Economistas destacam em 2017 inflação e taxas de juros mais baixas

A recuperação ainda é lenta. É preciso ter cautela e adotar medidas para que essa janela de oportunidade não se feche

Postado em: 10-12-2017 às 15h00
Por: Lucas de Godoi
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A recuperação ainda é lenta. É preciso ter cautela e adotar medidas para que essa janela de oportunidade não se feche

A menor inflação acumulada desde 1998 e a menor taxa básica
de juros (Selic) desde o início da série histórica, em 1986, foram alguns dos
destaques econômicos da última semana. Segundo economistas entrevistados pela
Agência Brasil, os números mostram que o país está começando a sair da crise.
Eles alertam, que a recuperação ainda é lenta e que é preciso ter cautela e
adotar medidas para que essa janela de oportunidade não se feche.

“A gente pode ser otimista ou pessimista. Se somos
pessimistas, dizemos que está tão ruim que qualquer pequena melhora é muito boa
e, se somos otimistas, dizemos que o país está crescendo e temos sinais que dão
suporte, são pontos de vista. Para mim, está crescendo, sim, devagar, porque
partimos de uma base muito baixa”, diz o professor Marcos Melo, que leciona
finanças na Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Ibmec-DF.

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A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), divulgada na sexta-feira (8), registrou acumulado de
2,5% de  janeiro a novembro, o menor
resultado para esse período desde 1998, quando a taxa ficou em 1,32%. Na
quarta-feira (6), o Banco Central anunciou a redução da Selic de 7,5% ao ano
para 7% ao ano. Com a redução, a taxa atinge o menor nível desde o início da
série histórica do Banco Central.

“Acho que sim, há recuperação. O Brasil chegou ao fundo do
poço, na maior recessão da história, que começou no segundo semestre de 2014 [e
foi] até o final de 2016. Agora há uma recuperação, lenta, mas recuperação”,
concorda o pesquisador Marcel Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia
da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Balassiano ressalta que parte da redução
da inflação deve-se à crise. “Em um período de crise, as pessoas ficam com
menos dinheiro, há mais pessoas desempregadas, compra-se menos, e o preço não
sobe tanto.”

Mesmo que a causa seja, em parte, a recessão, Melo afirma
que o país tem de aproveitar esse momento. “Com a inflação controlada, abre-se
a possibilidade para o Banco Central diminuir a taxa de juros. Isso permitirá
um aumento da atividade econômica. Empresas têm maiores possibilidades de fazer
investimentos, e isso significa abertura de vagas de trabalho, que aumentam o
consumo e fazem a roda girar”, diz Melo.

Percepção da
população

Os especialistas concordam que os indicadores apontam
melhoras. No entanto, são mudanças graduais, ainda são sentidas pela população,
em geral. “Uma coisa é a percepção da população, e outra é a realidade. A
realidade mostra que, aos poucos, [a recuperação] está chegando para as
famílias, para as pessoas em geral. Mas não significa que cada um dos
brasileiros tenha melhora na qualidade de vida”, ressalta Melo. “É um processo
lento e discrepante entre setores e até mesmo entre as regiões do país. Algumas
estão se recuperando mais rapidamente e outras, encolhendo.”

Para Balassiano, a taxa de desemprego, que afeta diretamente
a população, está em um nível muito alto, o que faz com que os indicadores
ainda não sejam amplamente percebidos. O desemprego é sempre o último a “sair
da crise”, explica.

“O desemprego está diminuindo lentamente, ainda vai ser
demorado. Fica difícil falar que está diminuindo, quando temos milhões de
desempregados [12,7 milhões]. A taxa de emprego informal está crescendo mais
que o formal, o que é normal em períodos de crise”, diz. “Para a população, o
emprego é a variável mais importante”.

Essa situação ainda deve se manter. Conforme projeções do
Ibre/FGV, o ano de 2017 deve fechar com 12,1% de desempregados. A média, ao
longo do ano, deve ficar em 12,8%. No ano que vem, a média deverá ser de 12,4%,
levemente inferior, e o ano deve fechar com taxa de desemprego de 11,5%.

Medidas são
necessárias

Apesar de apontarem para melhorias, os números também
mostram que é preciso cautela, observa o economista Fábio Bentes, chefe da
Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo (CNC). Preços de produtos e serviços como energia e gás continuam
subindo, e isso pode voltar a impactar nos demais produtos, aumentando os
custos.

“Sempre que energia, butijão de gás, combustível aumentam,
isso acaba se espalhando para outros preços”, afirma. Segundo o economista, nos
últimos 12 meses, esses itens, chamados de preço administrado, tiveram aumento
de 7,8%, enquanto os demais de preços livres, como roupas e alimentos,
registraram alta de 1,2%.

“É preciso que o governo consiga calibrar melhor para o ano
que vem esses reajustes, que consiga equilibrar suas contas para não precisar
de taxas de juro reais tão elevadas. A inflação está em 2,5% e a taxa de juro
real, em 4,5%. É muito alto. E sabemos que o calcanhar de Aquiles é a
Previdência”, acrescenta Bentes. “Temos uma janela de oportunidade, é preciso
preservar esse cenário para o ano que vem, dar sustentabilidade para não chegar
à inflação absurda de 2015 [que foi de 10,67%].”

(Agência Brasil) 

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