Amizades além do tempo

Sem ligar para o tempo e contabilizando décadas, amizade se converte como um dos sentimentos mais fortes e valorosos. Conheça histórias

Postado em: 20-07-2017 às 16h15
Por: Guilherme Araújo
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Sem ligar para o tempo e contabilizando décadas, amizade se converte como um dos sentimentos mais fortes e valorosos. Conheça histórias

Guilherme Araujo

Mary e Adriana sempre foram
amigas e faziam tudo juntas. Foram capazes inclusive de desafiar a arrogância
do tempo. Como prova de que a amizade é um sentimento poderoso, o laço foi tão
forte que passou para a geração seguinte, com as filhas. A fisioterapeuta Mara
Viegas e a odontóloga Michelly Borges levam consigo boas histórias dos 36 anos de
amizade. “Quando cursávamos o fundamental, fugimos no recreio para comprar
lanche. Pulamos o muro do colégio. Quando voltamos, a diretora e nossas mães
nos esperavam. Fomos obrigadas a escrever “um milhão” de vezes a frase “não
devemos desobedecer as normas da escola”, relembra entre risos.

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Embora ainda haja quem se valha da
antiga sabedoria popular que diz que “antes só que mal acompanhado” e seja
importante tirar um tempo para si próprio, estudos recentes comprovam que uma
em cada três pessoas nos países ocidentais diariamente ou com freqüência se
sente só. Um estudo das universidades de York, Liverpool e Newcastle,
na Inglaterra, igualmente traçou uma linha entre a solidão e problemas de saúde.

Acompanhando aproximadamente 180 mil
pessoas, descobriu-se que as mais solitárias tinham problemas cardíacos e de
circulação. Concluiu-se que viver longe de amigos e da família aumentava em 30%
as chances de se ter um ataque cardíaco ou ainda um derrame. O estudo mostraria
ainda que pessoas solitárias tendem a nutrir hábitos nada saudáveis, como os
vícios do álcool e do cigarro e o desprezo pelo esporte – fatos que poderiam
ser explicados pela presença de cortisol, hormônio responsável pelo estresse –
e que minimizaria riscos de posteriores problemas de saúde.

A psicóloga clínica Stéfany Bruna Brito
Pimenta explica que o homem se torna humano apenas a partir da relação com o outro: “Desde o primeiro momento da vida de um bebê, a cada troca cultural, nos construímos nesse processo de compartilhamento. É dessa forma que se dão os
vínculos afetivos”, diz. Para ela, é a partir daí que se expande uma teia de
relações que segue para outros âmbitos da vida, tornando vínculos como a amizade
fundamentais: “O grande benefício da amizade é encontrar alguém que compartilha
algo com você, alguém que você possa fazer trocas, significar suas
experiências”, completa.

A qualidade das relações é outro
aspecto destacado. Em uma sociedade cada dia mais definida como
globalizada e que preza pela diminuição de fronteiras, o panorama é dúbio:
percebem-se ao mesmo tempo situações frequentes de isolamento, o que para a
psicóloga se trata de um aspecto negativo pensando em riqueza e longevidade: “Trata-se de algo muito importante para a durabilidade das relações, mas isso tem sido colocado em xeque, o que hoje torna um desafio conseguir
manter relações duradouras e que perpassam o tempo”, ressalta.

Entre décadas

Esperando uma aula de Direito Tributário
II, a estudante Regina Vasconcelos, de 46 anos, conheceu o amigo, Moisés
Vieira, de 25, no pátio da faculdade. “A primeira impressão que tive dele era
de alguémsem muitas responsabilidades, algo normal para pessoas da idade que
ele tinha até então”, conta. Porém, a identificação foi instantânea. “Em pouco
tempo, a nossa afinidade intelectual e até espiritual já era grande”, explica.
Moisés, por sua vez, conta que o que mais os aproximou foi a sagacidade da
amiga. “Ela é muito inteligente e temos visões políticas, culturais e
educacionais muito parecidas, além do tarô, uma paixão em
comum. Vejo a Regina como uma irmã de outra mãe”, brinca.

Stéfany explica que
eventuais conflitos podem inclusive fortalecer laços. Ela enfatiza que as
adversidades sempre figuraram n e se devem ao fato
de que por essência, o ser-humano é diferente: “O conflito por si só não é
negativo. A forma como vou lidar com isso é que pode causar uma grande tensão,
um desgaste, uma dificuldade e uma eventual ruptura das relações”, assegura. O essencial seria aprender a lidar com as
adversidades e praticar a empatia pelo outro: “Essa diversidade nos enriquece
quando sabemos lidar com ela. O atrito pode ser um gatilho de crescimento e
de fortalecimento de todas as relações e, mais precisamente, das nossas
amizades. Isso enriquece e agrega”, afirma.

Hoje, já formados, Regina e
Moisés lembram de momentos que exemplificam que nem toda amizade é perfeita. “Moisés é tudo para
mim! É uma pessoa que vou levar pro resto da minha vida. Nós brigamos,
discutimos a relação, contamos as nossas dores e nos respeitamos.
Mas no fim, nos damos muito bem”, diz. 

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