Inovação é remédio para combater crise

Empreendedores abusam da criatividade para se manterem no mercado. Pesquisa do CNDL e SPC Brasil mostra o entusiasmo com o futuro da economia nacional e de seus negócios

Postado em: 30-10-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Empreendedores abusam da criatividade para se manterem no mercado. Pesquisa do CNDL e SPC Brasil mostra o entusiasmo com o futuro da economia nacional e de seus negócios

Karine Rodrigues*

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Os momentos de crise são nebulosos, mas quase nunca intimidam empreendedores criativos dispostos a desbravar novos mercados. Após analisar o comportamento dos homens goianienses, Felippe Pires inovou e abriu uma barbearia conceito para atender um público que almeja serviços diferenciados e um espaço totalmente masculino.

Isso foi há dois anos quando surgiu a Coronel Moustache Barbearia. De lá pra cá, a economia não evoluiu positivamente. No entanto, a confiança do empresário se manteve e acabou gerando bons resultados ao negócio que se tornou franquia e tem marca própria de produtos de beleza.

Sem se intimidar com a crise, ele abriu uma franquia da Coronel Mustache na cidade de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, e tem planos para abrir uma ou duas lojas em 2018. “O cenário realmente não é muito bom, mas estudando e lendo aprendi que a empresa que supera as fases ruins sai fortalecida. Estamos em um dos piores momentos do País, mas ainda assim a gente não pode parar. Sou bem positivo, acho que o ano que vem será bem melhor que este”, acredita.

A história de Felippe Pires não é um caso isolado. O que se vê até agora em diversos cantos do Estado de Goiás é um esforço gigante do setor produtivo e da população de se manterem de pé. Esperava-se muito que 2017 fosse um ano de melhorias significativas no cenário econômico brasileiro, no entanto, as previsões não vingaram.

Houve reações positivas como a queda da taxa Selic, vendas superiores às de 2016 em datas como Dia das Mães, Namorados e Pais, mas nada que pudesse recuperar as perdas de anos anteriores.  Apesar disso, a pesquisa Indicador de Confiança do Micro e Pequeno Empresário do Varejo e Serviços, produzida pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) E SPC Brasil, referente ao mês de setembro, apresentou sinais de melhora, passou de 46 pontos em setembro de 2016 para 49 pontos no nono mês deste ano, uma alta de 6,5%, mantendo o nível apresentado desde maio deste ano. Em 2015, o indicador marcou 37,6 pontos.

O indicador varia de 0 a 100. Abaixo de 50 mostra pessimismo e quanto mais próximo de 100 pontos mais positiva é a posição. 50 pontos é o ponto neutro. A confiança ainda não está firme, mas a expectativa de que o cenário econômico se torne mais positivo nos próximos seis meses anima os empresários, independente do porte.

Para o presidente da CNDL, Honório Pinheiro, os dados mostram que os empresários de menor porte estão menos pessimistas com o futuro, mas ainda continuam em compasso de espera. “Há um otimismo comedido e moderado por parte desses empresários, que ainda não pode ser considerado satisfatório. Alguns indicadores macroeconômicos já dão sinais de melhora, mas o cenário político ainda é incerto. Isso faz com a confiança não deslanche, mas também retroceda como ocorreu em 2015”, analisa.

Vilão

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Goiânia (CDL Goiânia), Geovar Pereira, diz que o grande vilão da confiança do empresário são os juros, mas que aos poucos isso está se resolvendo. “A queda na taxa Selic, redução da inflação faz sobrar mais dinheiro em caixa e isso traz mais confiança para o empresário. E para o consumidor devolve parte do seu poder compra”, ressalta.

Mesmo com a confiança caminhando para a pontuação positiva, Goiás apresenta recuo nas vendas há 33 meses consecutivos. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no mês de agosto, o Estado registrou o menor volume de vendas no País com queda de 8%. Já o levantamento do SPC Brasil, também referente a setembro, aponta que o número de dívidas em atraso dos goianos caiu 2,55% em relação a setembro de 2016 e a inadimplência subiu apenas 0,56% na mesma comparação.

Na avaliação do presidente da Federação do Comércio do Estado de Goiás (Fecomércio-GO), José Evaristo dos Santos, a inadimplência está baixa e o endividamento caindo porque o consumidor não está comprando. “As pessoas estão cautelosas, o cenário econômico e político não ajudam, não se sabe o que esperar para o próximo mês, então o consumo está sendo freado ou postergado. A nossa expectativa é de que as vendas deste Natal sejam as melhores dos últimos dois anos”, reflete.

O diretor-presidente do Grupo Novo Mundo, Carlos Luciano, avalia que este período tem sido de grande restrição sob vários aspectos. Ele cita a restrição ao consumo porque a inflação subiu muito, assim como as taxas de juros. Além disso, o desemprego aumentou e quem ainda está empregado agora também se preocupa em perder o cargo. “Basta avaliar o ano, este cenário é claro e tem um reflexo direto nas pessoas que estão postergando as compras”, diz.

Porém, ele destaca que o consumidor continua tendo as mesmas demandas. “O endividamento está baixo, mas o consumidor, à medida que tem uma taxa de juros menor, tende a encontrar formas de viabilizar suas necessidades”.

 Aperfeiçoamento e novos conceitos de educação 

Com o desejo de promover mudanças na educação e recomeçar a vida profissional, a administradora mineira Vanessa Barbosa de Oliveira decidiu investir em Goiânia e abriu neste mês de outubro, a primeira escola da franquia Ctrl +Play na Capital.

A escola estimula a criatividade de crianças e adolescentes para o desenvolvimento de novas tecnologias, com aulas de programação e robóticas a partir de ferramentas lúdicas, preparando os alunos para o futuro digital.  O método exclusivo de ensino da Ctrl+Play foi elaborado por especialistas de instituições de renome internacional como a Massachussets Institute of Technology (MIT), Microsoft e Google. Os conhecimentos sobre produção de games, robótica, criação de aplicativos, desenvolvimento web, aplicações desktop, além de empreendedorismo e inglês, são ensinados de modo interativo, com jogos, aplicativos e atividades fora do computador.

A proposta diferenciada da escola foi o incentivo que Vanessa precisava para empreender. Ela que viveu mais de uma década na Dinamarca, foi vereadora e diretora de uma organização nacional de educação veio para Goiás para acompanhar o marido, e não se intimidou com a crise, que tem feito muito empresários frearem os investimentos e até mesmo começar um negócio.

Novata no meio empresarial, ela diz que está confiante, pois tem um bom produto a oferecer. “Devido à crise que estamos atravessando, os pais estão muito mais focados no futuro dos filhos. Sabemos que, em períodos assim, sobrevive quem tem competência. A única segurança que a gente tem é a educação e a tecnologia veio pra ficar. Ao longo da história do Brasil houve várias fases de instabilidade econômica, a gente não sabe o dia de amanhã”.

Educação

Por isso, a diretora da escola avalia que aprender tecnologia é fundamental para lidar com novas ferramentas de trabalho e também para se posicionar de forma diferenciada no mercado de trabalho. Com apenas 15 de dias de inauguração, a escola, que está situada na região que circunda o Parque das Laranjeiras, registrou quase 100 matrículas.

Para os próximos seis meses, ela almeja crescer e iniciar o processo de consolidação da escola em Goiânia. “O negócio ainda é muito novo e primeiro tenho que consolidar a escola. Mas meu desejo é de contribuir com a educação de muitas crianças e adolescentes do nosso Estado. No futuro, vamos levar conhecimentos em tecnologia para a rede pública de forma voluntária”.  

Acordar cedo para driblar a crise é a receita ideal para o sucesso 

Carlos Luciano diz que a receita para driblar a crise é acordar cedo, trabalhar duro e o governo ajudar haverá progresso. Otimista, ele ressalta que confia e que haverá uma retomada gradual e lenta da economia ao longo ainda deste semestre, mais consolidada em 2018 e um País melhor a partir de 2019. “Analisando essas mudanças o empresário tem a disposição de investir mais”.

Assim como ele, 46,5% dos empresários ouvidos na pesquisa Indicador de Confiança do Micro e Pequeno Empresário do Varejo e Serviços, da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) E SPC Brasil, sem mostraram confiantes com os próximos seis meses. 25,3% responderam não saber o por quê, mas estão com o sentimento de que as coisas vão melhorar.

Foram entrevistados 800 empresários em todo o Brasil. 45% esperam aumento das receitas no próximo semestre, enquanto 42,2% esperam a estabilidade. Ou seja, as vendas podem contribuir decisivamente para sanar essas perspectivas. Sinais da demonstração dessas expectativas já aparecem com a contratação de temporários.

De acordo com Geovar Pereira, a contratação de temporários deve ser 10% maior neste ano, em relação ao ano passado e chegar a 11 mil trabalhadores. As estimativas são de que 15% desses funcionários sejam efetivados em 2018. “As empresas estão muito enxutas, há dois anos são feitos cortes de nos quadros de colaboradores e agora é hora de contratar para repor o pessoal”, explica Pereira.

Contratações 

Sem mencionar números, Carlos Luciano diz que o Grupo Novo Mundo vai contratar temporários para o Natal acreditando que o aumento nas vendas deve ocorrer já neste mês de novembro, com a Black Friday. “Não acredito que o consumo vai explodir. Há uma demanda reprimida e ela vai ser satisfeita gradualmente, com aumento de vendas no Natal ou na Black Friday – o brasileiro já comprou a ideia. Então eu acredito sim que vai ter uma alta de vendas”, relata.

O proprietário da Coronel Moustache Barbearia, Felippe Pires crê que, por ser um ano eleitoral, 2018 será um pouco mais complicado. Mas tem a expectativa de que o cenário se assente logo após o início das campanhas. “Espero que haja uma recuperação no próximo ano, pois apenas em 2017 houve uma queda de 40% no faturamento e anseio que eu volte a respirar em 2018 e o faturamento volte a crescer de 20% a 25%”. 

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