“Para fazer ‘Dzi Croquettes’ é preciso coragem”

Espetáculo ‘Dzi Croquettes’, inspirado no famoso grupo homônimo, chega a Goiânia neste fim de semana

Postado em: 25-03-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Espetáculo ‘Dzi Croquettes’, inspirado no famoso grupo homônimo, chega a Goiânia neste fim de semana

Natália Moura

Em plena ditadura militar, um grupo de teatro e dança ganhou destaque no Brasil. Conhecido por suas performances ousadas e pelo visual exuberante, o Dzi Croquettes inspirou e continua inspirando diversos artistas nacionais e internacionais. Em 2009, Tatiana Issa e Raphael Alvarez dirigiram um documentário sobre o grupo, o que resultou na criação do espetáculo Dzi Croquettes em Bandália, concebido pelo ex-integrante do grupo original, Ciro Barcelos. De acordo com ele, fazer parte do Dzi Croquettes foi uma grande iniciação no mundo das artes cênicas. “Foi uma experiência que me marcou para o resto da vida. Eu tinha 17 anos e estava começando minha carreira. Entrei nesse grupo, que era uma resistência política muito forte na época, e aprendi muito”, relembra. 

Exilados na França em meados de 1970 pela ditadura militar, o Dzi Croquettes se consagrou internacionalmente. “Inicialmente foi dolorido, mas, como nós chegamos lá e tivemos logo um sucesso muito grande, esse exílio se transformou em um grande prazer”, conta Ciro, que completa que o Dzi Croquettes logo que começou a se apresentar nos palcos de Paris, eles conquistaram a capital. “A plateia era recheada de grandes estrelas, como Mick Jagger, David Bowie, Liza Minelli e outros artistas internacionais de grande porte”, afirma. 

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Dzi Croquettes em Bandália será apresentado em Goiânia nos dias 25 e 26 de março (sábado e domingo), no Teatro Sesi. No espetáculo, jovens atores se reúnem – inspirados pelo documentário Dzi Croquettes – decididos a viver uma experiência teatral baseada na filosofia do grupo que revolucionou o teatro brasileiro na década de 1970. Na trama, após assistir ao filme, um grupo de atores resolve invadir uma garagem abandonada, que vai se transformando em palco para as experimentações cênicas, auxiliados por integrantes remanescentes da formação original. A montagem prioriza as características do grupo. No elenco, estão Ciro Barcelos, Dante Paccola, Filipe Azeredo, Filipe Ribeiro, Julio Aracack, Paulo Victor Gandra e Rogério Nóbrega. “Não é um espetáculo de corpo de baile, é um espetáculo em que cada um tem que ter uma personalidade muito forte. Para fazer o Dzi Croquettes é preciso coragem e estar muito disponível, porque é um espetáculo muito forte”, conta Ciro sobre a montagem. 

O musical mantém sua forma original, com algumas canções contemporâneas de bandas, como Ira!, Titãs e Mamonas Assassinas, além de estilos como o rap e o eletrônico. Produzido pela Dcarte em parceria com a Gelatina Cultural, Dzi Croquettes foi concebido, escrito e dirigido por Ciro Barcelos, com direção musical de Demetrio Gil e percussão de Vitor de Toledos. Os figurinos foram feitos por Claudio Tovar, também integrante da formação original de Dzi Croquettes. A cenografia é de Pedro Valério e, o desenho de luz, de Guilherme Bondanti. Além do coreógrafo Ciro Barcelos e de Lennie Dale, o musical convidou Eliane Carvalho (Flamenco), Neuza Abbes (Tango) e Rafael Leal( Afro) para trabalharem na coreografia. 

O elenco esbanja vigor físico e apurada técnica teatral para vivenciar suas interpretações ‘masculinas femininas’ tendo como ingrediente principal a paródia. Cheio de humor, com números musicais e coreográficos, o espetáculo satiriza a realidade. De acordo com Ciro, depois de 40 anos o espetáculo ainda choca por conter androginia e abordar a liberdade sexual. “Eu falo isso no palco: ‘gente, parece mentira que quatro décadas depois esse espetáculo ainda choca’, mas eu acho que ele choca, hoje, porque nós estamos vivendo um momento de falsa liberdade, é um momento muito tenso”, conta Ciro. 

Para ele, nos anos 70, mesmo em plena ditadura militar, a juventude era mais rebelde. “Nós tínhamos uma juventude que saiu de suas casas, que descobriu a liberdade do amor, tanto que o lema da época era ‘paz e amor’”, afirma e completa: “Hoje, cada um está cada vez mais encarcerado no seu mundo virtual (…) Essa geração está em um estado de solidão que se agrava cada vez mais”. Por isso, segundo ele, os Dzi Croquettes são tão atuais; eles trazem discussões daquela época que insistem até hoje, como gênero e sexualidade. “Isso a gente discutia lá, em 70, e tínhamos, inclusive, resolvido, porque a gente não estava preocupado se alguém era hétero, gay ou lésbica. Nós convivíamos, juntos, verdadeiramente”, finaliza. 


SERVIÇO:

‘Dzi Croquettes’

Quando: 25 e 26 de março (sábado e domingo)

Onde: Teatro Sesi

Horário: 21h (sábado) e 20h (domingo)

Entrada: Plateia inferior: R$ 130 (inteira) ou R$ 65 (meia-entrada)

Plateia Superior: R$ 110 (inteira) ou R$ 55 (meia-entrada) 

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