Investimento estrangeiro volta a desabar e perde US$ 25,7 bi no ano

Cenário para o investimento realizado por empresas estrangeiras no Brasil continua muito negativo e tende a piorar com a confirmação de uma “segunda onda” de contaminações do Coronavírus | Foto: Reprodução

Postado em: 26-11-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Cenário para o investimento realizado por empresas estrangeiras no Brasil continua muito negativo e tende a piorar com a confirmação de uma “segunda onda” de contaminações do Coronavírus | Foto: Reprodução

Lauro Veiga

O
cenário para o investimento realizado por empresas estrangeiras no Brasil
continua muito negativo e tende a piorar com a confirmação de uma “segunda
onda” de contaminações e mortes lá fora e o risco de que a pandemia se torne
ainda mais grave também no País. Os estrangeiros investiram por aqui em torno
de US$ 1,793 bilhão no mês passado, segundo acompanhamento mensal realizado
pelo Banco Central (BC), o que significou um tombo de 78,2% em relação a
outubro do ano passado. Naquele mês, o investimento direto havia somado US$
8,221 bilhão. Na série histórica do BC, foi o pior mês de outubro em 11 anos.
Em outubro de 2009, o investimento direto havia somado US$ 1,765 bilhão.

Entre
janeiro e outubro, o País deixou de receber US$ 25,701 bilhões em investimentos
externos, quando se considera que o total investido desabou de US$ 57,615
bilhões para US$ 31,914 bilhões, num tombo de 44,6%. Os números reais podem ser
ainda piores, se forem desconsideradas as operações realizadas entre companhias
de um mesmo grupo econômico (por exemplo, entre a matriz de multinacionais no
exterior e suas subsidiárias ou “filiais” no Brasil).

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Considerando
apenas investimentos em participação no capital, a queda em 10 meses
aproximou-se de 57,5%, com os valores investidos recuando de US$ 59,476 bilhões
no ano passado para US$ 25,292 bilhões, o que correspondeu a uma retração de
US$ 34,184 bilhões. Mesmo neste caso, o investimento realizado nem sempre
corresponde à criação de capacidade nova de produção, quer dizer, à ampliação
de fábricas, compra de novas máquinas e equipamentos, construção de novas
instalações e novas unidades de produção. Parte dos recursos podem ter sido
aplicados simplesmente na compra de outras empresas, sem que isso represente
aumento na capacidade de produção do parque industrial instalado no País.

O
efeito pandemia

Tudo
considerado – e conforme já se poderia mesmo esperar –, o tombo no investimento
externo ficou concentrado nos meses da pandemia. Entre abril e outubro, o
investimento direto no País despencou de US$ 44,568 bilhões em 2019 para US$
19,294 bilhões neste ano, numa perda de US$ 25,274 bilhões (ou 56,71% a menos).
O investimento em participação no capital encolheu de US$ 49,541 bilhões para
US$ 17,715 bilhões, numa queda de 64,24% (ou US$ 31,826 bilhões a menos). As
perdas na soma geral foram levemente menos graves porque, em 2019, as
subsidiárias de empresas estrangeiras “devolveram” a suas matrizes no exterior
qualquer coisa ao redor de US$ 4,974 bilhões. Esses dólares saíram do País para
reforçar o fluxo de caixa das multinacionais. Neste ano, entre abril e outubro,
as matrizes destinaram a suas filiais brasileiras perto de US$ 1,579 bilhão,
contabilizados como investimento pelo BC.

Balanço

·  
A
queda no investimento não tem sido, de qualquer forma, um problema mais sério
sob o ponto de vista das contas externas. A tendência de queda vertical
complica o cenário doméstico, limitando ainda mais as possibilidades de uma
retomada do investimento em geral. Mas os valores registrados entre janeiro e
outubro deste ano já seriam suficientes para compensar em mais de quatro vezes
o déficit acumulado na conta de transações correntes.

·  
Como
visto, o investimento aproximou-se de US$ 31,9 bilhões e, a despeito da
retração vigorosa em relação ao ano passado, superou por larga diferença o
déficit de US$ 7,588 bilhões acumulado no período naquela conta, que resume as
relações do País com o restante do mundo.

·  
Nos
primeiros 10 meses do ano passado, o investimento de US$ 57,615 bilhões foi
34,2% maior do que o rombo em transações correntes, que havia atingido US$
42,938 bilhões.

·  
A
melhora nessa relação veio por conta da queda radical no déficit, resultado,
por sua vez, da crise instalada na economia desde a chegada do novo coronavírus
ao País. Os números acumulados entre janeiro e outubro deste ano, comparados
aos do mesmo período de 2019, mostram uma redução de 82,3%.

·  
Entre
abril e outubro, os sinais na conta de transações correntes foram trocados
literalmente, com o País saindo de um rombo de US$ 30,388 bilhões para um
superávit de US$ 10,531 bilhões. Ou seja, entre um período e outro, a conta
registrou uma melhora equivalente a US$ 40,919 bilhões.

·  
A
forte queda nas importações de bens mais do que compensou a redução nas
exportações, fazendo o saldo na balança comercial do País saltar 55,8% na
comparação entre abril a outubro deste ano com igual intervalo de 2019. Em
valores, nas contas do BC, que diferem das estatísticas da Secretaria de
Comércio Exterior (Secex), o superávit comercial cresceu quase US$ 13,940
bilhões entre os dois períodos, saindo de US$ 24,998 bilhões para US$ 38,936
bilhões.

·  
Nos
10 meses iniciais deste ano, o crescimento ficou em 27,8%, com o superávit na
balança de bens e mercadorias (exportações menos importações) passando de US$
32,496 bilhões em 2019 para US$ 41,540 bilhões neste ano.

·  
As
medidas de afastamento adotadas em literalmente todo o mundo e ainda a alta do
dólar, que tornou não apenas os bens, mas também os serviços importados muito
mais caros, contribuíram para derrubar o déficit do País na conta de serviços.
Nos 10 meses iniciais deste ano, a conta ficou negativa em US$ 17,045 bilhões,
diante do déficit de US$ 29,246 bilhões no ano passado, resultando numa queda
de 41,7%.

·  
A
crise afetou o desempenho das empresas e os resultados no mercado financeiro, o
que derrubou as remessas de lucros e dividendos de US$ 26,180 bilhões em 2019
para US$ 16,494 bilhões neste ano, sempre nos 10 meses iniciais de cada
exercício. A redução foi de 37,0%, o que significou um corte de US$ 9,686
bilhões nas remessas.

 

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