Maestro Carlos Prazeres rege a Filarmônica de Goiás nesta quinta

Regente é um dos convidados desta temporada da OFG, que destaca a importância do intercâmbio entre maestros

Postado em: 05-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Regente é um dos convidados desta temporada da OFG, que destaca a importância do intercâmbio entre maestros

GABRIELLA STARNECK*

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A Orquestra Filarmônica de Goiás (OFG) recebe, nesta quinta-feira (5), às 20h30 no Teatro Goiânia, o consagrado maestro Carlos Prazeres, regente titular da Orquestra Sinfônica da Bahia desde 2011. No concerto, regido pelo convidado, o público poderá acompanha as obras Abertura em Dó Maior de Fanny Mendelssohn; Sinfonia nº90, de Haydn, e a Sinfonia nº4 – Italiana, de Mendelssohn. 

Esse intercâmbio entre os maestros é comum no cenário da música clássica e essencial para que o público tenha uma diversidade em relação aos concertos, assim como Carlos Prazeres diz ao Essência: “Essas parcerias são importantes para que as orquestras tenham outros elementos, outras interpretações e para que sua dinâmica seja variada”. Por esse motivo, nesta quinta, o público poderá provar, de forma gratuita, um novo vocabulário musical”. 

Intercâmbio

Segundo o regente titular e diretor artístico da OFG, Neil Thomson, “é essencial que as orquestras trabalhem com regentes convidados”. “Eu não concordo com orquestras ou regentes que não fazem isso. Todo músico é individual, e todo regente terá o seu estilo próprio de trabalhar o seu ‘vocabulário musical’. Todos os regentes bons trazem algo positivo e individual para a orquestra. É como se estivesse aprendendo um idioma, quanto mais pessoas você conversa, mais rico o seu vocabulário se torna. Regentes convidados enriquecem o ‘vocabulário musical’ da orquestra”, afirma Neil ao Essência. 

O regente da OFG ainda comenta sobre a escolha de convidar o maestro Carlos Prazeres. “Esta é a segunda vez que o Carlos Prazeres está regendo a orquestra, e os músicos adoraram trabalhar com ele no primeiro projeto. Ele está fazendo um maravilhoso trabalho com a Orquestra Sinfônhca da Bahia, uma orquestra da alto nível, e ele está atraindo um enorme público. Eu gosto muito do fato de ele ser um regente ‘moderno’, trazendo novos conceitos na música erudita. Ele tem uma grande autoridade, porém trata os músicos como colegas. Este estilo de trabalho é o mais produtivo e mostra o melhor nas pessoas”, ressalta Neil. O maestro ainda relata que algumas palavras que Carlos disse a ele o deixaram muito orgulhoso com a OFG: “A atmosfera na Filarmônica de Goiás é muito feliz, mas também extremamente profissional. As pessoas realmente querem trabalhar”. 

Carlos Prazeres também avalia sua primeira passagem pela Capital: “Eu fiquei muito impressionado, tenho acompanhado a Filarmônica de Goiás, e acho ela um dos grandes exemplos de orquestras que têm conectividade com a sociedade. O que me deixa mais contente – e que também conseguimos na Bahia – é a diversidade de público em relação a faixa etária e condição social. A prerrogativa básica de quem recebe auxílio governamental é a acessibilidade”. 

Neil Thomson também é adepto do intercâmbio com outras orquestras: “Na semana que vem, estarei na Escócia para reger Orquestra Real Nacional da Escócia, com concertos em Glasgow e Edimburgo, e depois volto para o Brasil. Vou ficar três semanas regendo a Orquestra Sinfônica de São Paulo ( Osesp) e uma semana a Orquestra Petrobras Sinfônica (Opes). Vou ministrar palestras em Los Angeles, nos Estados Unidos, e reger, por uma semana, a Orquestra Sinfônica Nacional da Irlanda, em Dublim, dentre outras atividades profissionais. 

Na última temporada, eu viajei bastante, porém neste ano eu planejei o meu tempo para trabalhar mais com a minha amada OFG!”, finaliza Neil.

Concerto 

No programa desta quinta-feira, destaque para a composição de Fanny, que reflete o objetivo da temporada 2018 da Filarmônica: apresentar ao público obras de autores renegados pela história devido às circunstâncias sociais. Fanny, irmã do famoso compositor Felix Mendelssohn, compôs 400 obras, ao longo da vida, e era uma pianista extraordinária. Contudo, devido às circunstâncias sociais da época, apenas dez obras da compositora foram publicadas. Por muito tempo, Fanny foi uma autora renegada pela história e, agora, por exemplo, a Filarmônica de Goiás  leva ao público uma de suas composições. 

Maestro convidado

Carlos Prazeres é o regente titular da Orquestra Sinfônica da Bahia, desde 2011, e um dos mais requisitados maestros brasileiros de sua geração. Ele estudou regência com Isaac  Karabtchevsky, graduou-se em oboé na UNI-Rio sob a orientação de Luis Carlos Justi, e foi bolsista da Fundação Vitae durante seus estudos de pós-graduação na Academia da Orquestra Filarmônica de Berlim/Fundação Karajan, sob a orientação de Andreas Wittmann. Durante oito anos seguidos, ele foi regente assistente de Karabtchevsky na Orquestra Petrobras Sinfônica do Rio de Janeiro. Carlos Prazeres ainda atua como palestrante na área musical. 

O maestro tem dividido o palco com artistas como Antonio Meneses, Nelson Freire, Heléne Grimaud, Ilya Kaler, Gil Shaham, Maxim Vengerov, Ramón Vargas, Peter Donohoe, Jean-Louis Steuerman, Fábio Zanon e Augustin Dumay. Convidado pelo maestro Wagner Tiso para atuar como maestro de sua série MPB & Jazz, passou a desenvolver extensa atividade na música popular, e acompanhou artistas como Gilberto Gil, João Bosco, Ivan Lins, Stanley Jordan, Milton Nascimento, Hamilton de Holanda e Yamandú Costa. Com ampla experiência na música clássica, Carlos Prazeres fala sobre esse estilo musical, sua carreira e também sobre a proposta da temporada 2018 da Filarmônica Goiás. Acompanhe a entrevista abaixo concedida ao Essência. 

*Integrante do programa de estágio do 

jornal O HOJE sob orientação 

da  editora Flávia Popov

SERVIÇO

Quinta Clássica’  – Carlos Prazeres rege a Orquestra Filarmônica de Goiás (OFG)

Quando: quinta-feira (5)

Onde: Teatro Goiânia (Av. Tocantins, 503-561, Setor Central – Goiânia)

Horário: 20h30 (pontualmente)

Entrada gratuita 

Entrevista : Carlos Prazeres 

Conte-nos um pouco sobre sua trajetória na música clássica.

Eu venho de uma família ligada à música clássica – pai maestro e mãe cantora lírica. Meus pais eram muito pobres… de terem dificuldade para comer. Minha família, que sempre se dedicou a esse estilo musical, lutou pela acessibilidade da música clássica, por isso essa é uma das bandeiras que eu levo. O estado nos disponibiliza o recurso, e é importante que levemos isso a toda gente. Também acho importante ressaltar a cultura como agente de transformação. O público precisa ir ao concerto, por exemplo, e sair (da sala de concerto) diferente (de como entrou).

Você tem grande experiência com a música clássica, já que é regente da Orquestra Sinfônica da Bahia desde 2011. Como você avalia o cenário desse estilo musical no Brasil?

Eu penso que a música de concerto tem ganhando força nas últimas décadas. Acredito que o advento da criação de novas orquestras tenha contribuído para que esse novo cenário se apresente de forma atraente ao público. Hoje em dia, temos uma qualidade diferenciada, maior do que tínhamos alguns anos atrás. Outra coisa que chama atenção é que o Brasil está deixando de copiar o modelo europeu para achar sua própria maneira de ouvir e apresentar a música clássica, desenvolvendo uma visão moderna e dinâmica, com seu próprio repertório e comunicação visual e institucional. Isso atrai diferentes gerações e diferentes classes sociais – o que é importante para que a música clássica se torne acessível. É importante ressaltar que esse estilo musical não pode ficar ligado apenas a uma classe branca, rica e de idade avançada.

Quais são as principais dificuldades que você aponta em relação à divulgação da música clássica e perpetuação desse estilo?

A música clássica precisa urgentemente se adaptar a uma maneira de se comunicar. Digo isso, porque ela já sofreu um ‘baque’, em alguns momentos da história, como, por exemplo, quando as pessoas não precisavam ir aos concertos para ouvir esse estilo musical. As pessoas não conseguem permanecer duas horas desconectadas dos celulares  – por conta da própria vida corrida que temos hoje. Lidar com isso é adquirir uma maneira mais moderna de comunicação. E é importante frisar que esse desligamento que ocorre numa sala de concerto é fundamental para que estabeleçamos uma forma de contato com a música, que seja semelhante a uma meditação. A música de concerto sempre será uma tradição acústica, que vai exigir silêncio e um determinado tipo de comportamento. Mas as pessoas precisam entender que esse silêncio não está relacionado a um comportamento social, mas sim a uma forma de desenvolver um olhar para o seu interior. Assim como as pessoas buscam o ioga ou o pilates para terem um momento em que vão dar uma atenção a si próprias, o concerto também precisa ser considerado um momento de interiorização. A orquestra que não se adaptar às mudanças está fadada ao fracasso. Na Bahia, por exemplo, aumentamos nosso público em 184 %, nos últimos anos, de acordo com dados oficiais. A gente criou programas e iniciativas que facilitaram o entendimento da música clássica. Uma das forma é tirar a sisudez de determinados concertos. A música de cinema é algo que temos utilizado para tornar a ideia da Orquestra Sinfônica da Bahia mais divertida. Então os integrantes da orquestra vão fantasiados de personagens do cinema, por exemplo. Essas ações são fundamentais para que a orquestra funcione no século 21. 

Como você avalia o objetivo da temporada 2018 da Filarmônica, que é apresentar ao público obras de autores renegados pela história devido às circunstâncias sociais?

Esse é um excelente exemplo de modernidade. No programa que irei reger nesta quinta, foi escolhida a peça de uma compositora, o que é inusitado. A música clássica é um meio notadamente machista, pois só a partir do século 21 que mulheres passaram a poder tocar na Filarmônica de Viena, por exemplo. Os compositores homens sempre predominaram. Fanny  é uma compositora de exímios talentos, e poderia ser uma das maiores compositoras do mundo, se não fosse uma época em que não pegava bem uma mulher exercer o ofício de um homem. Vamos parar para pensar que essa temporada traz um programa muito atual. A Filarmônica de Goiás tem feito a diferença no cenário da música clássica por ter uma visão atenta à modernidade. 

Qual a importância das composições de Fanny nesse sentido?

Eu te confesso que é importante que a gente frise que reflitamos sobre machismo, racismo e violência doméstica. Com o concerto, a gente vai se perguntar o porquê dessa compositora não ter sido incentivada a ter uma educação musical mais sólida para que pudesse ter uma carreira pelo menos parecida com a de seu irmão, o famoso compositor Felix Mendelssohn.  

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