50 anos de um orgulho glamoroso

Em 28/6, é celebrada a Revolta de Stonewall, que marcou o início do movimento LGBTI+ no mundo

Postado em: 27-06-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Em 28/6, é celebrada a Revolta de Stonewall, que marcou o início do movimento LGBTI+ no mundo

Guilherme Melo

A maioria das paradas do orgulho LGBTQI+, em todo o mundo, é realizada no mês de junho, e isso não é à toa. Nesta sexta-feira (28), são celebrados os 50 anos da Revolta de Stonewall, que deu início ao ‘movimento do orgulho’. A rebelião foi uma série de manifestações violentas e espontâneas de membros da comunidade LGBTI+ contra uma invasão da polícia de Nova York que aconteceu nas primeiras horas da manhã de 28 de junho de 1969, no bar Stonewall Inn, localizado em Manhattan, em Nova York, nos Estados Unidos.

O fato se deu em um momento específico da história norte-americana. Os movimentos negro e feminista já estavam se consolidando, mas o movimento LGBTI+ ainda não se colocava de forma política como os demais. Muitos estados norte-americanos ainda tratavam como crime relacionamentos homoafetivos. Naquela época, na cidade de Nova York, as pessoas eram obrigadas por lei a usar roupas de acordo com seu sexo biológico, e os bares não podiam vender bebidas para homossexuais.

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Segundo o assessor de políticas públicas da comunidade LGBT de Goiânia, Victor Hipólito, a luta surgiu por meio do estopim de tanta dor e repressão. “Os gays, as lésbicas e todos da comunidade eram constantemente internados em clínicas, submetidos a lobotomias, castrações químicas e outras formas de buscar uma ‘cura’. Na televisão, eram exibidas propagandas que alertavam para os ‘perigos’ de se conviver com homossexuais, comparando-os sempre a pedófilos. Era uma fase de muito medo para a população LGBTI+”, revela. 

Hipólito explica que tudo foi diferente naquela noite, começando pela ação policial que, desde o início, era diferente dos ataques rotineiramente encenados no Stonewall. “Batidas policiais em bares gays eram frequentes, os donos e empregados iam presos, e muitos dos clientes também. Mas, no dia 28 de junho de 1969, quando a polícia entrou no StonewallInn, ao contrário das vezes anteriores, o público que lá estava decidiu resistir. A polícia, com o ‘poder’ do lado dela, tentou acuar as pessoas que estavam no bar, mas o pessoal se revoltou em dias e dias de luta”, conta. Hipólito explica que, um ano depois da revolta, surgiu a primeira parada gay, em Nova York. “Depois de tanta repressão, a comunidade enxergou a necessidade de estar nas ruas. Tanto que Marsha, a travesti negra de periferia, virou um símbolo de luta. Ela ficou à frente da organização da primeira parada gay para lutar pelo direito de usar o seu nome social de Marsha P. Johnson”, revela.

‘Coloca a cara no sol, gay’

Assim como o bar StonewallInn, o empresário e produtor cultural Lucas Manga admite que o importante é não segregar pessoas. “Acho que estamos em um momento em que os espaços culturais devem aceitar as pessoas, sem rótulos, para que, desta forma. as pessoas – sejam héteros ou homossexuais – possam conviver. Acho que nosso papel como produtores culturais é mostrar que não é uma vantagem que espaços como o Retetê e outros ambientes alternativos recebem heterossexuais e LGBTI+. O problema são outros lugares que segregam uma parcela da população”, comenta. 

Para o sociólogo Deyvid Morais, de 1969 para 2019 o movimento tem crescido muito e conseguido muitas melhorias, mas ainda precisa de mais. “Graças às pessoas que dedicaram sua vida a esta causa, tivemos muitos avanços, não há dúvida. Por outro lado, precisamos, ainda, de ferramentas jurídicas que garantam a igualdade plena, mas também que reforcem o trabalho de educar, conscientizar as pessoas para uma sociedade mais tolerante e justa. Este é um trabalho muito lento quando pensamos no tempo da história, por isso o movimento social é imprescindível”, analisa o profissional.

Morais explica que não existe um caminho a ser seguido para as lutas dos movimentos, mas afirma que o processo de empatia pode ser o ponto chave. “Quando observamos a homofobia ou a violência transfóbica, vemos que são processos complexos, e envolvem gênero, classe social e raça – e uma série de experiências de mundo. Não é simples minimizarmos essas desigualdades. Porém acredito que os movimentos sociais possuem um grande potencial quando dialogam com o afeto, ou seja, os laços mais profundos do reconhecimento de nós mesmos e do outro. Essas experiências geram a nossa conexão enquanto sociedade; elas amolecem, reinventam e se desdobram em novas formas de olhar para a diferença”, argumenta. 

Mesmo com áreas de atuação diferentes, Morais e Hipólito concordam que o movimento precisa estar sempre em transformação. “Vejo que o movimento LGBTI+ está sempre em mudanças, e, conforme as mudanças geracionais acontecem, surgem também novas demandas. São vários marcadores que complexificam e aumentam a pluralidade de vozes e também nossa responsabilidade política”, afirma Moraes. “Hoje, vejo esforços para mais  visibilidade da população transexual e das pautas de identidade de gênero, algo que, por muito tempo, foi esquecido. Há também de se pensar nas experiências das mulheres lésbicas, da população negra que também é LGBTI+”, finaliza Hipólito. 

(Guilherme Melo é 

estagiário do jornal O Hoje sob orientação da editora do Essência, Flávia Popov)

 

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