Língua Franca: uma obra de amor que quebra barreiras

O longa escrito, dirigido, produzido e estrelado por Isabel Sandoval nos traz diversos debates importantes | Foto: reprodução

Postado em: 04-04-2021 às 09h00
Por: Luan Monteiro
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O longa escrito, dirigido, produzido e estrelado por Isabel Sandoval nos traz diversos debates importantes | Foto: reprodução

Luan Monteiro

Lingua Franca, conta a história de Olivia, uma mulher trans filipina que vive nos Estados Unidos de forma ilegal. Olivia trabalha como cuidadora de uma idosa de origem russo-judaica em Nova York, e usa grande parte do seu salário para pagar um homem que se tornará seu marido para que ela consiga um green card. Quando ele desiste do casamento, Olivia se envolve com o neto problemático de sua patroa que acabara de sair da reabilitação onde tratava seu vício em álcool e não sabe que ela é trans.

O filme de Isabel Sandoval, que aqui escreve, dirige, produz e estrela a obra, é uma história de amor pura que traz o medo e paranoia de uma iminente deportação e do julgamento da pessoa que você ama pode ter ao descobrir um grande segredo. A relação entre Olivia e Alex (neto da patroa da protagonista), é delicadamente construído e nos deixa de coração na mão, pois coloca Olivia, que já vive em uma situação limite, em uma situação cada vez mais complexa, já que o alcoolismo de Alex o deixa irresponsável e imprevisível.

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O maior triunfo da obra é sua identidade, que é um retrato de sua autora. Nada aqui é gratuito ou sem sentido, cada cena, cada momento tem sua importância e deixa o telespectador mais investido na história.  A forma em que a cidade de Nova York é utilizada na trama nos deixa ainda mais investidos na trama. A grande cidade aqui se torna pequena, opressora, claustrofóbica e nos faz questionar quais são os espaços para pessoas trans e imigrantes dentro da sociedade.

Lingua Franca nos traz diversos debates como a política de imigração dos Estados Unidos, o amor e os direitos sociais para pessoas trans, o alcoolismo, a solidão e o medo. As questões políticas e sociais levantadas por Isabel Sandoval, o mais forte aqui é que temos uma história fluida e fácil de se assistir, que brinca com as tensões, nos envolve com os jogos de câmera. É cinema de alto escalão que mescla filmes independentes com os da grande mídia.

Em entrevista exclusiva ao Jornal O Hoje, Isabel Sandoval, autora da obra, falou sobre o processo e o que esperava da obra. “Foi um processo criativo muito emocionante. A emoção veio de escolhas estéticas e formais ousadas, como um tom que era lírico e sensual. Sempre que estou no set de filmagem, sou a primeira a acordar de manhã e a última a ir para a cama quando estou filmando alguma coisa. Eu não esperava que o filme recebesse a aclamação entusiástica que tem, mas sabia que teria uma forte reação por causa das regras que quebrei e convenções que subverti ao fazer o que parece ser um típico drama de questão social. Estou muito feliz porque a resposta acabou sendo principalmente positiva no ano e meio desde sua estreia em Veneza”, explica a diretora.

“Sempre fui uma cineasta ambiciosa, e sempre cumpro diversos papéis criativos em meus filmes ou temas politicamente carregados, e tinha a impressão de que Lingua Franca de alguma forma causaria impacto – inicialmente devido à minha identidade e ao clima cultural nos Estados Unidos, mas, em última análise, porque o filme é uma obra de arte radical e surpreendentemente ousada em seus próprios termos”, complementa.

Para Isabel, fazer filmes é uma grande paixão e seu destino. “Fazer filmes tem sido perseguir a maior paixão da minha vida. Isso me faz reviver, me dá minha razão de ser. Sou uma artista porque é realmente a única maneira de viver plena e honestamente; estou cumprindo meu destino. Quando Lingua Franca foi lançado, eu ouvi de estranhos sobre como o filme os moveu ou os inspirou a viver mais livremente ou a fazer sua própria arte. Foi então que percebi como é fortalecedor para as pessoas quando alguém abre um caminho para elas, ver diante de seus próprios olhos o que também é possível para elas verem alguém com quem elas poderiam se identificar vão lá e fazem sua própria visão uma realidade. Por muito tempo lutei com a ideia de autorismo, ou autoria artística, em termos puramente estéticos. Mas, considerando os tempos em que estamos, também é fundamentalmente político”, explica.

Isabel termina a entrevista aconselhando quem busca mostrar sua voz através do cinema. “Seja o mais original, ousado e aventureiro que puder como artista e cineasta. Somos incessantemente levados a pensar que só teremos sucesso na indústria se nos ajustarmos a fórmulas, seguirmos as regras, mas acho que isso só nos torna descartáveis e medíocres a longo prazo. Eu abracei e toquei o que torna minha voz única e singular em meu trabalho, e isso me permitiu me destacar e conquistar um lugar meu no cenário cinematográfico internacional”, completa.

Por conta da pandemia, o filme ainda não foi lançado no Brasil. Porém, Isabel acredita que seu trabalho será disponibilizado em plataformas de streaming nos próximos meses. Assista o trailer a seguir.

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