Queda nas vendas externas da indústria de complicam chances de reação da produção

As vendas externas do Brasil dependem do setor agropecuário e da indústria extrativa

Postado em: 12-04-2019 às 20h30
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Queda nas vendas externas da indústria de complicam chances de reação da produção
As vendas externas do Brasil dependem do setor agropecuário e da indústria extrativa

Lauro Veiga 

Continua após a publicidade

As
exportações vêm perdendo fôlego neste começo do ano, destacadamente no caso das
vendas externas da indústria de transformação, o que tende a limitar ainda mais
as possibilidades de crescimento do setor neste momento. Além disso, as
importações realizadas pela indústria igualmente sofreram baixa no primeiro
trimestre, numa queda que se acentuou em março. A combinação desses dois
fatores, analisados na edição mais recente do Indicador de Comércio Exterior
(Icomex), produzido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio
Vargas (Ibre/FGV), sugere dificuldades à frente para um setor que já tem
enfrentado uma longa série de baixo crescimento desde o final oficial da
recessão.

No
resumo final incluído pela equipe do Ibre no documento, “as exportações
brasileiras repetem o mesmo comportamento de anos anteriores, onde o
crescimento das vendas externas do Brasil depende do setor agropecuário e da
indústria extrativa. Além disso, os dados de importações não sinalizam uma
recuperação imediata da indústria de transformação”. Diante da reiterada falta
de demanda no lado interno da economia, a exportação ainda poderia funcionar
como uma válvula de escape para o setor. Mas, neste momento, com a economia e o
comércio globais em desaceleração, a indústria não poderá contar integralmente
com a ajuda externa.

Os
volumes embarcados para o mercado exterior pela indústria de transformação
sofreram baixa pelo segundo mês consecutivo neste ano, caindo 10,4% em março,
depois de despencar 18,3% em fevereiro, sempre em comparação com igual período
do ano passado. No acumulado do primeiro trimestre, as exportações do setor,
ainda medidas em volume, baixaram 6,9%. No trimestre final de 2018, o setor
conseguiu recuperar-se da redução de 4,1% registrada no terceiro trimestre,
avançando 4,8%, para devolver com sobras o ganho registrado ali no acumulado
dos primeiros três meses deste ano.

Crise argentina

A
perda de fôlego das exportações veio acompanhada de novas provas de tibieza na
ponta das importações, conforme anota o Icomex. Os volumes importados pelo
setor de transformação industrial caíram 14,1% em fevereiro e mais 5,7% em
março, fechando o primeiro trimestre com recuo de 1,6% frente aos três meses
iniciais de 2018. Os tombos mais graves vieram dos setores de bens de consumo
duráveis (-10,8% frente ao primeiro trimestre do ano passado) e de semiduráveis
(-10,0%). No caso dos bens duráveis, a queda recebeu forte influência dos maus
resultados colhidos nas vendas externas de veículos, relacionados mais
diretamente à crise na economia da Argentina.

Balanço

·  
As
importações de bens de capital desabaram 10,7% no primeiro trimestre deste ano,
também em volume. Descontadas as compras de plataformas de petróleo, que ajudam
a distorcer os resultados, o tombo ainda foi relevante (baixa de 10,5%).

·  
Ainda
nesta mesma área, as compras de bens de capital que entram na formação do
investimento total no País chegaram a avançar 7,6% em volume (ou 7,7% se
desconsidera a importação de plataformas de petróleo), mas o desempenho esteve
concentrado nas importações para o setor agrícola, que saltaram 14,0%.

·  
De
volta à ponta das exportações, o crescimento de 2,5% em volume ao longo do
terceiro trimestre deste ano deveu-se exclusivamente ao salto de 12,3% nas
vendas de commodities, puxadas pelos embarques do
complexo soja (mais 25,4%) e petróleo e derivados (mais 24,6%).

·  
Deve-se
observar que a velocidade de crescimento mensal dos volumes de petróleo
embarcados para fora do País sofreu drástica desaceleração, saindo de um avanço
de 32,3% em fevereiro para uma variação de 6,3% em março. Para o complexo soja,
o dado de março aponta redução de 3,2% frente ao mesmo mês de 2018.

·  
Pode
não ser uma tendência ainda, visto que a nova safra começa a entrar mais
fortemente a partir deste mês, o que deverá reforçar os embarques de soja e
demais grãos. O resultado de março, de qualquer forma, sugere que o mercado
talvez não consiga sustentar o ritmo de crescimento anterior.

·  
O
grupo de produtos classificados como “não commodities” apontou retração de 9,1%
nos volumes exportados no primeiro trimestre, com baixas de 23,3% em fevereiro
e de 12,3% em março.

 

Veja Também