Renda dos mais pobres cai e cresce desigualdade no mercado de trabalho

Divulgada ontem, a publicação destaca, logo no início, que a “melhora do mercado de trabalho proporcionou, no segundo trimestre do ano”, ganhos especialmente para a população mais jovem - Foto: Divulgação

Postado em: 18-09-2019 às 19h30
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Renda dos mais pobres cai e cresce desigualdade no mercado de trabalho
Divulgada ontem, a publicação destaca, logo no início, que a “melhora do mercado de trabalho proporcionou, no segundo trimestre do ano”, ganhos especialmente para a população mais jovem - Foto: Divulgação

Da Redação

A
mais recente edição da Carta de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), agora subordinado ao Ministério da Economia, apresenta,
inicialmente, uma visão mais “motivadora”, para usar um termo da moda, sobre o
mercado de trabalho, versão quase demolida na sequência pelo conjunto de
estatísticas que a própria instituição se encarregou de coletar e sistematizar.
Divulgada ontem, a publicação destaca, logo no início, que a “melhora do
mercado de trabalho proporcionou, no segundo trimestre do ano”, ganhos
especialmente para a população mais jovem, com alta de 1,7% no total de empregos
para as pessoas com idades entre 18 e 24 anos, na comparação com o mesmo
trimestre do ano passado.

Mas
deixa para o final dados ainda mais relevantes, que desnudam o caráter mais
desigual da recuperação visualizada pelo Ipea e mostram perdas de renda para as
famílias mais pobres, enquanto os rendimentos dos domicílios mais abonados
continuam a crescer. Houve uma piora na disparidade entre rendimentos mais
baixos e aqueles mais altos, com agravamento na desigualdade e, portanto, maior
concentração de renda em benefício das famílias mais ricas, com rendimentos
médios ao redor de R$ 29,0 mil – mais de 30 vezes a renda média recebida pelos
domicílios mais pobres.

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O
relatório toma como base em dados e microdados da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílio Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged),
do Ministério do Trabalho. Num exercício um tanto enviesado, a Carta de
Conjuntura tenta mostrar que tudo poderia ser um tanto melhor no mercado de
trabalho caso a população economicamente ativa não tivesse alterado o “padrão”
de crescimento observado nos sete primeiros meses do ano passado, quando havia
acumulado variação de apenas 0,8% em relação ao mesmo intervalo de 2017.

Menos realidade,
melhores estatísticas

Neste
ano, no entanto, a chamada força de trabalho insistiu em crescer 1,7%
(provavelmente engrossada por trabalhadores que se encontravam fora do mercado
e retornaram na esperança de conseguir algum tipo de colocação, ainda que na
informalidade). Não fosse a teimosia desses trabalhadores e sua insistência em
buscar meios de subsistência para suas famílias, a taxa de desemprego poderia
estar ali perto de 10,9% no trimestre finalizado em julho deste ano – e não nos
11,8% apontados pela PNADC. Levando esse tipo de exercício ao extremo, se todos
desistissem de procurar emprego, o desemprego seria zerado, o que não
resolveria o problema das famílias, mas melhoraria as estatísticas.

Balanço

·  
O
trabalho do Ipea permite visualizar que nem mesmo a festejada melhoria no
mercado de trabalho merece lá tanta comemoração. Os motivos já têm sido
apresentados aqui a cada divulgação do IBGE nesta área. Como mostra o
relatório, a informalidade tem impulsionado o crescimento mais recente do
número total de ocupados na economia, com redução gradativa de ocupações com
registro.

·  
Sempre
de acordo com a Carta de Conjuntura do instituto, a participação dos
trabalhadores formais no total de pessoas ocupadas baixou de 51,4% no primeiro
trimestre de 2015 para 47,1% no trimestre encerrado em julho deste ano, na pior
marca da série histórica da PNADC, iniciada em 2012.

·  
A
participação dos trabalhadores em carteira e por conta própria, naqueles mesmos
períodos, avançou de 17,6% e 23,6% para 20,0% e 25,9% respectivamente. Somadas,
as duas categorias passaram a representar 45,9% dos ocupados, superando a fatia
dos trabalhadores com registro. No primeiro trimestre de 2015, essa
participação havia sido de 40,2%.

·  
Os
desempregados, de outro lado, têm permanecido nesta situação por mais tempo e
esse fatia tem crescido e não regredido, como se poderia esperar num cenário de
retomada efetiva. Até o trimestre maio-julho de 2018, perto de 24,4% do total
de desocupados continuavam desempregadas dois anos ou mais depois de terem
perdido o emprego. Esse percentual avançou para 26,2% no trimestre encerrado em
julho deste ano.

·  
Pelo
lado da renda, os domicílios muito pobres sofreram queda real de 1,75% no
rendimento médio do trabalho entre o segundo trimestre de
2017 e o mesmo período deste ano. Os muito ricos tiveram ganho real de 2,17%. A
distância entre os dois extremos cresceu: a renda média dos mais ricos, que
havia sido 29,36 vezes maior do que a dos mais pobres, passou a ser 30,53 vezes
maior (R$ 28.892 frente a R$ 946,34).

No
segundo trimestre de 2019, na comparação interanual, enquanto os grupos de
trabalhadores ocupados com ensino fundamental incompleto e completo recuaram
2,9% e 1,8%, respectivamente, os com ensino médio e superior avançaram 4,1% e
6,3%

 

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