Mulheres no poder

Com ingressos esgotados, 1º dia do tradicional Festival Vaca Amarela teve catarse total promovida por expressividade feminina

Postado em: 23-09-2017 às 14h00
Por: Guilherme Araújo
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Com ingressos esgotados, 1º dia do tradicional Festival Vaca Amarela teve catarse total promovida por expressividade feminina

Salma Jô, vocalista da banda Carne Doce, no Festival Vaca Amarela 2017. Foto por Guilherme Araujo

Guilherme Araujo*

Foi soprando uma suave e fugaz brisa, responsável por marcar
o início da Primavera que começou nesta tarde de sexta (23), é que brotaram
flores no Centro Cultural Oscar Niemeyer. Uma metáfora bastante aplicável às
mulheres que comandaram a 1ª noite da 16ª edição do Festival Vaca Amarela. A
lua ainda caía no céu quando foi dada a largada de apresentações. Pouco a
pouco, fãs começaram a se aglomerar no Palácio da Música para assistir aos 6
shows do folhetim, que quanto mais maduro se mostrava, mais força assumia.

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Com música para todos os gostos, flertando com o pop, o rock
e o funk, atrasos marcaram o início dos shows, o que acabou prejudicando o
tempo de todas as bandas e artistas que tocariam, reduzindo-os pela metade. No
entanto, nada foi capaz de apagar a opulência do público, ansioso, e dos
intérpretes.  

A cantora goiana Chell foi a primeira a subir ao palco, em
uma apresentação marcada pela delicadeza e a sutileza de canções de amor que
fizeram durante meia hora casais dançarem embalados, nada temerosos. Logo após,
a cantora Niela ganhou os holofotes em um show etéreo e fluído, regado a
guitarras que constituíram uma fusão própria de nostalgia e  voz grave e afinada.

Em seguida, foi a vez de Bruna Mendez subir ao palco. Como quem
não queria muita coisa, nem parecia ser dona de vocais poderosos e letras engenhosas
que fizeram de seu disco, “O mesmo mar que nega a terra cede à sua calma”,
lançado no ano passado, um dos mais elogiados pela crítica. Ao tomar a guitarra
para si, mostrou que intensidade e objetividade são seu forte, trazendo uma
proposta unicamente musical, diferente de outras que por ali também passaram, caracterizadas
por uma combinação de canto e performance. Unânime, o Palácio assistiu sua
apresentação inebriado. Encerrou ao som de “Calor Sol e Sal” com seu recado
dado, sem meias palavras e com um público bastante satisfeito.

Todavia, um dos pontos altos da noite viria, sem dúvida, com
funk divertido e escrachado do grupo brasiliense Sapabonde. Com letras abusadas
e cantadas sem medo em tempos duros de moralismo, o público veio abaixo com insinuações
para lá de sexuais e com discursos políticos afiados. Além de sucessos,
cantados junto a uma plateia que ao fim ovacionou o grupo de amigas que foram o
bonde, ainda foi possível ouvir releituras de clássicos do funk carioca como “Boladona”,
de Tati Quebra Barraco.

Rock n Roll

O cenário mudou drasticamente de figura a partir das 22h30,
quando artistas vestindo tênis all star, meia arrastão e estampas militares
tomaram conta do lugar. A fim de honrar mais uma vez o título de Goiânia Rock
City, a banda paulista Deb and the Mentals convidou o público, com quem
interagiu de forma bastante espontânea, a respirar ares mais densos. Pareceu
confortavelmente se sentir em casa, e com fortes influências do punk e do
grunge, gêneros bastante conhecidos dos fãs do bom e velho rock, ousou ao se
consagrar como a única banda a tocar canções em outra língua, o inglês.

Mas foi pontualmente à 00h que a banda Carne Doce, já
veterana em edições passadas do Vaca Amarela e, no mais, na posição de anfitriões
da casa, subiu ao palco. Com talvez um único defeito, a apresentação foi curta
demais, contando apenas com 5 faixas de um repertório ímpar. Apoiando-se no
disco mais recente do grupo, “Princesa”, lançado em 2016, depois de abrir com a
faixa homônima, seguiram-se a divertida “Cetapensâno”, as poderosas “Artemísia”
e “Falo”, para que ao final, tirando o fôlego do público, fosse ouvido um coro
entre as 2.300 pessoas presentes no local que cantaram a controversa “Passivo”. Afinados em voz, guitarra e bateria, em uma sintonia ímpar, provaram-se uma vez mais donos de um sabor legitimamente goiano e sons próprios, Salma Jô parecia
flutuar no palco em alguns momentos, evidenciando sua condição de “fada do rock”.

Notadamente, o cenário se moldou uma “salada de frutas”,
tamanha sua pluralidade, exemplificada em aspectos que talvez possam ser em
síntese a prova de que o objetivo da festa tenha sido alcançado – cultuar a
diversidade. Já era início de madrugada quando o clima esquentou e Drag queens
de todos os estilos, munidas de saltos altos, perucas coloridas – e impecavelmente
ajeitadas, diga-se de passagem – e maquiagens extravagantes tomaram conta do
cenário. Para trazer ainda mais conforto à proposta, DJs tentaram animaram o
público enquanto modificações eram feitas no palco, sem muito sucesso graças à
espera que se arrastava.

Regida unicamente por um DJ e com uma apresentação marcada
por sérios problemas técnicos – sem microfone, o show precisou ser interrompido
duas vezes ainda na primeira música – o que se viu foi uma catarse total quando
as cortinas se abriram e Pabllo Vittar saudou Goiânia. Dona de uma proposta recheada
de hits, mesclados entre novos e antigos trabalhos como “Minaj”, “Corpo Sensual”
e até mesmo um cover à capella de “Man Down”, de Rihanna, a drag queen
maranhense exalou sensualidade e uma recíproca de carinho com os fãs. Embalada
por muita euforia e um fôlego invejável, Pabllo parecia estar mesmo “preparada
para atacar”, como canta em um dos trechos de “Sua Cara”, parceria sua com
Anitta e o duo Major Lazer. A artista dançou, bateu cabelo e fez a alegria dos
presentes que por incontáveis vezes tentaram invadir o palco. Ao fim da
apresentação, o público foi nocauteado – e com certeza, para todos ali
presentes que gritavam seu amor por Pabllo, não houve espaço para ódio, preconceito
e intolerância. Nesta noite, o amor venceu.

* Guilherme Araujo é estagiário do jornal O HOJE, sob
supervisão de Naiara Gonçalves e foi convidado a participar do evento.  

Fotos: Guilherme Araujo

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