Purl: a linha contra a masculinidade tóxica

Disney e Pixar lançam curta que crítica o padrão de comportamento da chamada ‘sociedade patriarcal’

Postado em: 17-10-2019 às 06h20
Por: Guilherme Araújo
Imagem Ilustrando a Notícia: Purl: a linha contra a masculinidade tóxica
Disney e Pixar lançam curta que crítica o padrão de comportamento da chamada ‘sociedade patriarcal’

Guilherme Melo 

O tema masculinidade tóxica tem estado Em discussão na
atualidade, ela até  ganhou o título de
‘expressão do ano’, em 2018, pelo dicionário Oxford.  O padrão de comportamento da chamada ‘sociedade
patriarcal’, relega os homens de direitos básicos reservados a qualquer
indivíduo: o de se sentir vulnerável. Tal fenômeno valoriza qualidades como o
controle e a dominância, enquanto classifica como fraqueza aspectos como a
sensibilidade, carência e até o desejo de chorar.

“Os homens carregam consigo uma carga muito grande de serem
os machões, os bons em tudo, os que devem colecionar experiências sexuais
intensas, do ponto de vista da performance. Essa tensão cultural pressiona
grande parte dos homens a corresponder tais expectativas, já que demonstrar
vulnerabilidade pode ser sinônimo de fraqueza. O grande problema é que esses
elementos vêm adoecendo homens e mulheres. Eles por não aceitar o “eventual”
fracasso de sua masculinidade quando ela ocorre, às mulheres por conviverem
cada dia com a inflexibilidade de comportamento e situações de machismo,
advindas desse fenômeno”, explica a terapeuta tântrica e coach de
relacionamento Deva Dasi Abigail, que lançou o livro ‘Entendendo o mapa da
mina’.

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Segundo a profissional, há uma incoerência e até
incompreensão sobre os termos sexo e sexualidade. “Muitos buscam fontes para
lidar com sua masculinidade e, embora não admitam, até para aprender como lidar
com o corpo feminino e com o seu próprio corpo e desejos. Na maioria das vezes,
recorrem a revistas e filmes pornográficos em busca de uma fantasia, projetando
aquilo no “ideal” do real. Só que, “na vida real” tais trocas não se resumem à
performance: há corpos e pessoas verdadeiras envolvidas”, afirma.

Em junho deste ano, a Pixar lançou o primeiro curta-metragem
em parceria com a Disney, e já chutando o ‘pau da barraca’, as produtoras
falaram sobre o tema. ‘Purl’ conta a história do primeiro dia de trabalho de um
personagem inusitado, um novelo de lã. Ele chega em um escritório dominado por
homens engravatados que passam os dias pelos corredores, fazendo piadas e
reforçando estereótipos do que é ser ‘homem’. Nas reuniões, eles defendem que a
empresa se oriente pela agressividade, gritam e batem na mesa, enquanto o
novelo se vê cada vez mais perdido naquele ambiente em que a sensibilidade não
parece ter lugar.

Depois de ser deixado de lado diversas vezes e sofrer
discriminações por ser diferente, o personagem decide se adaptar ao meio,
tricotando uma espécie de fantasia de homem engravatado. Os efeitos dessa
adaptação forçada ficam subentendidos na trama, e instigam a pensar sobre como
nossa identidade se constrói a partir da relação com o outro, e dos estímulos
do ambiente ao redor. A questão ganha mais força com a chegada de um novo
elemento na narrativa. Dessa vez, um novelo amarelo chega ao escritório, e
passa a ser rejeitado pelos demais.

Para Abigail a masculinidade tóxica cria um campo de tensão
nos relacionamentos entre homens e mulheres. Especificamente aos homens, a
profissional, que faz atendimentos sobre terapia tântrica com clientes na sua
maioria de sexo masculino. “Para eles, isso demonstra vulnerabilidade, seja por
medo do que as pessoas vão falar, dos julgamentos, e principalmente, do que a
parceira vai pensar dele. Pode parecer contraditório, mas ele não procura ajuda
por medo da opinião alheia, por ter medo de se mostrar vulnerável, até para um
profissional”, afirma.

(Guilherme Melo é estagiário do jornal O Hoje, sob
orientação do editor Lucas de Godoi)

 

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