Novo longa de Luiz Bolognesi abre a 20ª edição do Fica

Pelo 3º ano consecutivo, festival lança luz sobre questões do universo socioambiental brasileiro na abertura da mostra

Postado em: 24-05-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Pelo 3º ano consecutivo, festival lança luz sobre questões do universo socioambiental brasileiro na abertura da mostra

O debate acerca da sobrevivência das culturas indígenas, comprometidas desde a chegada dos colonizadores portugueses no século XVI, ganha novo fôlego com o curta-metragem Ex-Pajé, de direção e roteiro do paulistano Luiz Bolognesi. O filme oscila entre os gêneros ficcional e documental para narrar a história dos Paiter Suruí, tribo que viveu isolada até 1969 na região fronteiriça entre Mato Grosso e Rondônia – epicentro dos conflitos fundiários entre indígenas e extrativistas no Brasil. O longa-metragem vai ser exibido em 5 de junho (terça-feira) para o público na abertura da 20ª edição do Fica.

O contato tardio com o homem branco não privou o povo Paiter Suruí da colonização de suas tradições pelo cristianismo, à semelhança do processo de aculturação liderado pelos jesuítas quase cinco séculos atrás. Demonizado por um pastor evangélico e enxotado da posição de uãuã (Pajé na língua Paiter Suruí), Perpera Suruí lamenta a influência dos medicamentos introduzidos na tribo a partir do contato com o homem branco. O protagonista do filme também revela que precisa dormir com a luz acesa para evitar a reprimenda dos espíritos da floresta.

A equipe restrita de cinco pessoas e a ausência de um roteiro pronto estabeleceram as diretrizes para a produção da obra. Ex-Pajé é construído em consonância com os personagens reais do filme. A escolha partiu da necessidade de contar a história “de dentro pra fora”, conta o diretor. A obra combina realidade e encenação para transmitir os conflitos que abalam as estruturas da tribo, como as consultas secretas ao pajé mesmo diante do medo de estar contatando o diabo. A resistência da cultura e da tradição de um povo enfrenta o impasse da globalização. Além de concorrer com a violência dos seringueiros e latifundiários, os indígenas suportam ainda um outro tipo de violação, que se não afeta sua terra nem integridade física, compromete seu modo de viver e pensar.

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A obra dá segmento a uma nova fase do Fica, que passou a privilegiar obras relacionadas ao universo socioambiental para marcar a abertura da mostra desde 2016, quando exibiu o documentário Rio de Lama, do diretor Tadeu Jungle, que trata da tragédia do rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana, Minas Gerais. Em 2017, o destaque da abertura foi o filme Caminho do Mar, dos diretores Bebeto Abrantes e Juliana Albuquerque. A produção que fala sobre o Paraíba do Sul, um rio desconhecido e estratégico para o Brasil, fez sua estreia mundial na cidade de Goiás. Em 2018, o Fica chega à sua 20ª edição como maior festival de cinema da América Latina com a temática ambiental. Neste ano, são 22 produções de 3 continentes pautando a relação do ser humano com o meio ambiente.

Questão Indígena

Ex-Pajé não é a primeira experiência de Bolognesi com o universo indígena, nem com a tribo retratada no filme. O cineasta conheceu Perpera durante a produção da série Juventude Conectada (2016), que mostra como os jovens indígenas Paiter Suruí utilizam dispositivos móveis para denunciar a presença de madeireiros em suas terras. Outros títulos, como Terra Vermelha (2007), também abordam a questão indígena.

Equipe

Luiz Bolognesi traz no currículo o roteiro de obras como Bingo: O Rei das Manhãs (2017) – representante brasileiro na 90ª edição do Oscar – e Bicho de Sete Cabeças (2001). Assina a direção de filmes premiados como Cine Mambembe, O Cinema Descobre o Brasil (1999) e Uma História de Amor e Fúria (2013), animação que utiliza a mitologia tupinambá para contar a história do Brasil. O longa tem produção da Buriti Filmes, laureada com mais de 120 prêmios nacionais e internacionais, e distribuição da Gullane Entretenimento, produtora por trás da realização de obras como Carandiru e Que Horas ela Volta?. A fotografia é assinada por Pedro J. Márquez, a montagem é de Ricardo Farias e o som, de Rodrigo Macedo.

(Mais informações: http://www.fica.go.gov.br/) 

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