Quinta-feira, 28 de março de 2024

Salvar vidas ou a economia? O falso dilema no qual se afunda o desgoverno

Confira a coluna Econômica, por Lauro Veiga, desta Quinta-feira (8/4) | Foto: Reprodução

Postado em: 08-04-2021 às 07h45
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Salvar vidas ou a economia? O falso dilema no qual se afunda o desgoverno
Confira a coluna Econômica, por Lauro Veiga, desta Quinta-feira (8/4) | Foto: Reprodução

Lauro Veiga 

A
combinação de políticas econômicas destinadas a socorrer as famílias mais
vulneráveis e a preservar empresas e empregos com medidas sanitárias rigorosas
contra o Sars-CoV-2 mostrou-se, ao longo do ano passado, a mais eficiente para
evitar um desastre sanitário e econômico ainda mais severo. Ao escolher “políticas
de distanciamento social, de garantia de equipamentos de saúde e medicamentos,
e do uso adequado de máscaras” e ainda medidas de estímulo fiscal, os governos
de 45 países conseguiram atenuar a recessão de forma importante, evitando uma
calamidade ainda mais severa, mostram os economistas Rodrigo Toneto, Matias Cardomingoe
Laura Carvalho, do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made)
da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP).

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A
Nota de Política Econômica nº 009 do Made, sob o título “Salvando vidas e a
economia: a importância dos gastos públicos na crise causada pela Covid-19”, aponta
que o forte aumento das despesas dos governos contribuiu para que o tombo na
economia fosse amenizado e, adicionalmente, permitiu que fossem adotadas
medidas sanitárias adequadas, de forma a preservar vidas. “Marcado desde o
início pelo falso dilema entre salvar vidas ou salvar a economia, o debate
acerca da resposta mais adequada dos governos à crise sanitária avançou ao
redor do mundo em direção a uma combinação entre políticas de saúde e medidas
econômicas voltadas à preservação da renda das famílias e à sobrevivência das
empresas”, sustenta o trabalho.

Genocídio
programado

De
fato, a oposição entre vidas e saúde, de um lado, e economia e empregos, de
outro, foi construída para justificar políticas genocidas e camuflar a
inapetência criminosa do desgoverno de plantão no País e de sua equipe
econômica. O trabalho produzido por Toneto, Cardomingo e Carvalho sustenta, neste
sentido, que o “potencial impacto negativo de curto prazo sobre o Produto
Interno Bruto (PIB), resultado do necessário distanciamento social e restrições
sobre a produção (diminuição da presença nos locais de trabalho), pôde ser mais
do que compensado por uma política fiscal ativa e um comprometimento dos
gestores públicos com políticas de saúde”. Claramente, uma escolha não exclui a
outra. Antes, medidas sanitárias e na área da economia são complementares e
imprescindíveis.

Balanço

Um
dado jamais entendido pelo ministro Paulo Guedes, da Economia, e sua trupe está
na relação direta entre o pagamento do auxílio emergencial às famílias e o
apoio às empresas e o desempenho da economia, a própria arrecadação de impostos
e seus efeitos sobre o endividamento do setor público.

Trabalho
anterior do Made sugere que o PIB brasileiro poderia ter mergulhado numa queda
de 8,4% a 14,8% em 2020 caso não houvesse o auxílio emergencial. O resultado
desse tombo seria uma dívida pública líquida ainda mais elevada. A estimativa
considera uma relação entre dívida líquida e PIB perto de três pontos de
porcentagem mais alta. No ano passado, essa relação havia alcançado 62,7% e
poderia estar, àquela altura, em quase 66,0%.

A
nota mais recente, divulgada há pouco mais de uma semana pela equipe da USP, recorre
a dados aferidos pelo Índice Semanal da atividade econômica da OCDE
(Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e da plataforma
Oxford Covid-19 Government Response Tracker (OxCGRT) para fazer suas projeções.
E estima, por exemplo, que “aumentos de 1% do gasto público em relação ao PIB
promoveram um aumento do índice semanal da atividade econômica da OCDE de entre
1,9% e 2,1% em relação ao seu valor inicial”.

Mais
claramente, a cada R$ 100 de despesas realizadas a mais, a economia respondeu
com uma geração de renda equivalente a R$ 190 ou R$ 210. De certa forma, o
crescimento gerado acabou igualmente elevando a arrecadação de impostos ou
impedindo uma retração mais vigorosa das receitas, o que compensou parcialmente
o aumento nos gastos. “Em outros termos, podemos dizer que há uma elasticidade
estímulo fiscal das previsões de crescimento de aproximadamente 2,1”, anota o
trabalho.

Nos
Estados Unidos, que acabam de anunciar um ambicioso pacote de US$ 4,0 trilhões
para sustentar a atividade e reestruturar a economia, o trabalho mostra que “a
adesão ao distanciamento também esteve diretamente relacionada ao recebimento
de benefícios” pelas famílias e pelas empresas. Apenas a aprovação do
CoronavirusAid, Relief, andEconomic Security Act(CARESAct) injetou US$ 2,0
trilhões na economia norte-americana no ano passado.

Toneto,
Cardomingo e Carvalho mencionam ainda estudo da Consultoria Prospectiva,
mostrando “uma relação positiva entre estímulos econômicos e atenuação da
crise” para um conjunto de países da América Latina. Mas também “indica que
países mais atingidos pela pandemia – com mais mortes por milhão de habitantes
– tiveram seu desempenho econômico mais prejudicado”. Mais claramente, onde o
combate à pandemia foi menos efetivo, as perdas econômicas e em vidas foram
mais substanciais.

A
prevalência do negacionismo no centro mesmo do poder e a ausência de medidas de
compensação à altura do colapso desenhado para o primeiro semestre deste ano,
afirmam eles, preocupam e tendem a determinar um “desempenho relativo pior
(para a economia) em 2021”.

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