Uma forma de valorizar o ato de contar histórias

Festival de Narratividades traz diversas linguagens artísticas que bebem na fonte da oralidade

Postado em: 15-08-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Festival de Narratividades traz diversas linguagens artísticas que bebem na fonte da oralidade

GABRIELLA STARNECK

Valorizar a cultura oral por meio de diferentes manifestações artísticas: essa é a proposta do Encontro & Conto – Festival de Narratividades, que começa nesta quarta-feira (15) e se estende até o próximo dia 30 de agosto, em diversos espaços culturais de Goiânia. Espetáculos de teatro e dança, contação performática de histórias, encontro de narradores natos, debates e oficina compõem a programação do evento, que é gratuito e aberto ao público. 

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Com curadoria da atriz e pesquisadora Juliana Mado, o Encontro e Conto reúne manifestações artísticas, que se valem da narrativa como elemento de estruturação e de discussão estética. “A proposta do festival é integrar diversas linguagens artísticas que bebem na fonte da oralidade, da performance do narrador e da transmissão de experiências”, afirma Juliana Mado ao Essência. Ela completa: “Uma história só será de fato uma história quando é contada”.

Festival 

O Encontro & Conto – Festival de Narratividades busca fortalecer a cultura oral por meio das artes cênicas, literatura e música. Segundo Juliana, a “atitude narrativa” está presente na performatividade do ser humano, e a narração acorda nas pessoas o desejo de compartilhar experiências e vivências. Em vista disso, o projeto vem a fim de mostrar a importância desse compartilhamento de histórias, já que na contemporaneidade isso se torna ‘raro’. 

Para isso, o projeto traz uma programação repleta de manifestações artísticas que convergem para um mesmo ponto – a narratividade. Inclusive, segundo a curadora, esse foi um dos critérios para a escolha das atrações: “Eu analisei a qualidade do trabalho, assisti a todas as apresentações, e também atuo na área, então a gente fica bem antenada. Mas o principal critério, na hora da escolha, é que as atrações tivessem uma proposta narrativa, ou seja, que os espetáculos trouxessem a ação de narrar”. 

Juliana ainda aponta uma diferença entre as manifestações artísticas que acaba enriquecendo o festival: “Os espetáculos trazem uma narração mais performática, que mistura o teatro à música, por exemplo. Os narradores natos são diferentes; eles estão mais ligados à palavra em si, mas os dois são maravilhosos e importantes”. Por ter sido contemplado pelo Fundo de Arte e Cultura em 2016, como a curadora destaca, o evento oferece ao público uma programação com uma qualidade maior, acessível e que valoriza os artistas – já que eles recebem pelo seu trabalho. 

Importância

O Encontro & Conto – Festival de Narratividades se torna relevante no meio social por sua proposta de resgatar e incentivar o hábito da oralidade. “A gente não cultiva o ato de contar histórias e partilhar experiências de forma direta, por meio do olhar e da voz. É uma coisa que se perdeu na contemporaneidade, porque tudo é muito rápido. Então o narrador traz esse outro tempo, o tempo da transmissão de experiências, do contato, do olhar. É uma questão de fortalecer os laços humanos, de a gente voltar a olhar para o que somos, e nunca iremos deixar de ser – por mais que as coisas mudem e evoluam”, afirma a curadora. 

Juliana ainda conta que essa partilha, esse compartilhamento de experiências, o ato de contar histórias e estar junto gera coletividade. Ela afirma que, quando um indivíduo ouve o outro ou conta algum relato para alguém, ele está humanamente em contato com essa outra pessoa, e isso é importante. 

Espetáculos

A peça teatral Cabras – Cabeças que Voam, Cabeças que Rolam, da Cia. Teatro Balagan (SP), abre os trabalhos do festival, na quarta-feira (15), às 20h, no Centro Cultural UFG. Com dez atores em cena, o texto do dramaturgo Luis Alberto de Abreu – autor da minissérie Hoje é Dia de Maria e coautor da telenovela Velho Chico – é encenado com música e dança. “Embora seja um trabalho corporal e musical intenso, o texto é todo narrado. Os atores sempre se colocam como narrados em uma comunicação direta com o público. Isso acontece em todas as apresentações que integram a programação”, afirma a curadora do festival. 

Outras atrações são o Negro de Estimação, um solo de teatro-dança do ator e bailarino Kleber Lourenço (PE), e Homens e Caranguejos, do Coletivo Cênico Joanas Incendeiam (SP). A programação completa do Encontro & Conto – Festival de Narratividades pode ser conferida no site www.encontroeconto.com.

Contação de histórias

A narração de histórias só começa no segundo dia do evento (16), com a participação da Cia. Ju Cata-histórias (SP-GO) ,às 15h, na Gibiteca Estadual Jorge Braga, na Praça Cívica. Ação de formação de leitores e de estímulo à leitura, esta atividade performática dirigida ao público infantil tem foco na literatura e dialoga com a música. Na mesma linha de trabalho, o festival também prevê a participação de Teatro Destinatário (GO) e Vou te Contar! (DF).

Ao longo do Encontro & Conto – Festival de Narratividades, esses três grupos levam ainda suas histórias performadas para os alunos das escolas municipais Professora Cleonice Monteiro Wolney; do Jardim Nova Esperança; Presidente Vargas e Nossa Senhora Aparecida. As atividades de contação de histórias do Festival de Narratividades também alcançam mulheres surdas atendidas pela ONG Amdasgo, no Setor Vila Nova, nos dias 19 e 26 de agosto, que também estarão abertas ao público em geral. 

Discussões e oficinas

Os debates se iniciam na quinta-feira (16), às 20h, no CCUFG, com O Teatro Narrativo e a Narrativa na Dança, bate-papo mediado por Juliana Mado, com participação de Luis Alberto de Abreu (Cia. Teatro Balagan), Renata Lima (Núcleo Coletivo 22) e Luciana Hartmann (UnB). A mesa tem como proposição a reflexão acerca da narração em cena e da narração e/ou narrativas como matéria-prima para a criação cênica. Outra pauta de discussão é O Narrador no Teatro, na Contação de Histórias e na Educação. Esse bate-papo busca provocar reflexões sobre processos de coletividade gerados a partir do compartilhamento de experiências, desafios do narrador no diálogo com diferentes faixas etárias – dentre outros assuntos próprios da arte-educação.

Para encerrar duas semanas de muito trabalho, o Festival de Narratividades prevê a realização de oficina gratuita de narração de histórias, com a narradora e pesquisadora Juliana Mado, de 27 a 30 de agosto, entre 18h e 21h, no Sesc Goiânia Centro. Com 12 horas de duração, as 25 vagas do workshop são destinadas a estudantes, artistas, professores e público em geral, com idade mínima de 15 anos. Inscrições e ementa do curso em: https://www.encontroeconto.com/oficina.

Narradores natos

Especialistas em narrativa oral, os narradores natos são vocacionados para a partilha de histórias curiosas, fantásticas, folclóricas.  “Eles são contadores de histórias que têm esse dom, esse talento, naturalmente, e fazem isso com maestria. A presença dos narradores natos no evento é fundamental, porque eu acho que contar história é origem do teatro e de qualquer manifestação artística humana. Contamos historias através do cinema, do teatro, da danças, de quadros”, afirma a curadora. 

De acordo com a programação do festival, os encontros de narradores natos serão encerrados com sarau poético, conduzido pelas crianças frequentadoras do Ponto de Cultura Cidade Livre (no dia 18), pelo Sarau das Minas GO (19, no Evoé Café) e pelo Goiânia Clandestina (25, no Cabaret Voltair). “A ideia de trazer o sarau após os encontros com os narradores é integrar um pouco com a produção literária, com a performatividade do poeta. O intuito é dar uma ‘paquerada’ com a literatura escrita, não só com a oral”, finaliza Juliana Mado.

SERVIÇO

‘Cabras – Cabeças que Voam, Cabeças que Rolam’ 

Quando: de quarta-feira (15) até 30 de agosto

Programação completa: www.encontroeconto.com 

Entrada gratuita

 

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