‘Poteiro, o colorista do Brasil’ em Belo Horizonte

Em 1958, Potero morou com a família em Goiás. A Mostra traz retrospectiva do artista que, por meio da pintura, expressou as tradições brasileiras

Postado em: 25-09-2017 às 12h00
Por: Kamilla Lemes
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Em 1958, Potero morou com a família em Goiás. A Mostra traz retrospectiva do artista que, por meio da pintura, expressou as tradições brasileiras

A exposição
Retrospectiva ‘Poteiro, o colorista do Brasil’, será inaugurada no dia 26 de
setembro na Errol Flynn Galeria de Arte em parceria com o Instituto Antônio
Poteiro, em Belo Horizonte. A mostra, que acontece do dia 27 de setembro ao dia
14 de outubro, é a maior exposição sobre o artista já realizada, e trará as
principais obras do pintor que registrou as lendas, tradições e riquezas do
Brasil. Antônio Poteiro é reconhecido no Brasil e no mundo com sua arte
“original, incisiva e rude”, como define o crítico Olívio Tavares de Araújo.

A exibição será composta por 90
obras do artista – 83 pinturas e 7 cerâmicas. A diversidade temática de Poteiro
será revelada através de quadros como “O Cavaleiro”, “Brasil” e “Renovada em
Verde” e esculturas como “Madona e o menino” e “Os Músicos”. Segundo o curador da
Exposição, Errol Flynn Júnior, a singularidade de Poteiro se expressa por meio
das linhas imperfeitas e rugosas, mescladas às inúmeras nuances do artista.
Essa peculiaridade faz com que suas obras saltem aos olhos de todos.

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A exposição sobre Poteiro “é uma
forma de dizer obrigada ao mestre das cores por ter realizado tantas coisas
bonitas e alegres, afirma o curador. Errol ainda salienta a importância do resgate
da trajetória desse artista perante o avanço da arte contemporânea, já que às
vezes esse avanço faz com que grandes talentos, e pintores consagrados, sejam
esquecidos. “O Poteiro tem algumas coisas que poucos pintores possuem, ele tem
identidade própria, ele realmente é um grande pintor, escultor, e toda
homenagem é merecida”, ressalta o curador.

Antônio Poteiro

O
artista Antônio Batista de Sousa, mais conhecido como Antônio Poteiro, nasceu
em 1925, em Portugal, na Aldeia Santa Cristina da Pousa, mas sua família migrou
para o Brasil, em Araguari (Triângulo Mineiro), no ano seguinte, quando ele
ainda era bebê.  Poteiro iniciou suas
atividades como ceramista ainda jovem, já que herdou de seu pai a técnica e a
sensibilidade para essa arte. Mas o grande desejo de Poteiro era se tornar
poeta, sonho que foi concretizado como ele mesmo costumava afirmar: “… fiz da
cerâmica e da pintura a minha poesia”. Contudo, antes de ser reconhecido como
artista plástico, ele atuou em outras profissões como porteiro, vigilante,
servente e administrador.

Em 1958, Antônio Bastista, com
sua família constituída, passou a morar em Goiás. Por sugestão da folclorista
Regina Lacerda, o artista adotou o apelido Poteiro, devido seu antigo ofício.
“Sou geralmente chamado de Poteiro, por causa dos potes que faço”, afirmava o
artista. Posteriormente, estimulado por Siron Franco e Cleber Gouvêa, Poteiro
começa a pintar telas, que futuramente seriam expostas em mostras no Brasil e
no mundo. O novo artista plástico alcançou prestígio de forma rápida, tanto que
em menos de 10 anos do início da carreira, Poteiro já expôs, em 1979, suas
obras na conceituada Galeria Bonino, no Rio de Janeiro. Desde então, o artista
começou a ganhar ainda mais visibilidade, levando sua arte para diversos países
como Japão, Alemanha, Itália, Marrocos, França, México e seu país de origem,
Portugal.

Poteiro traz para as artes
plásticas uma narrativa impregnada de primitivismo e inteligência. “O poteiro
sempre foi muito inteligente dentro da sua cultura popular, ele sacava muito,
pegava as coisas contemporâneas no ar”, conta o artista plástico Siron Franco. Antônio
revela um Brasil visto sob uma nova ótica, com bom humor e ironia, misturando
obras sacras e profanas. Para o crítico Enock Sacramento, a pintura de Poteiro
tem uma inventividade deslumbrante, que é difícil encontrar na arte plástica
brasileira. “O que ele nos legou é uma riqueza extraordinária, de uma magia
envolvente e bela”, afirma o crítico. Segundo Siron Franco, o talento do
Poteiro aflorou e ele foi embora; não tem uma explicação lógica, a explicação é
o talento.

Reconhecimento

Antônio Poteiro
recebeu muitos prêmios e homenagens de entidades públicas e privadas durante
sua trajetória artística, vindo a falecer no dia 8 de junho de 2010, aos 84
anos. Em 1997, Antônio Poteiro foi
congratulado no Brasil com a Medalha de Ordem e Mérito Cultural do Brasil,
entregue pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, entre outros. Já fora do
país, o artista foi gratificado com
a Elaboração do prêmio Unesco para 2001 e com a Comenda de Oficial da Ordem do
Mérito, Governo da República Portuguesa – Menção Honrosa na I Bienal
Internacional de Óbidos.
Além disso, há vários filmes sobre a história
do artista e referências bibliográficas, sua contribuição à arte e à cultura
goiana e brasileira foi e continuará sendo reconhecida.

Para Siron Franco, o que
leva alguém a ser artista é absolutamente desconhecido, como o pensamento; por
isso, para dar certo no ramo não é necessário se tornar reconhecido e famoso, é
preciso fazer algo que você acredita. “O mais importante, pra mim, é o desejo
de fazer, de ser genuíno”, conta Franco. Siron ainda ressalta que a
exposição sobre Poteiro é fundamental para perpetuação do trabalho do artista.
“Você não pode enterrar as obras que alguém produziu e fez. A memória é
fundamental, o mundo só existe porque alguém cuida da memória de todas as
coisas que existiram até hoje, sem memória o mundo não existe”, afirma
Franco.   

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