Sem clima para festa, setor de entretenimento opera no vermelho

Atingido em cheio pela pandemia do Coronavírus, setor de entretenimento vivencia maior crise da história - Foto: Henrique Ishibe

Postado em: 04-04-2020 às 14h05
Por: Redação
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Atingido em cheio pela pandemia do Coronavírus, setor de entretenimento vivencia maior crise da história - Foto: Henrique Ishibe

Lucas de Godoi

Não dá para imaginar uma pista de dança sem toques, abraços
e beijos. Justamente por isso, o setor de entretenimento, especialmente o de
música ao vivo, foi o mais impactado pela pandemia do novo Coronavírus. Em
Goiás, empresários, produtores, artistas e trabalhadores do mercado de eventos
já amargam prejuízos e se dedicam a reorganizar a programação e as contas – fechadas
no vermelho. Sem saber quando a festa volta, as ruidosas casas noturnas
experimentam um silêncio desesperador.

O empresário Rafael
Silvério, à frente dos estabelecimentos Vilão Premium, Doha Lounge e Azzure
Club, avalia que “a crise vai ser muito dolorida e vai durar por muito tempo”.
Segundo Rafael, ainda não é possível mensurar o tamanho do prejuízo. São muitos
artistas remarcados, alguns com cachês já pagos, e uma estrutura, mesmo
fechada, cara para manter. “O prejuízo ainda é incalculável, todo dia descobre
uma coisa nova que é preciso pagar ou que foi pago e não será mais utilizado”,
explica.

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Aluguel, água e energia são alguns dos compromissos que
continuarão a ser cumpridos. Nas três empresas que Rafael mantém há ainda
aproximadamente 200 colaboradores fixos. Ambas operam com reserva em caixa e
asseguram o pagamento da folha até a retomada dos trabalhos. “O salário mínimo
deles a gente está garantindo, mas grande parte depende da comissão do
faturamento”, afirma.

O sufoco também é
compartilhado por Max Lan Rodrigo Candido, proprietário da Pulsar – uma
badalada casa na Rua 115, no Setor Sul, semanalmente frequentada por um
volumoso grupo de jovens descolados. Com a programação suspensa até segunda
ordem, o empresário estima perda de R$ 120 mil com o cancelamento de seis
festas.

Na Pulsar são 35
funcionários aflitos, que aguardam o fim da pandemia. A direção ainda não sabe
quando vai voltar. Por hora, só entende que precisa aguardar uma data
definitiva do governo. “Estamos cientes que estamos [ainda] no começo da
crise”, arremata Max Lan.

Além dos
trabalhadores formais, há ainda uma cadeia que só recebe se trabalhar. É o caso
da DJ Laurize Oliveira, que, além de ser residente da Avalon Club, em Goiânia,
também viaja o Brasil todo se apresentando. Sem ter o que fazer, espera, em
casa, a definição dos contratos que já havia fechado, praticamente para o ano
inteiro. Para ela, que vive do trabalho artístico há 17 anos, esta é “uma crise
sem precedentes”.

Para cobrir o tempo livre, Laurize prepara um trabalho novo
para divulgar nas redes sociais, plataforma que nas últimas semanas foi
embalada por diversos produtos culturais e, claro, as famosas transmissões ao
vivo. “Os 15 primeiros dias tirei para descansar, refrescar a cabeça e colocar
o sono em dia”, pondera a profissional que cumpria programação intensa desde
meados de 2019. No final de novembro, tocou em Paris (França) e em Genebra
(Suiça).

Neste clima triste, como é sabido, as preocupações
financeiras imperam. Por isso, o presidente da Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes de Goiás (Abrasel Goiás), Fernando Jorge, defende que os bancos
brasileiros concedam linha de crédito para que os empreendedores do setor
tenham condições de se manter no mercado. “As boates, os shows, todos os
eventos, nós sabemos que foram os primeiros a serem prejudicados e os últimos
que retornarão às atividades”, considera.

A Abrasel Goiás está elaborando um documento com orientações
sanitárias a partir das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). O
intuito é que as informações sirvam de subsídio para a tomada de decisões no
Estado.

Grandes produções só
devem voltar em outubro

Além das boates, os grandes eventos também foram
interrompidos pela questão da saúde pública. Festivais gigantes como o
Coachella (EUA), Tomorrowland (França), Rock in Rio Lisboa (Portugal) e
Lollapalooza Brasil foram algumas das produções adiadas ou canceladas.

Na Capital, a tradicional Pecuária de Goiânia, festas
grandiosas como a ‘Festa da Fantasia’, ‘Abstract Festival’ e shows nacionais
como de Roberto Carlos e até apresentação internacional já foram adiados.
Outros vários esperam haver segurança para que ocorram.

O empresário e produtor de eventos Vinícius Toledo, um dos
mais influentes da cena goiana, é franco ao comentar a crise no setor. “Este
será um ano de muita tristeza”. Toledo estima prejuízo de R$ 2 milhões com o
cancelamento de suas festas. Um dos eventos que estava organizando, junto com
sócios, era o show inédito da cantora inglesa Bonnie Tyler, que aconteceria em
9 de maio.

Ao todo, seis
festivais que Toledo está à frente foram remarcados. Por enquanto, apenas o
Cerrado Festival Mix tem data certa para ocorrer, em 23 de outubro, véspera de
aniversário de Goiânia. “Está um caos. Com aeroportos fechados, ainda não
sabemos nem para quando vamos remarcar. Alguns artistas contratados não devem
voltar ao Brasil”, explica. Vinícius calcula que os eventos só voltem à
normalidade após outubro.

Até lá, a expectativa
e o desejo de todos os envolvidos é que a vida volte à normalidade. E a música
possa, de novo, tocar alto e ser motivo para diversão e felicidade. 

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