Quinta-feira, 28 de março de 2024

‘Gato Preto’ e o terror psicológico

Exibida dentro da programação dos 18 anos da Cia. Teatral Oops!.., peça apresenta um novo olhar sobre a obra

Postado em: 14-03-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Exibida dentro da programação dos 18 anos da Cia. Teatral Oops!.., peça apresenta um novo olhar sobre a obra

GUILHERME MELO* 

Inspirada em um dos maiores contos de Edgar Allan Poe, a Cia Teatral Oops!.. retorna com o espetáculo Gato Preto. A apresentação é nesta quinta-feira (14), às 20h, no Teatro Sesc Centro – seguindo a programação que celebra os 18 anos da companhia. 

O enredo da peça, diferentemente do conto, gira em torno da história de Annabela, uma mulher de natureza extremamente sensível e delicada, esposa exemplar e especialmente afeiçoada aos animais. Contudo torna-se uma pessoa irritável, sombria e apática, sem muita simpatia por animais ou pelo próprio marido, frente a um repentino horror desencadeado por sucessivos acontecimentos que a fazem crer que o seu gato, chamado Plutão, possui algo de sobrenatural, uma certa maldição do Gato Preto.

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“A narrativa compõe-se apenas de memórias, nas quais Annabela relembra as desventuras de sua destruição, em uma conturbada estória sobre a corrupção moral ao longo do tempo, que, aos poucos, consome a protagonista”, revela o diretor do espetáculo, João Bosco. Sem falar no misterioso gato preto, causador de um enigma intrigante, que põe em cheque a já abalada serenidade da personagem, levando à dúvida sobre se os acontecimentos narrados são verdades inexplicáveis ou apenas exageros de uma mente adoecida. “Pensamos em mudar a narrativa, para uma mulher, exatamente para trabalhar um olhar diferente”, informa.

A obra de Edgar Allan Poe é impressionante pelo seu caráter fantástico, sem, contudo, apelos a elementos basicamente sobrenaturais. “Nossa mente é extremamente fértil. A peça apenas abre a porta para a diversidade da imaginação”, explica. Todo o estranhamento é provocado pelos excessos da mente humana, intensamente conturbada e erudita, que, neste caso, é a mente de uma mulher atormentada e angustiada com sua vida comum, que acaba tendo, na mística figura do gato preto, o grande impulso de crueldade que a leva a tomar medidas drásticas. “É importante debatermos assuntos como  violência, suspense – e outros – nos dias de hoje”, ressalta o diretor.

Adaptação do conto O Gato Preto, do escritor norte-americano Edgar Allan Poe, a montagem é a segunda parte da Trilogia Poe, iniciada em 2010, com a estreia da peça Olho.  “Temos como proposta reunir elementos fundamentais da obra poeana, como a erudição, a loucura, a consciência de si e o horror”, adianta o diretor. Os três últimos elementos estão presentes na personagem central de Gato Preto, a qual assombra seus convivas, humanos e não humanos, e é, ao mesmo tempo, assombrada pelas atormentações de sua mente perturbada e genial, em uma representação densa e egotista.

Relações entres obras do terror psicológico 

Além de escrever contos, Poe também era poeta e crítico literário. Os textos do autor reúnem seu entendimento sobre o lado obscuro dos seres humanos. Isso o difere do tradicional terror sobrenatural, abordando um terror mais psicológico.

O conto O Gato Preto é a escrita clássica de Poe, classificando o que o autor acreditava como um conto deveria ser, curto e sucinto, com a estrutura e a capacidade que o texto deveria ter de prender o leitor

O texto da peça se inspira na narração do conto em 1ª pessoa, o que deixa os personagens omitidos de nome, exceto pelo gato chamado Plutão, mantendo o leitor mais à vontade com a história e ‘viajando’ para dentro das páginas com mais facilidade.

Mesmo com a possibilidade de causar a sensação de dúvida para o leitor, o conto abre as portas para da imaginação e alucinação.  O conto só comprova cada vez mais a loucura e perturbação humana que o autor queria transpassar. Mesmo escrito em 1843, o tema é bastante atual, tornando fonte de inspirações para diversas obras, como a peça teatral da companhia Oops!…

 

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