‘Primeiramente’: um musical feito para provocar

Show questiona os retrocessos da sociedade, dialogando com músicos e bandas brasileiras

Postado em: 27-04-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Show questiona os retrocessos da sociedade, dialogando com músicos e bandas brasileiras

Bruna Policena

O Teatro Sesc Centro apresenta, nos dias 27 e 28 de abril, o show musical Primeiramente, que trabalha questões de relevância política e social, por meio de músicas para se ouvir lutando. A peça se desata entre as musicistas Ingrid Lobo (voz, guitarra e violão) e Paula Bernardes (bateria e percussão) e as intervenções poéticas de Isabella Naves. O repertório traz grande diversidade de músicos e bandas brasileiras como Elza Soares, Chico Buarque, Legião Urbana e Mulamba.

Primeiramente faz uma reflexão sobre os tempos atuais e como a música pode ser bandeira de resistência e transformação social. Por se tratar de um show com apenas duas musicistas, mesmo as canções mais conhecidas serão vistas com uma nova roupagem, já que todas tiveram de ser rearranjadas, ganhando uma pegada mais rock. Junto a letras e músicas, os arranjos de guitarra e bateria dividem espaço com intervenções de textos que nos trazem verdades que, normalmente, preferimos deixar caladas.

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O show conta com a direção de Wellington Dias, já conhecido por seus trabalhos em teatro e, agora, se dedica à música.  Com 27 anos de experiência, acumula prêmios como ator e diretor em diversos festivais pelo País; atualmente, é Conselheiro de Cultura de Goiás. Ele vê em Primeiramente uma oportunidade de pôr em prática o que chama de seu mantra: ‘Não importa o quanto esbravejem, terão que aceitar que nenhuma mulher voltará para a cozinha, nenhum negro voltará para a senzala e nenhum gay voltará para o armário!’, diz o diretor.

Ingrid Lobo 

Ingrid Lobo é licenciada no ensino de Guitarra-Elétrica pela Universidade Federal de Goiás. Iniciou sua atuação no cenário goiano, aos 7 anos, e vem acumulando experiências em diversas formas de atuação musical. Na Banda Young, atuou como guitarrista, cantora e produtora musical durante seis anos. Já acompanhou artistas de  renome nacional, como o baterista Chocolate e o cantor Saulo, ex-vocalista da Banda Eva. Em 2016, dedicou-se à produção e divulgação de seu trabalho autoral intitulado Soaria Bem. O espetáculo Primeiramente realiza uma antiga vontade da musicista de ter sua música associada a outras formas de representações artísticas. 

Paula Bernades 

Paula Bernades é musicista e professora de música. Formanda pelo curso superior em Música pela UFG, atua como baterista profissional (como freelancer) e em projetos autorais dos quais faz parte. Acumulando nove anos de experiência profissional, agrega em seu currículo também à primeira turnê internacional da Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás como percussionista, onde se apresentou em cidades da região da Cataluna, na Espanha. Sua musicalidade tem influências do rock, da música brasileira, do jazz e do gosto por cantar.  Primeiramente agrega à sua expressividade artística a influência do teatro e dá interpretação, permitindo o seu fazer musical ser cada vez mais verdadeiro e autêntico, somado à competência dos parceiros de trabalho também membros do projeto. 

Isabella Naves 

Isabella Naves é atriz e jornalista. Iniciou suas atividades artísticas com o diretor e historiador Wellington Dias em 2008, somando nove anos de parcerias nos palcos. Trabalhou também com diversos diretores do cenário teatral goiano, interpretando diversos personagens. Atualmente, trabalha na Cia. de Teatro Sala 3 e no Grupo de Teatro Fábrica de Teatro. Primeiramente é sua primeira participação em um show musical, e a atriz se diz animada com essa nova experiência e em trabalhar ao lado de uma equipe de artistas tão talentosos.  

ENTREVISTA: ISABELLA NAVES 


Como surgiu o convite e a parceria entre as duas musicistas e a atriz (você)?

A Ingrid e a Paula já tinham a ideia de montar um show musical rearranjando algumas canções e que tivesse essa característica de abordar a situação política atual do País. Como nos conhecíamos de um trabalho anterior, e eu também queria me posicionar sobre os mesmos assuntos, pensamos que seria legal se eu pudesse fazer algumas intervenções poéticas e provocações com a plateia.

Como foi o processo criativo do show? 

As meninas já tinham os arranjos de algumas músicas. Ouvimos o que elas já tinham e começamos a pensar o conceito, os temas que queríamos abordar. Já começamos a pensar em alguns textos. Nesse primeiro momento, tínhamos material para um show de umas quatro horas! Como estávamos muito envolvidas no processo, entendemos que seria preciso um olhar de fora para ajudar a editar o material, e foi aí que convidamos o Wellington Dias para a direção. Já era nosso conhecido, diretor de teatro premiado e com histórico de militância por questões humanitárias. Era o nome ideal! A partir daí, foi um processo a oito mãos, e aqui estamos.

De que forma selecionaram a trilha sonora? 

Como teríamos de refazer os arranjos, escolhemos principalmente pelo que a música dizia! O discurso de cada canção era extremamente importante para nós.

As intervenções poéticas são de criação para o show? 

Usamos trechos de Gabriel O Pensador e Elisa Lucinda como poesia. Os outros textos foram escritos por nós quatro. Posso dizer que é um mix.

O show questiona quais temáticas?

A corrupção na política brasileira, a situação que estamos vivendo com um governo que parece estar empenhado em retirar os direitos conquistados pelo povo, em décadas e décadas de lutas, o avanço crescente de discursos de ódio – como o machismo, a homofobia e o racismo –, a importância do estado laico. Todos esses assuntos são muito presentes no show.

De que forma vocês interpretam e defendem o papel da mulher no teatro, na música?

Começamos o show dizendo que é preciso viver, sobreviver, existir e reexistir. Estamos vivendo um momento extremamente importante em que tudo está mostrando a cara: o opressor grita, mas os oprimidos não ouvem mais calados! Agora, estamos revidando! As artes têm sido, historicamente, um lugar de refúgio das minorias. O teatro e a música são, via de regra, lugares que defendem a igualdade de gêneros. Mas claro que todos os lugares da sociedade acabam sendo infectados com a misoginia. No entanto estamos aqui: usando nossa arte para tomar os lugares de poder e de discurso! Essa é nossa forma de mostrar o lugar que sabemos que merecemos!

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