Paulo Betti conversa com o público em sua ‘Autobiografia Autorizada’

Projeto ‘Vivo EnCena’ traz a Goiânia o espetáculo que marca 40 anos de carreira do ator

Postado em: 24-03-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Projeto ‘Vivo EnCena’ traz a Goiânia o espetáculo que marca 40 anos de carreira do ator

Bruna Policena

A comédia dramática Autobiografia Autorizada, de Paulo Betti, chega a Goiânia em turnê do projeto Vivo EnCena. O ator foi quem escreveu a peça, baseada em suas histórias pessoais, e, com parcerias, também dirige e protagoniza, criando um diálogo espontâneo com o público. A direção, com Rafael Ponzi, deu vida ao monólogo que marca a comemoração dos 40 anos de carreira do ator.

O governo do Rio de Janeiro, a Secretaria de Estado de Cultura e a Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio,  juntamente com o Vivo EnCena, são os incentivadores do espetáculo.  O projeto permitiu a Paulo, com muito humor, poesia e dor, mergulhar nas suas histórias pessoais, na vida de seus pais e avós, reafirmando a importância do ensino público e do trabalho social para a valorização do ser humano. Segundo ele, a peça tem “50% de comédia, 25% de drama e 25% de poesia”.

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Paulo conta que, desde pequeno, já escrevia, e a Autobiografia Autorizada foi inspirada nos seus próprios textos, escritos em grandes blocos, durante a adolescência, onde também fazia colagens de fatos da época. O espetáculo também é inspirado nos artigos semanais  redigidos por quase 30 anos para o jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, onde foi criado.      

Sucesso de crítica, o espetáculo foi indicado para o prêmio Shell de Melhor Texto e rendeu a Paulo Betti a indicação para o Prêmio Faz Diferença, do jornal O Globo. Segundo o ator, o sucesso da peça foi um retorno pelo seu amor e sua dedicação, já que o monólogo, por meio de suas histórias e da sua família, causa identificação com cada espectador. “É um mergulho muito intenso na minha memória, amo muito os personagens envolvidos. Fiz com muito amor! Imagine: são meu pai, minha mãe, meu avô, meus irmãos… Acho que isso eu consegui passar. É uma peça feita com amor”. 

Segundo Paulo, lendo as anotações que fez no decorrer de quase uma vida inteira, chegou à conclusão que, o tempo todo, se preparou para revelar as extraordinárias condições que o levaram a sobreviver e a contar como isso aconteceu. “Minha fixação pela memória da infância e adolescência, passada num ambiente inóspito e ao mesmo tempo poético, talvez mereça ser compartilhada no intuito de provocar emoção, riso, entretenimento e entendimento”, completa Betti. 

Trabalhos

Paulo interpretou vários personagens na televisão brasileira que marcaram muitas épocas e renderam vários bordões engraçados. Com mais de 70 participações em novelas e séries desde a Rede Tupi, passou por emissoras como Rede Globo, Bandeirantes e Manchete. Em 2007, atuou na novela Sete Pecados, em que viveu Flávio, um arqueólogo milionário e pai da mimada Beatriz (Priscila Fantin). Em 2014, interpretou o vilão cômico Téo Pereira, um blogueiro em Império, novela de Aguinaldo Silva. E, atualmente, está nas telinhas como Haroldo Sabóia, em Rock Story.

Atuou, dirigiu e roteirizou mais de 30 filmes. Neste ano, finalizou um novo longa-metragem, A Fera na Selva, baseada na obra do escritor norte-americano Henry James, com direção do próprio Paulo, ao lado de Eliane Giardini – adaptação para o cinema do espetáculo que ele encenou com a atriz e ex-mulher, em 1992, e com o qual recebeu o Prêmio Shell de Melhor Ator. As filmagens foram realizadas em Sorocaba, cidade onde Paulo passou a infância e adolescência e conheceu Eliane. É produtor e diretor do filme Cafundó, estrelado por Lázaro Ramos, baseado no primeiro trabalho de campo do grande sociólogo Florestan Fernandes, filme vencedor de mais de 20 prêmios.

Convite

Depois da apresentação de sábado (25), Betti pretende desenvolver um bate-papo sobre o lançamento do filme A Fera na Selva, adaptação da novela de Henry James. Nesta conversa, o ator pretende “envolver quem aparecer ao bate-papo no lançamento do filme em uma espécie de curso de cinema”. Paulo Betti convida: “Me ajude a conseguir a listar soldados para esse exército cultural!”.

A ideia é que quem se interessar pelo ‘curso’, receberá primeiramente, pela internet, o livro de Henry James. Depois, a adaptação do roteiro que Paulo fez. Mais adiante, todos poderão ver o filme no cinema ou na TV e, então, fará uma oficina onde discutirão o processo. Gostaram? Ele ainda explica: “Estou inventando um novo meio de lançar o filme, pois, na situação atual dos filmes brasileiros que não são comédia, a coisa está feia”. O sapo não pula por boniteza, mas por precisão, necessidade”, dizia Guimarães Rosa.

 

Entrevista: PAULO BETTI  

Na peça Autobiografia Autorizada, você conta mais da sua vida pessoal do que da profissional, apesar da intenção de comemorar seus 40 anos de carreira. Em que momento você decidiu criar o monólogo e sentiu vontade de contar suas experiências pessoais no teatro?

Só percebi que estava fazendo 40 anos de carreira quando o divulgador da peça me alertou.  Venho escrevendo desde menino. Agora senti vontade de contar a história da minha infância e juventude no palco, pois alguns amigos começaram a me alertar para aspectos extraordinários de minha vida, e começaram a dizer que sou um bom contador de histórias. Acreditei e criei coragem para esse desnudamento que é a peça. Percebi que minha história era um pouco da história de um Brasil profundo; falo dos meus avós imigrantes e sobre o quilombo onde fui criado.

Qual a intenção da peça ao utilizar o diálogo e a interação com o público?

Eu falo direto com o público, olhando para quem esta assistindo, mas não constranjo ninguém a participar. Quero que fiquem atentos e me sigam. Geralmente, o público ri muito. A intenção é manter o humor e a atenção das pessoas, e tenho conseguido.

Como é a experiência de atuar e dirigir em uma mesma peça?

É complicado. Pode-se perder a mão, o senso crítico. Eu escrevi a peça também, mas contei com dois excelentes auxiliares, minha filha Juliana e meu amigo Rafael; eles me ajudaram a ficar nos trilhos e a cortar os excessos.

Como foi sua infância na zona rural, no interior do Estado de São Paulo?

Muito rica de emoções e em contato com a natureza. Era um universo muito curioso: o bairro em que fui criado era uma espécie de Quilombo. Saíram de lá três escolas de samba. Tinha muito batuque. E sempre descalço – eu tinha os pés cascudos.

Qual o acontecimento que mais marcou sua vida pessoal?

As crises de esquizofrenia de meu pai eram muito dolorosas para todos da família.

Em que momento você percebeu que queria seguir a carreira de ator? Você recebeu apoio da sua família?

No fim da adolescência. Minha família não tinha preconceito em relação à minha escolha. Eles não achavam que o teatro era a perdição. Meus pais eram analfabetos. Eles não interferiram.

Como é sua relação com a atriz Eliane Giardine? E de que forma suas filhas ajudaram na construção das histórias da sua vida pessoal?

Minha relação com a Eliane é excelente. Minha filha Juliana foi assistente de direção da peça e foi a primeira a ouvir o texto; teve importância fundamental em muitas decisões com relação aos cortes que tive de fazer.

Vários críticos consideraram a peça um sucesso. Ao que você atribui isso?

É um mergulho muito intenso na minha memória. Amo muito os personagens envolvidos, e fiz com muito amor. Imagine: são meu pai, minha mãe, meu avô, meus irmãos, e acho que isso eu consegui passar. É uma peça feita com amor.

Após a comemoração dos 40 anos de carreira, quando você olha para sua trajetória, o que você pensa?

Penso que fiz o melhor que pude,  e não me poupei. Tive sorte, fui abençoado.

Qual sua expectativa para as apresentações em Goiânia?

Estou muito ansioso para voltar ao teatro onde fiz Deus da Carnificina. Goiânia tem um excelente público, e tenho amigos na cidade, como o genial artista Siron Franco.

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