“Donos do dinheiro” engordam patrimônio em quase R$ 700,0 bi

Crise sanitária causada pela Covid-19 não abalou a saúde financeira dos mais ricos, que multiplicaram suas riquezas - Foto: Reprodução

Postado em: 28-10-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: “Donos do dinheiro” engordam patrimônio em quase R$ 700,0 bi
Crise sanitária causada pela Covid-19 não abalou a saúde financeira dos mais ricos, que multiplicaram suas riquezas - Foto: Reprodução

Lauro Veiga Filho  

A
crise sanitária não chegou a abalar a saúde financeira dos “donos do dinheiro”
por aqui, fato que não é também novidade no restante do mundo. Os poucos
endinheirados sempre encontram caminhos para multiplicar fortunas,
especialmente se isso não exigir uma única gota de suor. No paraíso dos
rentistas, o patrimônio total estacionado em aplicações financeiras variadas,
no que se poderia classificar de certa forma como “riqueza financeira”, atingiu
a casa dos R$ 7,5 trilhões no final de setembro, superando todo o valor da
riqueza produzida em um ano pelo lado real da economia.

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A
partir de março deste ano, considerando que o final de fevereiro o saldo
daquelas aplicações encontrava-se em R$ 6,806 trilhões, nas estatísticas do
Banco Centra (BC), os endinheirados do País conseguiram engordar seu estoque de
riqueza em praticamente R$ 689,13 bilhões, elevando aquele estoque em 10,3%,
para R$ 7,504 trilhões ao final de setembro, em valores mais precisos, o que
correspondeu a 104,3% do Produto Interno Bruto (PIB), estimado em pouco mais de
R$ 7,213 bilhões nos 12 meses terminados em setembro deste ano. Em fevereiro, a
relação havia sido de pouco menos do que 93,1%.

O
aumento proporcional do patrimônio aplicado pelos “donos do dinheiro” no
mercado financeiro foi influenciado, como óbvio, pela perda de valor das
riquezas geradas no mundo real, como efeito da crise, ou seja, pelo
encolhimento do PIB. Mas isso explica apenas uma parte da história. Houve principalmente
um crescimento vigoroso dos recursos investidos em poupança, títulos públicos e
privados, quotas de fundos de investimento de alta liquidez entre outros
instrumentos financeiros (como dizem os tais operadores do mercado financeiro),
concentrado principalmente nos meses da pandemia.

Grana
grossa na pandemia

O
período entre março e setembro respondeu por 87,3% do incremento acumulado pelo
patrimônio financeiro dessa turma ao longo dos 12 meses terminados no mês
passado. Em setembro do ano passado, o estoque de “riqueza financeira” somava
pouco coisa abaixo de R$ 6,705 trilhões (representando 93,7% do PIB) e avançou
apenas 1,51% até fevereiro deste ano, num acréscimo de R$ 101,178 bilhões.
Quando se compara setembro deste ano com igual mês de 2019, no entanto, aquele
estoque passa a acumular alta de quase 12,0%, o que representou a entrada no
mercado de mais R$ 799,304 bilhões (dos quais, como visto e apenas para
reforçar o argumento, R$ 698,126 bilhões entraram entre março e o mês passado).

Balanço

·  
O
destino principal das novas aplicações financeiras foram os depósitos a prazo,
ainda que as taxas de juros tenham se tornado menos atraente nos últimos meses
em função da queda na chamada “taxa Selic”, que define um piso para os juros no
mercado financeiro.

·  
O
saldo das aplicações em depósitos a prazo experimentou um salto de 47,2% desde
fevereiro, saindo de R$ 1,123 trilhão para R$ 1,653 trilhão, num acréscimo de
R$ 529,885 bilhões. Ou seja, apenas a movimentação nesse tipo de aplicação
explicou quase 76,0% do aumento registrado por todo o estoque da “riqueza financeira”
naquele período. Comparado a setembro de 2019, o saldo dos depósitos a prazo
cresceu 54,9%.

·  
O
dinheiro aplicado em quotas de fundos “monetários”, quer dizer, fundos de
investimento em renda fixa, fundos cambiais e os chamados multimercados (que
incluem investimentos financeiros diversificados, incluindo ações, certificados
de depósito bancários, títulos públicos federais e papéis privados, câmbio e
outros), apresentaram variação inferior a 4,0% desde fevereiro, passando a
acumular R$ 3,703 trilhões.

·  
Esse
tipo de aplicação chegou a responder por qualquer coisa ao redor de 52,4% do
total da “riqueza financeira” até fevereiro deste ano, mas viu sua participação
ser reduzida para 49,35% em setembro.

·  
As
operações de compra definitiva de títulos federais por investidores pessoas
jurídicas e físicas residentes no País tiveram o saldo reduzido em 21,4%
naquele mesmo período, baixando de R$ 427,829 bilhões em fevereiro para R$
336,163 bilhões em setembro. Como visto, estas são operações definitivas, o que
significa dizer que o investidor tende a manter esses papéis em carteira até o
seu vencimento. Embora prometam remuneração mais elevada, a saída de
investidores parece refletir o clima de elevada incerteza no País na área
econômica, agravado pelo “terrorismo fiscal” alimentado pelos mercados.

·  
Investidores
estrangeiros reduziram sua exposição ao Brasil nos meses seguintes à chegada do
coronavírus ao País, voltaram a engordar suas aplicações em agosto, mas
realizaram forte retirada em setembro. O saldo das aplicações de não residentes
em depósitos a prazo, quotas de fundos e títulos federais – que não entraram no
cálculo da “riqueza financeira” doméstica, por assim dizer –, recuou 3,74% de
agosto para setembro, saindo de R$ 529,211 bilhões (1,8% abaixo do estoque
registrado em agosto de 2019) para R$ 509,415 bilhões no mês passado. Uma
redução de R$ 19,796 bilhões. Na comparação com setembro de 2019, o BC anotou
baixa de 2,75%.

 

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