A inércia da equipe econômica para enfrentar o baixo crescimento e o desemprego elevado

Lauro Veiga

Postado em: 12-06-2019 às 19h20
Por: Sheyla Sousa
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Lauro Veiga

Com
o País engolfado por uma crise política que parece assumir caráter quase
permanente, a equipe econômica continua se portando com a mesma inércia
observada neste começo de ano para o setor varejista de forma geral, para usar
a definição escolhida pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial (Iedi) para descrever o cenário atual no comércio. A inércia, no
caso do Ministério da Economia e do Banco Central (BC), refere-se à letargia
total na definição de medidas que ataquem os problemas econômicos que de fato
interessam, a saber, o desemprego nas alturas e o baixo crescimento da
atividade econômica. Porque, no lado dos “negócios especiais” para a liquidação
do patrimônio público e desmantelamento do sistema público de crédito, a equipe
econômica tem demonstrado ativismo sem igual.

Por
enquanto, a análise vai se concentrar em parte dos dados conjunturais
divulgados ontem, mais especificamente nos números do comércio varejista em
abril, trazidos pela pesquisa mensal sobre o setor realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para continuar na descrição do
Iedi, até aqui, “o comércio varejista (…) ainda não mostrou a que veio”. As
vendas no conceito “restrito”, que engloba apenas segmentos exclusivamente
varejistas, recuaram 0,6% em abril, na comparação com março, já descontados
fatores sazonais (como feriados, por exemplo, que podem distorcer as
comparações). Incluindo as revendas de veículos e autopeças e as lojas de
material de construção, que atuam igualmente nos mercados de varejo e
atacadista, as vendas simplesmente não avançaram um milímetro sequer.

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Aquém do
esperado

Na
avaliação dos economistas Luka Barbosa e Matheus Felipe Fuck, do Departamento
de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco, os dois resultados vieram abaixo
das expectativas do mercado e também da instituição. No caso do varejo
restrito, esperava-se recuo de 0,1% (mediana do mercado) a 0,4% (projeção do
Itaú). As vendas no comércio ampliado, nas previsões, tenderiam a avançar entre
0,3% e 0,4%. Os resultados apresentados pela pesquisa do IBGE parecem indicar,
portanto, que a demanda doméstica estaria mais retraída do que esperavam os
mercados, o que, mais uma vez, assumindo o risco de tornar a coluna repetitiva
e, portanto, cansativa além da medida, reafirmaria a necessidade de mudanças de
rumo na política econômica e especialmente na política de juros, com novos
cortes na taxa básica.

Balanço

·  
As
vendas do varejo (restrito e ampliado) vêm numa espécie de montanha russa nos
últimos meses, alternando meses de altos e baixos. Na comparação com o mês
imediatamente anterior, o setor varejista tradicional (ou restrito, na
classificação do IBGE) recuou 0,1% em fevereiro, repôs a perda em março (+0,1%)
e perdeu 0,6% em abril.

·  
No
varejo ampliado, os resultados não foram muito melhores, com baixa de 0,5% em
fevereiro, seguida por alta de 1,1% em março e zero de variação em abril.

·  
Considerando
igual mês do ano passado como base, as vendas no varejo restrito cresceram 4,0%
em fevereiro, perderam 4,4% em março e anotaram reação de 1,7% em abril. Na
mesma sequência, as vendas no varejo ampliado subiram 7,8%, baixaram 3,4% e
cresceram 3,1%.

·  
Segundo
o Itaú Unibanco, os primeiros indicadores coincidentes, incluindo o
licenciamento e vendas de veículos e consultas ao Serviço Central de Proteção
ao Crédito (SCPC), sugerem elevação de 0,2% para o varejo restrito e de 0,6%
para o ampliado entre abril e maio. Ou seja, seria mantida a tendência de baixo
crescimento – se essas previsões se confirmarem, o que não tem ocorrido com
frequência.

·  
Comparado
a dezembro do ano passado, as vendas do varejo convencional não se mexeram,
mostrando quatro meses de paralisia virtual. No varejo ampliado, registrou-se
elevação de 1,5%.

O desempenho foi pior em Goiás, já que os
varejos restrito e ampliado anotaram baixas de 1,3% e de 2,5% entre março e abril,
com variações de 0,6% e zero frente a abril do ano passado, na mesma ordem.
Entre 10 segmentos pesquisados, seis apresentaram perdas em relação a abril de
2018. 

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