Obra de muro em Cemitério se arrasta há 6 meses em Goiânia

Vizinhos próximos ao Cemitério Parque reclamam de vandalismo, obra segue sem conclusão | Foto: Wesley Costa

Postado em: 27-01-2021 às 23h59
Por: Sheyla Sousa
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Vizinhos próximos ao Cemitério Parque reclamam de vandalismo, obra segue sem conclusão | Foto: Wesley Costa

Eduardo Marques

Após 6 meses do início da construção do muro do Cemitério Parque, em Goiânia, a obra segue sem conclusão. O local ainda é utilizado para descarte de resíduos e entulho e os túmulos continuam sendo alvos de ações de vândalos. Vizinhos reclamam pela falta de segurança e famílias que vão visitar seus entes queridos que já faleceram correm o risco de encontrar sepulturas reviradas. Obra foi parar na Justiça. Na ação, o Ministério Público pediu para fazer o muro e a calçada.

A obra orçada em mais de R$ 1,1 milhão foi iniciada na última semana de julho de 2020, e, conforme justifica a prefeitura, deve dar maior segurança ao local e preservar a memória dos ali sepultados. Além do muro, o projeto prevê a construção do calçamento em torno do cemitério, onde já foram feitos mais de 200 mil sepultamentos.

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Cansado de buscar a prefeitura de Goiânia para tentar resolver o problema da segurança para moradores vizinhos do cemitério, o encarregado de hortifrúti Paulo Henrique Monteiro, que mora no setor Granja Cruzeiro do Sul, apelou para a imprensa. “Eles prometeram que iriam acabar o mais rápido possível e até hoje nada de finalizar com esse muro do cemitério. Tem essa ‘lixaiada’ aí. As pessoas vêm de outro setor e joga o lixo tudo aí. A prefeitura não cata o lixo daí vai só acumulando. Lá para abaixo tem muitos entulhos e até hoje nada. Só promete. E nada faz esse muro sair logo”, lamenta.

Ao O Hoje, Paulo Henrique conta que o problema pela falta de segurança no local é antigo. “Segurança zero. Ninguém zela desse cemitério. Já tem mais de 20 anos que moro aqui e antes disso os vizinhos já reclamam que eram os mesmos problemas. A prefeitura promete cuidar, mas até agora nada foi feito que beneficiasse a população. Fala que vai ter GCM vigiando, mas vem de vez em quando”, reclama.

Abrigo de criminosos

Ele comenta que o cemitério tem sido usado para abrigar suspeitos de cometer crimes. “Os bandidos que roubam aqui correm tudo para o cemitério e vão atravessando tudo para dentro. Ninguém pega. Precisa melhorar a segurança do setor e fazer esse muro o mais rápido possível que estamos num lugar fica a desejar sem essa obra. Está assim desde o ano passadoe nada acontece para melhorar”, cobra.

O também morador do setor Granja Cruzeiro do Sul, Calice Everson reclama pela demora da conclusão do muro do Cemitério Parque. “Desde que derrubou o muro causa medo na população. Eu tenho um amigo que não passa mais por aqui. Sempre passa por outro lado. Eu também tenho medo de passar por aqui à noite. O lixo atrapalha pelo mau cheiro. As pessoas jogam cachorros mortos, gatos, entulho. Está demorando muito para terminar de concluir esse muro. Faz mais de 5 meses parado. Acho que vai demorar um ano inteiro para concluir toda obra. Não acredito que vão concluir toda obra este ano”, destaca.

Descaso

Há três semanas a empresária Alessandra Rocha Almeida foi ao local prestar homenagem aos pais que se foram. Ela diz ter sofrido uma dor superior à que sentiu quando seus entes queridos faleceram. “Fui com o meu neto acender uma vela nos túmulos de meus pais e quando cheguei, as sepulturas estavam abertas”, relatoua filha, em lágrimas. Alessandra afirma que ficou doente com a situação. “Depois desse dia eu sinto uma dor forte e constante na cabeça que não passa. Adoeci com esse desrespeito absurdo”, lamenta. Ela não crê que a construção do muro vá inibir a depredação.

“Aqui sempre foi desse jeito. A história que aconteceu comigo se repete com muitas pessoas que têm família sepultada nesse cemitério, falta segurança”. Alessandra diz que o cemitério é muito grande e carece de vigilância. “Qualquer um entra e faz o que quiser. Com esse muro não vai ser diferente”, lamenta.

Venda ilegal

A mulher diz que tentou reclamar com os responsáveis pela administração do cemitério e recebeu como resposta que a depredação de sepulturas no Cemitério Parque é comum. “O povo gosta de falar que é vandalismo, mas são os próprios funcionários do cemitério que violam as covas dos corpos para vendê-las a outras pessoas”, defende.

De acordo com a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), a empresa responsável pela obra estaria apontando dificuldades por conta da pandemia do novo Coronavírus. Assessores da pasta ressaltaram que também está faltando material de construção. Além disso, trabalhadores que estavam atuando na obra teriam de contaminado da Covid-19, o que afastou parte da mão de obra do local. A pasta prevê o término da obra em sete meses. A Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social solicitou a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) já foi acionada para fazer a limpeza no local e as obras de construção do muro e calçamento estão em andamento.

Início da construção

À época do início da obra o então secretário municipal de Assistência Social Misair Lemes disse o muro vai ter 2 metros de altura. “O cemitério tem uma área muito extensa. São quase 12 alqueires de extensão. Não só o ponto de vista da segurança, mas como o embelezamento da cidade”.

Ele garantiu que a obra era para garantir à legislação atual. “O que estamos fazendo é adequando à legislação atual, fazendo um calçamento com acessibilidade, onde também será contemplado ao lado uma pista de caminhada de 2 quilômetros em volta do cemitério que também servirá para questão da pessoa fazer exercício físico, praticar algum esporte e não apenas um calçamento irregular que era o que tinha aqui antes”, disse.

Proprietários de terreno reclamam de descaso 

Proprietária de terreno no Cemitério Parque, Gabriela Mendonça, 35 anos, o marido e o filho de 4 anos foram recentemente ao local para visitar o túmulo de um parente e se depararam com vários túmulos abertos, caixões quebrados e mato alto. “Todos os anos vou ao Cemitério Parque, mas nunca vi uma situação como essa. Nem precisei andar muito para começar a ver túmulos quebrados, ossos expostos e mato alto. Fiquei indignada porque nem animais merecem passar por isso”, afirmou a vendedora.

Gabriela conta que foi difícil chegar ao túmulo que eles queriam, porque o filho começou a ficar com muito medo. “Percebi que ele começou a andar muito próximo a mim e também morder a camisa. Tive que falar que aqueles ossos eram de animais. Fiquei muito abalada com essa situação”, disse.

A costureira Thalita Fernandes e a irmã Carolina Fernandes sempre visitam o túmulo dos pais que estão enterrados no local há mais de 30 anos. “Para nós, aqui é um lugar de encontro. Nós sabemos que nossos pais não estão aqui fisicamente, mas é bom vir e relembrar tudo que vivemos”, diz Thalita.

Mas elas contam que uma vez foram ao cemitério e a placa com a foto do pai estava quebrada e uma dentadura em cima do túmulo. “Sabemos que muitas pessoas pulam o muro para usar drogas e fazer todo tipo de vandalismo. É muito triste viver essa realidade pervertida. As pessoas perderam o amor. Chamei meu irmão e nós arrumamos todo o túmulo. Acredito que a família precisa cuidar disso”, ressaltou Carolina. (Especial para O Hoje) 

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