Empresas renegociam R$ 420 bi em dívidas

A recessão que tomou conta da economia foi comprometendo a saúde financeira dos maiores negócios nacionais

Postado em: 05-07-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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A recessão que tomou conta da economia foi comprometendo a saúde financeira dos maiores negócios nacionais

Da redação 

Cerca de 40% das maiores empresas brasileiras listadas na Bolsa de Valores estão muito endividadas, sendo que mais da metade delas está em estado “crítico”, tem dificuldade de pagar dívidas que somam R$ 420 bilhões. Se na conta for incluído os débitos da Petrobrás, que somam cerca de R$ 450 bilhões, o volume total de dívidas consideradas críticas vai a R$ 870 bilhões.

Na avaliação dos especialistas, tão ou mais preocupante do que o tamanho da conta tem sido a solução encontrada para tirar a corda do pescoço: a maioria está apenas renegociando os passivos com os bancos. Alongam prazos, reduzem valor das parcelas, enfim, jogam a conta para frente, numa aposta de que haverá dias melhores na economia em pouco tempo.

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Os dados constam de um levantamento feito pela consultoria alemã Roland Berger. Foram avaliados os balanços de 133 das maiores empresas em receita listadas na Bovespa. São as pesos-pesados da economia brasileira. Representam 25 setores e suas receitas somam R$ 1 trilhão – o equivalente a 17% do Produto Interno Bruto do País.

A conclusão: 77 empresas estão saudáveis, mas os indicadores de 26 empresas do grupo em melhor condição mostram deterioração financeira. Outras 54 empresas, 40% do total, têm dívidas muito elevadas, sendo que 34 delas chegaram a um estado “crítico”: têm dificuldade de gerar receita para pagar os juros das dívidas. Esse grupo mais fragilizado concentra praticamente 70% das dívidas do total de empresas avaliadas no estudo.

“Ficou claro para nós que uma parcela importante do mundo empresarial brasileiro atravessa um momento mais complicado do que dá a entender. Há um problema grave de solvência nas grandes empresas nacionais”, diz o português Antonio Bernardo, presidente da consultoria Roland Berger no Brasil.

Os consultores da Roland Berger se preocuparam particularmente com a estratégia escolhida pela maioria para contornar o momento adverso. A análise do endividamento teve como ponto de partida os balanços de setembro de 2015. De lá para cá, a economia se deteriorou ainda mais e as empresas que tinham os piores indicadores adotaram como estratégia principal simplesmente rolar os débitos. “A maioria procurou os bancos e, se teve bons argumentos, conseguiu renegociar a dívida, mas no fundo não tocou na raiz do problema. Ocorre que não reestruturar o negócio num ambiente de crise é assumir um risco alto. Se a economia não sair da recessão e voltar a crescer no prazo esperado, o problema pode voltar lá na frente pior do que antes”, diz Bernardo.

Na lista das empresas consideradas em estado crítico figura a Oi, um típico exemplo do tamanho do risco que se corre quando a tática é empurrar dívidas sem mexer na operação. 

A maior empresa de telefonia tinha condições de pagar os juros de sua dívida, mas estava com problema de liquidez para pagar parcelas que venciam. 

Outro caso é o da Gol. A empresa opera com prejuízo desde 2011, teve a nota de crédito rebaixado pelas agências de risco e tenta renegociar prazos para o pagamento de uma dívida de quase R$ 7 bilhões, boa parte dela com detentores de bônus. 

A Petrobrás está numa situação atípica. Vem conseguindo rolar as dívidas de curto prazo com financiamentos de bancos da China e emissão de bônus. Mas se de um lado ela paga a dívida financeira, está numa ampla renegociação de contratos com seus fornecedores. 

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