Com recordes negativos, crise devasta empregos e achata renda das famílias

No trimestre encerrado em abril, a massa de rendimentos do trabalho sofreu a pior queda em toda a série histórica da PNADC, saindo de R$ 218,945 bilhões no trimestre concluído em janeiro para R$ 211,628 bilhões| Foto: Divulgação

Postado em: 29-05-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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No trimestre encerrado em abril, a massa de rendimentos do trabalho sofreu a pior queda em toda a série histórica da PNADC, saindo de R$ 218,945 bilhões no trimestre concluído em janeiro para R$ 211,628 bilhões| Foto: Divulgação

As
medidas de isolamento social adotadas a partir da segunda quinzena de março
explicam em parte da devastação observada no mercado de trabalho desde lá. A
outra parte da conta deve ser devidamente cobrada do governo federal e de sua
equipe econômica, que continuam a distribuir demonstrações de ineficiência,
lentidão e irresponsabilidade diante da gravidade da crise. Os números aferidos
pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNADC), do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram uma deterioração
acelerada do emprego, elevação do desemprego e achatamento da renda das
famílias.

Esse
comportamento tornará muito mais complicada a volta à “normalidade” e a volta de algum crescimento no horizonte perceptível, frustrando
mais uma vez os delírios do superministro da Economia e de sua equipe de
guarda-livros.

No
trimestre encerrado em abril, a massa de rendimentos do trabalho, atualizada
com base na inflação, sofreu a pior queda em toda a série histórica da PNADC, saindo
de R$ 218,945 bilhões no trimestre concluído em janeiro para R$ 211,628
bilhões, o menor valor real desde o terceiro trimestre de 2018. A queda de 3,3%
correspondeu a uma perda de R$ 7,317 bilhões, a mais severa desde que a pesquisa
começou a ser feita (2012), o que tenderá a afetar profundamente a capacidade
de consumo das famílias e retardar qualquer possibilidade de retomada futura
(já que a renda básica emergencial tem demorado para chegar).

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Além
disso, foram recordes tanto o número de pessoas fora da força de trabalho (quer
dizer, que desistiram ou não puderam procurar emprego), quanto o total de
trabalhadores em situação de desalento (5,026 milhões), o que ajudou a elevar o
número de pessoas subutilizadas para o maior nível desde que a pesquisa foi
iniciada.

Considerando
o trimestre finalizado em março, a pesquisa havia identificado um total de
12,850 milhões de pessoas sem emprego, equivalente a uma taxa de desocupação de
12,2%. O número de desocupados sofreu ligeira alteração no trimestre fevereiro
a abril, recuando para 12,811 milhões – o que, para o IBGE, corresponde a uma
estabilização, ainda que temporária, já que os números tendem a ser piores nas
próximas edições da pesquisa, diante da destruição de empresas e de negócios em
curso, enquanto a equipe econômica demonstra incompetência para fazer o crédito
chegar aos que mais precisam.

Fora da força

Mas
a taxa de desemprego subiu para 12,6% naquele trimestre (fevereiro-abril),
praticamente retornando aos níveis observados no começo de 2019. A elevação
deveu-se, entre outros motivos, à redução de 3,8% no total de pessoas na força
de trabalho (ou seja, que estavam ocupadas ou desempregadas, mas ainda buscavam
alguma colocação no mercado). O percentual não reflete toda a extensão do
problema: nada menos do que 4,012 milhões de trabalhadores saíram do mercado,
deixaram a força de trabalho na comparação com o trimestre imediatamente
anterior (novembro de 2019 a janeiro deste ano). No mesmo intervalo, o total de
pessoas fora de força de trabalho, seja porque foram impedidas de sair de casa
pelas medidas de isolamento, seja porque simplesmente desistiram de procurar
alguma ocupação, ainda que como ambulante ou camelô, saltou para seu nível mais
elevado, saindo de 65,733 milhões para 70,926 milhões de pessoas. Ou seja,
5,193 milhões a mais. Esse comportamento tem camuflado o desemprego real e
sugere que a taxa de desocupação já estaria muito próxima de 17,5%.

Balanço

·  
A
redução no número de pessoas na força de trabalho explica porque o fechamento
de 4,910 milhões de empregos não gerou um desemprego ainda mais elevado. Até
janeiro, a pesquisa registrava 94,151 milhões de pessoas ocupadas, embora
43,21% delas (40,685 milhões) não tivessem carteira assinada nem registro no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) ou trabalhassem para ajudar a
própria família.

·  
No
levantamento seguinte, cobrindo o trimestre fevereiro-abril deste ano, o número
de ocupados caiu 5,2%, para 89,241 milhões, o menor contingente desde o
trimestre fevereiro-abril de 2017 (88,872 milhões). Na mesma comparação, o
crescimento do total de desocupados foi até modesto, já que a PNADC havia
encontrado 11,913 milhões de desempregos no trimestre novembro-janeiro, número
elevado para 12,811 milhões nos três meses seguintes, como registrado mais
acima. Embora tenham sido liquidados pouco mais de 4,9 milhões de empregos, o
total de desempregados registrou acréscimo de 898,0 mil.

·  
A
devastação dos empregos afetou mais profundamente aqueles trabalhadores sem
vínculos, ocupando empregos precários ou desempenhando funções marginais dentro
do mercado, o que já era uma tendência esperada diante do fechamento quase
completo da economia num primeiro momento. Entre um trimestre e o seguinte,
perto de 78% dos cortes foram registrados entre trabalhadores sem carteira e sem
CNPJ e aqueles que desempenhavam alguma atividade para auxiliar suas famílias.

·  
Somados,
aqueles contingentes de trabalhadores baixaram de 40,685 milhões para 37,047
milhões, correspondendo ao encerramento de 3,638 milhões de vagas (queda de
8,9%).

·  
Parece
razoável considerar que uma parcela relevante desses trabalhadores estivesse em
setores relacionados a serviços de baixa especialização, incluindo comércio,
oficinas mecânicas, transporte, bares, restaurantes, hotéis, serviços
domésticos e outros. Os trabalhadores nessas áreas foram reduzidos de 39,923
milhões para 36,670 milhões entre os trimestres encerrados em janeiro e em
abril (uma queda de 8,2%, com encerramento de 3,253 milhões de ocupações). Quer
dizer, dois terços da queda no total de empregos podem ser explicados pela
retração naqueles setores.

·  
Com
12,8 milhões de desempregados, mais 9,766 milhões na força de trabalho
potencial (dos quais, 5,026 milhões em desalento) e 6,097 milhões trabalhando
menos horas do que desejariam, a subutilização alcançou o recorde de 28,675
milhões (alta de 8,7% no trimestre). A taxa de subocupação subiu de 23,2% para
25,6% (igualmente recorde).

 

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