. Por essa razão, a responsabilidade pelo prejuízo, se os testes vencerem sem serem usados, virou 1 jogo de empurra entre o ministério, Estados e municípios. Enquanto o governo federal afirma que sua parte se resume a comprar, os outros dizem que o material fornecido é incompleto por faltar capacidade para processamento das amostras.

O RT-PCR é considerado o padrão-ouro para o diagnóstico da covid-19. A coleta é realizada por meio de 1 cotonete aplicado na região nasal e faríngea (região da gargante atrás do nariz e da boca) do paciente. O exame custa de R$ 290 a R$ 400 na rede privada.

As informações sobre o prazo de validade dos testes em estoque estão registrados em documentos internos do ministério, com compilação de dados até 5ª feira (19.nov.2020), segundo a reportagem. O ministério já solicitou ao fabricante análise para alongar o prazo de validade dos produtos. Mas, deve continuar 1 dos problemas que travam o fluxo de distribuição, a falta de outros componentes para realizar testes.

A pasta afirma que só entrega os testes quando os Estados pedem e nem as 8 mi de unidades já repassadas foram totalmente consumidas. Secretários estaduais e municipais de Saúde dizem não usarem todos os testes porque receberam kits incompletos para o diagnóstico, com número reduzido de reagentes usados na extração do RNA, tubos de laboratório e cotonetes para coletar amostras. Além disso, veem dificuldade em processar amostras e isso atrapalha o repasse dos produtos, porque as prefeituras, em especial, não têm como armazenar grandes quantidades.

O ministério lançou duas vezes o programa Diagnosticar para Cuidar, que previa 24,2 milhões de exames no SUS até dezembro. Só 20% foram feitos. A pasta também prometeu insumos para entregar kits completos, mas isso foi travado por suspeita de irregularidades, atualmente sob análise do TCU (Tribunal de Contas da União).

Com meta de atingir 115 mil testes por dia no SUS, o ministério registrou em outubro média de 27,3 mil na rede pública, número menor ao dos 2 meses anteriores. Militares com cargos na pasta ouvidos pelo Estado de S. Paulo consideram o ritmo razoável. O ministro Eduardo Pazuello já afirmou a auxiliares que há testes suficientes nas mãos de Estados e municípios. A cúpula da pasta acredita que as amostras excedentes podem ser enviadas a centros equipados pelo ministério, como o da Fiocruz em Fortaleza. Gestores da Saúde dizem que o diagnóstico pode ser feito pelo próprio médico, o que tornaria o RT-PCR menos importante.

Mas, especialistas dizem que o teste não serve só para diagnóstico e é essencial na interrupção de cadeias de infecção. “A vantagem da Europa, agora, é que aumentou tanto a capacidade de testagem que é possível detectar casos leves”, diz o vice-diretor da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), Jarbas Barbosa. Para ele, o número de diagnósticos positivos da Covid-19 é 1 bom indicador para avaliar se o país testa pouco. Se for acima de 5%, é sinal de que os testes são insuficientes. No Brasil, cerca de 30% dos exames RT-PCR no SUS deram positivo. 

*Com informações do Poder 360 e O Estado de São Paulo

Veja Também