Cuidado com a bruxa, João e Maria!

Apresentação, nesta quinta (18), mostra versão da história repleta de interação com o público

Postado em: 18-01-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Cuidado com a bruxa, João e Maria!
Apresentação, nesta quinta (18), mostra versão da história repleta de interação com o público

GUSTAVO MOTTA*

Continua após a publicidade

Contos ganharam novas versões, significados e representações ao longo do tempo. Uma das histórias de origem europeia, que foi mantida pela tradição oral e chegou à atualidade, apresenta João e Maria (no original alemão, Hänsel e Gretel) como os irmãos que caminham pela floresta e vão parar na casa de uma bruxa. Essa narrativa de fantasia será revivida, na noite desta quinta-feira (18), pela companhia de teatro Flor do Cerrado. A peça João e Maria será apresentada às 17h no Teatro Sesc, Setor Central.

“Esperamos que o público se identifique com os personagens, e que as crianças curtam cada momento desse espetáculo pensado com muito carinho”, afirma o produtor cultural Hélio Martins. João e Maria é um trabalho que vem sendo apresentado pela Flor do Cerrado desde 2014 com o mesmo elenco e equipe de produção: “Essa consolidação do mesmo grupo fortalece o conceito da peça”. Danilo Felipe assina a direção do espetáculo, com coreografias de Iorhana Fernandes, figurinos de Leleco Dias e cenografia de Paulino Pessoa.

Apresentação

Hélio conta que o auditório tem capacidade de 180 lugares e comemora o comparecimento de muitas pessoas para assistir à peça sendo que, até a última quarta-feira (17), cerca de 80% dos ingressos já tinham sido vendidos. “Estamos em uma temporada de férias, e a realização de peças, como essa, chamam muito a atenção das famílias que comparecem com as crianças para prestigiar o nosso trabalho”, afirma. O produtor destaca que ao longo dos anos, a companhia conseguiu estabelecer um público fiel. “O nosso trabalho é muito comunitário, então o elenco e a equipe trazem os familiares para nos assistir, e muitos nos divulgam nas redes sociais”.

Hélio antecipa que a peça garante muita interação com as crianças: “Em muitos momentos, a criançada vai rir e se emocionar com os nossos personagens”. A beleza e simplicidade dos figurinos é outro destaque da apresentação: “Nós somos conhecidos por isso, e sempre encantamos quem vê o nosso trabalho”. Alexandre Barros, 16, atua como João, e conta que ainda sente um ‘frio na barriga’ quando sobe nos palcos. “Mas quando vejo a recepção do público, fico mais calmo”, contorna.

Elenco

Alexandre já participou de outros projetos da companhia, a exemplo da peça As Aventuras de Pinóquio, na qual dá vida ao protagonista.“Muitos dos nossos atores são jovens”, conta Hélio. A Flor do Cerrado foi fundada em 2012 e desde então tem realizado espetáculos voltados ao público infantil com elenco formado na base da própria instituição: “Esses jovens participaram de oficinas que realizamos, e visto o talento e o empenho que demonstraram, foram convidados para atuar em nossas peças”. 

“É um privilégio estar no elenco porque eu sempre tive admiração pelas artes e pelo teatro”, comemora o artista. Alexandre afirma que a equipe da companhia funciona como uma família, onde todos se ajudam. “Eu fico muito honrado em atuar ao lado de outros artistas jovens e alguns que são grandes nomes no teatro infantil em Goiás  (a exemplo de Lucas de Oliveira, que atua em As Aventuras de Pinóquio como Gepeto)”, ressalta o ator. Hélio Martins conta que o personagem João promete chamar a atenção do público: “Ele é bem traquina e esperto, sendo que a irmã às vezes precisa despertar o seu juízo”.

Maria é interpretada por Anna Bê, 20. “Ela é a irmã mais velha do João, e está sempre preocupada com ele, mas também é quem protege o irmão”, afirma. A jovem atriz conta que atuar como Maria exige grande disposição física, porque a todo momento a personagem pula e dança no palco. O elenco é completado por Matheus Martins e Vincícius Queiroz, que são uma dupla de lobos – guardiões da floresta mágica. Sandra Clesys completa o elenco como mãe das crianças, e também como a bruxa má que aprisionou os irmãos na história clássica. Apesar da semelhança com o conto, o produtor afirma que essa versão tem algumas diferenças em relação à trama oral.

Narrativa

“O público infantil é muito exigente – ao contrário do que muitos pensam – até porque, se tratando de um clássico das histórias, as crianças esperam ver aquilo que elas já conhecem dos filmes ou livros”, destaca Hélio. Apesar disso, o produtor afirma que a trama foi pensada para garantir uma viagem da realidade à fantasia: “João e Maria são duas crianças do nosso mundo que, após abrirem um baú de velharias, são transportados ao mundo dos contos de fadas”. A peça começa quando a mãe dos meninos dá ordem para dormir, mas os irmãos se recusam.

“Criança que é criança nunca gosta de dormir cedo, então eles escapam do quarto e vão brincar no porão, onde encontram o baú mágico”, ressalta. Por terem os mesmos nomes dos personagens clássicos, os irmãos recebem dos guardiões da floresta a missão de libertar João e Maria do conto original – que estão presos na casa de doces da bruxa. Além dos nomes em comum, existem outros paralelos entre a história de cada casal de parentes: “O João acaba sendo preso pela bruxa assim como o personagem do conto, e a Maria é hipnotizada e obrigada a executar serviços domésticos”.

O produtor destaca que, em diversos momentos, o elenco se aproxima do público. “A bruxa, por exemplo, é muito divertida e caricata, e interage a todo momento com as crianças”, aponta. Outro momento de interação é o uso de músicas lúdicas, que permitem a combinação das linguagens musical e teatral: “Em várias cenas o elenco canta, inclusive quando os protagonistas jogam as migalhas pela floresta para não se perderem (outro paralelo com a versão original)”. Hélio afirma que as partes musicais foram pensadas coletivamente.

Novos projetos musicais também têm sido pensados, a exemplo de Mariazinha e Chiquinho – Uma Aventura na Terra do rei do Baião, que está sendo ensaiada e produzida, e conta com a gravação de novas músicas. A próxima peça tem data de estreia prevista para abril, e se baseia na obra da escritora e dramaturga Maria Clara Machado. Hélio Martins afirma que o espetáculo vai utilizar a música para transportar as crianças ao universo do sertão, com composições típicas da região e canções de Luís Gonzaga.

Flor do Cerrado

A companhia começou a operar em 2012, e tem apresentado quatro espetáculos na atualidade – além de João e Maria, as peças O Pequeno Príncipe, Os Saltimbancos e As Aventuras de Pinóquio compõem a programação de férias no Teatro Sesc. Hélio afirma que, ao todo, a Flor do Cerrado já realizou mais de seis espetáculos – apresentados a longo prazo em diversas localidades: “Já estivemos em outros estados, como no Mato Grosso e Tocantins, recebendo convites ou nos dirigindo até esses lugares”.

O grupo é mantido pelo Instituto Sócio-Educativo Juvenil (INSEJ), com sede no setor Maysa, em Trindade. “Nós temos desenvolvido muitas atividades com oficinas de música, teatro, capoeira, violão, entre outras, com crianças, jovens e adultos”. A companhia é formada principalmente por jovens que passaram por essas atividades. “Quando o instituto surgiu, em 2002, éramos cerca de 70 jovens católicos que desejavam ajudar as pessoas na profissionalização”, lembra o produtor.

“Em 2010 surgiu a possibilidade de participação em uma iniciativa do governo federal (por meio do Ministério da Cultura – MinC) chamada Ponto de Cultura”, rememora. Os Pontos de Cultura são grupos, entidades e coletivos de finalidade artística, reconhecidos e certificados pelo MinC. “Foi a primeira vez que conseguimos um apoio via edital para a realização das nossas oficinas”, conta. Desde então as atividades culturais passaram a ser fomentadas com mais intensidade no âmbito do INSEJ, que fundou a companhia teatral dois anos depois.

Conto

Hänsel und Gretel é um tradicional conto alemão de origem medieval, cuja versão mais famosa foi documentada pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm em uma coletânea intitulada Contos de Grimm, publicada em língua germânica e lançada pela primeira vez em 1812. Na época, a obra foi severamente criticada por conter excessos de informação que distanciavam as narrativas do universo fantasioso. As edições posteriores exigiram alterações nas histórias, de responsabilidade dos Irmãos Grimm.

Nas primeiras versões a trama começava com uma família pobre, sendo que a mãe persuadia o pai a abandonar as crianças em um bosque devido à incapacidade de alimentá-los. A mãe cruel foi substituída por uma madrasta porque as famílias da época não toleraram um conto sobre violência e abandono infantil – em suas origens, a história demonstrava a violência e pobreza medieval.

Devido à miséria, o abandono e infanticídio eram algo comum durante a Idade Média na Europa (476 – 1453). Famintos, os irmãos carregam apenas as migalhas de um pão, e quando encontram a casa de doces da bruxa, são atraídos pela comida. Um detalhe da narrativa, retomado na adaptação da companhia teatral, é a ligação entre a mãe/madrasta e a bruxa, que são a mesma pessoa. Em João e Maria, tanto a mãe dos meninos nesse mundo, quanto a bruxa no mundo encantado, são interpretadas por Sandra Clesys.

“Nós fizemos uma releitura do conto para uma linguagem infantil, mais divertida e adequada ao público”, reforça Hélio Martins. Um dos destaques lúdicos é a cenografia, executada por meio de um projetor que mostra imagens da floresta e de outros cenários integrados na narrativa. “Alguns elementos cênicos são móveis, como a casa de doces da bruxa e o baú mágico”, finaliza o produtor.

SERVIÇO

Peça infantil ‘João e Maria’

Quando: quinta-feira (18)

Onde: Teatro Sesc (Rua 15, esquina com a 19, Setor Central – Goiânia)

Horário: 17h

Entrada: R$ 5  (comerciários e dependendentes); R$ 6 (conveniados); R$ 7 (meia-entrada) e R$ 14 (inteira).

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov 

Veja Também