Quinta-feira, 28 de março de 2024

Novo presidente do Banco Central defende autonomia e inflação baixa

No primeiro discurso no cargo, Campos Neto afirmou que o governo trabalhará para ampliar o mercado de capitais privado

Postado em: 13-03-2019 às 18h30
Por: Redação
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No primeiro discurso no cargo, Campos Neto afirmou que o governo trabalhará para ampliar o mercado de capitais privado

No primeiro discurso oficial no cargo, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, defendeu a autonomia formal da instituição. Ele disse que buscará manter a inflação em níveis baixos e controlados e prometeu continuar a aprimorar a transparência na comunicação do Banco Central com a sociedade.

“Além de trabalhar para manter as conquistas, é necessário avançar. E nesse sentido, acreditamos que um Banco Central autônomo estaria melhor preparado para consolidar os ganhos recentes e abrir espaço para os novos avanços de que o país tanto precisa”, declarou Campos Neto.

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Indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em novembro, Campos Neto só tomou posse no fim de fevereiro porque precisou ser sabatinado pelo Senado Federal e ter o nome aprovado. Na cerimônia de transmissão de cargo, ele disse estar orgulhoso de trabalhar com Guedes. “As reuniões no Leblon [durante a campanha eleitoral] não serão esquecidas. Realmente estamos numa orquestra bem afinada sob a regência do maestro Paulo Guedes”, disse.

Campos Neto ressaltou que se empenhará para que o Banco Central cumpra as duas principais missões: manter o poder de compra da moeda por meio de inflação baixa e a solidez do sistema financeiro. Na próxima semana, o presidente do BC comandará sua primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), órgão que define a taxa Selic – juros básicos da economia – atualmente em 6,5% ao ano.

No primeiro discurso no cargo, Campos Neto também afirmou que o governo trabalhará para ampliar o mercado de capitais privado (captação de recursos para grandes projetos pelo setor privado), pela democratização do sistema financeiro e para melhorar a educação financeira da população, para estimular a participação de todos no mercado e ampliar a formação de poupança.

A autonomia do Banco Central está atualmente em discussão no Congresso Nacional. Pela proposta, o presidente da República não poderia interferir na política monetária, com o BC tendo liberdade para decidir sobre os juros e tomar medidas.

Neto do economista Roberto Campos, ministro do Planejamento nos anos 1960, Campos Neto defendeu a redução do papel do governo no sistema financeiro e o desenvolvimento do setor privado. “Queremos tornar o mercado mais aberto para os estrangeiros, com uma eventual moeda conversível que sirva de referência para a região”, declarou.

Ele também defendeu a redução do crédito subsidiado para empresas, principalmente para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).  Para Campos Neto, as distorções provocadas pelos empréstimos com juros reduzidos ficaram mais explícitas depois da redução da taxa Selic para 6,5% ao ano.

Balanço

O ex-presidente do BC Ilan Goldfajn fez um balanço de sua gestão. Ele lembrou que conseguiu reduzir a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 11% no fim de 2015 para cerca de 4%, ao mesmo tempo em que reduziu a taxa Selic – juros básicos da economia – para 6,5% ao ano, no menor nível da história. Segundo ele, a maior transparência do BC com a sociedade e o ganho de credibilidade contribuíram para reduzir as expectativas de inflação.

Goldfajn, no entanto, defendeu a aprovação de reformas e da autonomia formal do BC como medidas que contribuirão para manter a inflação em níveis baixos de forma sustentada. “A queda na inflação permitiu redimensionar expectativas e liberar forças de demanda após dois anos de combinação perversa de inflação e recessão [2015 e 2016]. A redução da Selic ocorreu de forma sustentável. Os juros de mercado indicam confiança de que podemos ter juros mais baixos de forma estrutural no futuro, dependendo da aprovação reformas e da administração da economia”, declarou.

Segundo Goldfajn, a política monetária em seu mandato foi estimulativa (buscou manter juros baixos para estimulara a economia). Ele disse que uma prova do sucesso de sua gestão foi que, em 2018, o Brasil não teve que aumentar a taxa Selic num cenário de alta do dólar, queda no preço de commodities (bens primários com cotação internacional) e fuga de recursos para economias avançadas. “Num ano em que a maioria dos emergentes elevou as taxas básicas, evitamos retirar estímulo monetário tão necessário para a recuperação da economia brasileira”, disse.

Além da gestão da política monetária, Goldfajn destacou a Agenda BC+, conjunto de medidas para reduzir o custo do crédito, modernizar a legislação, ampliar a inclusão financeira e tornar o sistema financeiro mais eficiente. Segundo o ex-presidente, de 41 ações da Agenda BC+ foram concluídas e 27 estão em andamento.

Ele citou como principais medidas a regulamentação da Fintechs (instituições financeiras tecnológicas de crédito colaborativo), a portabilidade da conta-salário, a Taxa de Juros de Longo Prazo (TLP) e o limite de 30 dias para o rotativo do cartão de crédito. “Tudo isso contribuiu para levar a um menor custo de crédito para a sociedade”, disse. Goldfajn também defendeu a autonomia do BC, como medida que não conseguiu concluir. “É necessário tornar a autonomia de fato em autonomia de lei”, destacou.

A cerimônia de transmissão de cargo tem a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes; do ex-presidente do BC e ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). (Agência Brasil) 

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