Coluna

Em volume, PIB do agronegócio recuou 0,49% nos primeiros 10 meses de 2019

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 24 de janeiro de 2020

Depois de enfrentar queda e resultados destacadamente tímidos ao longo do primeiro semestre do ano passado, a pecuária engrenou marcha mais forte a partir de julho e tende a apresentar em 2019 o melhor desempenho desde 2013, mais do que repondo as perdas de renda observadas no ano imediatamente anterior. A despeito do bom desempenho do setor, influenciado largamente pelo avanço da pecuária bovina (favorecida, por sua vez, pelo salto nas exportações, sob liderança chinesa), o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio apenas levemente positivo no acumulado dos 10 primeiros meses do ano passado, no conceito de renda (que considera as variações de volume e de preço). Medido em volume, no entanto, a contribuição do agronegócio para a formação do PIB total do País continuava negativa.

Apurado em parceria pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), o “PIB renda”, na denominação definida pelo centro, apresentou crescimento de 1,15% na comparação com o acumulado entre janeiro e outubro de 2018. O setor agrícola como um todo sofreu retração de 3,24%, influenciada pelo tombo de 13,79% no segmento primário (da porteira para dentro), enquanto a pecuária registrou alta de 13,09%, depois de encolher 10,91% em 2018 e 6,01% em 2017. Na série histórica do Cepea, o PIB agrícola caiu 5,31% em 2017 (devolvendo quase metade do crescimento de 10,62% anotado em 2016) e havia conseguido reagir em 2018, com elevação de 4,60%.

Ainda “da porteira para dentro”, os resultados da parte agrícola do agronegócio sofreram influência negativa da redução nos preços de produtos importantes, a exemplo do milho (-3,45%), da soja (-7,78%), do algodão (-17,35%), do café (-9,94%) e também da mandioca (-34,84%). A forte retração observada no segmento primário foi parcialmente compensada pelo salto de 9,10% no setor de insumos (defensivos, adubos, fertilizantes e máquinas agrícolas). A agroindústria de base agrícola registrou variação positiva de 0,65%, refletindo avanços nas indústrias de conservas e de etanol, enquanto o setor de serviços associados à agricultura anotou perda de 1,86%.

Continua após a publicidade

Imagem invertida

O retrato do setor pecuário mostra quase uma imagem invertida quando comparada àquela capturada pelo Cepea ao avaliar o ramo agrícola do agronegócio. Aqui, o segmento de insumos apresentou o menor incremento no acumulado entre janeiro e outubro do ano passado, com avanço de 3,17% em relação a igual intervalo de 2018.O PIB pecuário no segmento primário, por sua vez, anotou crescimento de 13,94%, com alta de 11,54% para a indústria de base pecuária (com destaque para a produção de carnes de forma geral, impulsionada pelas exportações, que levaram a um salto de 11,6% no faturamento do setor de abate de animais e preparação de carnes e pescado). Os serviços ligados à pecuária registraram o melhor desempenho, num avanço de 14,65%.

Balanço

·  Quando observada a mesma metodologia incorporada ao cálculo do PIB brasileiro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que retrata variações de volume na produção, o agronegócio acumulava até outubro uma perda de 0,49% na taxa anual aferida até outubro. Aqui, a contribuição do setor agrícola manteve-se negativa, diante de uma retração de 1,48%, enquanto a pecuária avançou 2,26%.

·   Como o cenário para o setor agrícola não deve ter apresentado mudanças nos últimos dois meses de 2019, em relação ao comportamento observado nos meses anteriores, e levando-se em conta ainda a entressafra na produção, a perspectiva de uma contribuição negativa do agronegócio para o PIB total parecia até ali a mais realista.

·   No caso da pecuária, mesmo diante do crescimento vigoroso das exportações nos últimos meses do ano passado, a produção de gado de corte, por exemplo, não registrava espaços para crescimento. Ao contrário. A falta de animais para abate havia feito os preços da arroba do boi gordo entrar em disparada. O faturamento do setor, medido no conceito renda tradicionalmente adotado pelo Cepea, ainda deverá apresentar crescimento, mas os volumes produzidos não deverão acompanhar esse ritmo.

·   As exportações brasileiras de carnes aumentaram 5,83% no ano passado, saindo de 6,581 milhões para 6,964 milhões de toneladas, das quais em torno de 30,1% foram destinadas à China e Hong Kong, o que se compara a 26,9% em 2018. Na comparação com 2018, os embarques para ambos mercados aumentaram 18,5% (de 1,768 milhão para 2,095 milhões de toneladas). A cada 100 toneladas acrescidas às vendas externas ao longo de 2019, em torno de 85,4 toneladas tiveram aqueles dois mercados como destino.

·   China e Hong Kong responderam ainda por todo o crescimento das exportações brasileiras de carne de frango e por 91,50% do aumento registrado pelas vendas de carne suína. No caso das exportações de carne bovina, a contribuição foi de 58,5%. As vendas de suínos foram destaque, com alta de 29,2%. Na sequência, os embarques de frangos aumentaram 17,3% e de carne bovina mais 16,7%.