Quinta-feira, 28 de março de 2024

“Existem coisas que devem ser lembradas, e não esquecidas”

Mostra ‘Tudo Passa’, de Fernanda Lago, traz a ideia que o tempo é cíclico ao retratar as fases de caos e bonança

Postado em: 20-06-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Mostra ‘Tudo Passa’, de Fernanda Lago, traz a ideia que o tempo é cíclico ao retratar as fases de caos e bonança

GABRIELLA STARNECK*


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A abertura da exposição Tudo Passa, da artista carioca Fernanda Lago, é nesta quarta-feira (20), já a visitação se entenderá de 21 de junho a 15 de agosto, na Vila Cultural Cora Coralina, em Goiânia. Com curadoria do crítico e professor do departamento de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás (UFG), Samuel de Jesus, a exposição traz em suas obras a ideia que o tempo é cíclico ao retratar as fases de caos e bonança. 

O trabalho da artista fala de questões da existência humana, como Existe Luz no Fim do Túnel ou Tudo Passa – que nos lembram do caos em que nos encontramos –, por meio de temáticas como o Césio em Goiânia ou a cratera que se abriu na serra de Petrópolis, engolindo uma casa. As obras ainda abordam os desastres pessoais, quando entramos em contato com os nossos buracos negros internos. “Como eu falo sobre tempo – e tudo passa –, queria mostrar que existem coisas que devem ser lembradas e não esquecidas”, afirma Fernanda.


‘Tudo Passa’

Segundo a artista, a estruturação da exposição que será exibida em Goiânia surgiu por meio de uma instalação que ela já havia feito. Contudo, como a instalação não coube na Vila Cultural Cora Coralina, foi necessário reestruturar a exposição. “Eu trouxe a maquete dessa instalação e vai ter um adesivo colante, que se chama ‘tudo passa’ – que dá título à exposição. E esse trabalho é uma encruzilhada que, na verdade, fala do tempo, e a única coisa que temos certeza é que o tempo passa, então trago isso nas obras”, diz Fernanda.

A partir da instalação Tudo Passa, foram criados os outros trabalhos que compõem a exposição e abordam questionamentos como ‘existe luz no fim do tempo?’. “Na verdade, ao mesmo tempo em que a exposição questiona se existe essa luz, ela afirma que sim, existe. É uma pergunta e ao mesmo tempo uma afirmação, e pode ser interpretada tanto em relação à questão política que a gente vive hoje em dia – em que todo mundo está desanimadoz –, quanto para uma questão pessoal – como eu me coloco diante desse mundo”, afirma Fernanda.

E, para retratar a ‘luz no fim do túnel’, Fernanda Lago homenageia Yashira, artista que saía nas ruas de Goiânia fazendo performances a favor da ecologia e pregando o amor universal. A autora da exposição faz uma relação dessa artista com o Profeta Gentileza. “São pessoas como Yashira  e o profeta – que pregam e acreditam no amor como salvação – que nos ajudam a acreditar e ter esperanças”, afirma a carioca.


Fernanda Lago

A artista, nascida no Rio de Janeiro em 1986, também é arte educadora, produtora, curadora e arte terapeuta. Formada pela Faculdade Bennett com Licenciatura em Artes Visuais, 2007, e com especialização em Arte Terapia pelo Espaço Ligia Diniz, 2014, Fernanda atua como artista plástica desde 2009 participando de diversas exposições nacionais e internacionais, como: Salão Novíssimos (2009); as residências artísticas no Espaço AVI, Brasília (2016) ; Tofiq House, São Paulo (2015); Tenggara Group,Indonésia (2012) e na House of Matahati (2012), Malásia. Para falar mais sobre a exposição e carreira, Fernanda Lago realizou um bate-papo com o Essência. Confira a entrevista abaixo. 

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação 

da editora Flávia Popov


SERVIÇO

Exposição ‘Tudo Passa’, da artista carioca Fernanda Lago

Quando: de 21 de junho a 15 de agosto

Onde: Vila Cultural Cora Coralina (Rua 3, s/nº, Setor Central – Goiânia)

Horário: de segunda a domingo das 9h às 17h

 

Entrevista: Fernanda Lago  

Como surgiu a ideia de criar as pinturas da exposição?

Esse trabalho é uma encruzilhada que, na verdade, fala do tempo. Como a única coisa de que temos certeza é que o tempo passa, eu quis trazer isso nas obras. Tudo na vida passa, mas a gente não tem como medir o tempo, nem segurá-lo. Na verdade, a gente cria uma medição ‘fake’ desse tempo. A minha base não é a pintura, eu venho da instalação, da performance e também da fotomontagem. Então essa ideia de pintar veio como uma forma de intervenções – são intervenções fotográficas em que eu pinto, por cima, e narro uma história que fala sobre o tempo. 


Qual a proposta da exposição ‘Tudo Passa’? 

Como eu falo sobre tempo – e tudo passa –, queria mostrar que existem coisas que devem ser lembradas, e não esquecidas. Então eu marco esse tempo lembrando coisas que não podem ser esquecidas, como a tragédia do Césio que aconteceu aqui em Goiânia. Eu também marco o tempo ao falar sobre o que ocorreu na minha região, em Petrópolis, em que uma cratera se abriu, na terra, e engoliu uma casa. A partir dessa cratera, faço uma conexão com os nossos buracos internos, e também com o buraco negro – como se tudo desencadeasse para esse buraco e fôssemos puxados por ele. Contudo os últimos trabalhos da exposição trazem o que seria essa luz do fim do túnel, por meio de obras que homenageiam Yashira, por exemplo. Na década de 1980, essa artista goiana saiu pela cidade falando sobre o amor, sobre a ecologia, e foi considerada por muitas como maluca. Da mesma forma, temos o Profeta Gentileza, no Rio, que saía falando que ‘gentileza gera gentileza’. Essas pessoas que foram consideradas ‘fora da casinha’ falam sobre o amor universal, então eu coloco essas pessoas como nosso amor, nossa esperança, e por isso homenageio elas. 


Qual a temática principal das suas obras? 

Todos os trabalhos partem de uma linha principal em que falo do caos e da bonança – trazendo essa ideia do tempo cíclico. Agora estamos na fase do caos, mas também tem a bonança que está chegando, e falo justamente sobre isso – uma esperança. 


A exposição pretende despertar algum tipo de reflexão no espectador?

A arte tem esse intuito de fazer o espectador pensar, ela não é meramente estética. Pelo menos a minha, que é a arte conceitual, eu tenho o intuito de fazer as pessoas refletirem sobre os assuntos que estou abordando.


Qual foi a principal dificuldade encontrada para estruturação da exposição?

Tudo que é novo se torna mais complicado, e tive um problema com a estrutura da Vila Cultural Cora Coralina – que sedia a exposição. Eu não pude trazer uma instalação que iria expor, então tive que mudar a tipografia da exibição – por isso trouxe maquetes ao invés de uma instalação. Esse foi um dos desafios. 


Falando um pouco mais sobre você, como surgiu sua paixão pelas artes?

Meu interesse pelas artes veio de forma somática, já que sou filha de artista plástico. Meu pai, Marcelo Lago, é um escultor da geração 80, então eu sempre convivi no meio das artes. A minha avó também estudou na Escola de Belas Artes, então tenho uma influência familiar muito grande. 


O que te inspira a fazer as obras? 

Na verdade, eu penso que pintar não é uma inspiração, e sim quais questões eu quero abordar na obra – até porque meu trabalho parte da arte conceitual. É claro que fui influenciada por vários artistas, mas eu não penso em alguém específico como inspiração.


Na exposição ‘Tudo Passa’, você retrata questões de Goiás. Você possui alguma relação com a cidade?

Sim, meu avô materno mora em Goiânia, então eu já conhecia a cidade e possuía uma relação afetiva.  

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